Rui Moreira e Isaltino Morais, presidentes de duas das maiores câmaras do país (Porto e Oeiras), defendem a importância de se criar mais habitação pública para ajudar uma fatia da população que não consegue encontrar casa
Há “uma trincheira” da população cujas dificuldades económicas não lhes permite encontrar casa. Quem o diz é Rui Moreira, o presidente da Câmara Municipal do Porto, que defende que o poder político deve criar mais a habitação pública e “não interferir no resto”.
“Há um enorme problema: há uma camada da população que encontrava solução no mercado e hoje não consegue. É classe média”, afirmou o autarca do Porto, na Portugal Habita, a CNN Portugal Summit no âmbito do SIL (Salão Imobiliário de Lisboa). “Temos um problema, que os mais ricos que já têm casa já o resolveram. Depois existem os mais desfavorecidos - que no Porto vão tendo o problema mais ou menos resolvido. E depois há uma trincheira com dificuldades económicas para encontrar casa."
Para Rui Moreira, a solução passa por um maior investimento do Estado na criação de habitação pública. “Precisamos de mais habitação pública e de não interferir no resto, não mexer no mercado. Sempre que se tentou congelar as rendas correu mal, é uma questão ideológica”, avisa.
Também Isaltino Morais, presidente da Câmara de Oeiras e parceiro de painel, é um grande defensor da habitação pública. “O problema da habitação pública é determinante para resolver os problemas das famílias que precisam de casas - as mais pobres e a classe média-baixa, mas também para regular o mercado”, diz.
Isaltino Morais deixa ainda um aviso: a situação da habitação no país “não se vai inverter”. Pelo contrário: “nos próximos anos o preço das casas em Portugal vai continuar a subir em exponencial”. “Digo desde 2011 que vamos ter barracas nas grandes metrópoles. As barracas já estão aí e os municípios não têm a autoridade que tinham há 20 ou 30 anos”, garante.
Houve ainda tempo para abordar o pacote Mais Habitação do Governo de António Costa, que, segundo Rui Moreira, foi “forrado a papel ideológico que tem de ser retirado”. “Parece que os senhorios são o inimigo público número um e isso não faz muito sentido. Tudo o que foi feito foi para dizer que o proprietário vai ter de ter ônus social a disponibilizar habitação. Se avançarmos por aí não temos mercado”, afirmou, aludindo ao regime Salazarista, em que o proprietário “não pode usar o ativo como quer”.
Para Isaltino Morais, o Mais Habitação tem “coisas boas, más e pura demagogia”. Exemplo deste último dizer ser o arrependimento coercivo apresentado pelo Governo como parte da solução para fazer face à crise habitacional: “Estava-se a ver que era uma medida para encher o olho. As medidas em relação ao arrendamento só vieram criar instabilidade”.