Se é um íman para insetos, então não beba cerveja nem use vermelho (estas e outras dicas para evitar picadas este verão)

28 ago 2023, 22:00
Mosquito (Pexels)

VERÃO CNN || Durante o mês de agosto, todas as segundas, quartas e sextas-feiras, publicamos dicas para ajudar nas suas férias

Para muitas pessoas, a chegada do calor significa que o seu corpo está prestes a tornar-se palco de toda uma performance não desejada de mosquitos e insetos, que atuam sem aviso prévio e deixam marcas que, em alguns casos, podem ser fatais. E a tendência é que a temporada das picadas comece a surgir logo nas primeiras subidas de temperatura.

Os insetos andam um bocadinho mais alterados, isto das alterações climatéricas altera-lhes o comportamento”, começa por dizer Alice Coimbra, imunoalergologista da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica.

A médica admite que tem notado um aumento de pessoas a chegar à consulta com queixas após serem picadas. “Dos insetos normais, como mosquitos, as queixas têm vindo a aumentar”, mas esta tendência é também notória no que diz respeito a abelhas e vespas, dizendo que “houve um aumento” das picadas e das queixas, sobretudo a partir de 2011 no caso da vespa velutina (vespa asiática).

Para a médica, mesmo que as picadas por cá sejam mais inofensivas do que se acontecerem noutros países, onde o risco de doenças como Malária, Dengue e Zika é consideravelmente grande, o uso de repelentes é sempre uma opção. E quanto às pulseiras que se vendem em farmácias e parafarmácias, o melhor é não gastar dinheiro. “Desconheço se são práticas ou não, nunca vi nenhum estudo que comprove”.

Se faz parte do leque de pessoas que todos os anos sofre com picadas atrás de picadas, então vai querer ler este artigo e perceber que não está sozinho. E tem aqui tudo o que precisa de saber.

Há, de facto, pessoas mais propensas a picadas?

Sim. E o odor corporal é um dos principais fatores, como revela um estudo recentemente publicado na revista científica Current Biology. “Pode haver uma variedade de fatores que podem influenciar a composição do seu perfume [corporal]”, diz à CNN Internacional Conor McMeniman, professor assistente de microbiologia molecular e imunologia na Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg e no Instituto de Pesquisa da Malária Johns Hopkins em Baltimore. 

“Se alguém tiver um elevado nível de certos químicos [produzidos pelo corpo e ligados ao cheiro], essa pessoa vai ser a vítima de todas as picadas”, diz a neurobióloga Leslie Vosshall, autora de um outro estudo sobre o tema, este publicado na revista científica Cell e que reforça o poder do odor corporal na atração que os mosquitos sentem por algumas pessoas. Já uma equipa de cientistas coordenada por Matthew DeGennaro, da Universidade Internacional da Flórida, nos EUA, identificou um recetor de odor único, conhecido como recetor inotrópico 8a (IR8a), que permite ao mosquito Aedes aegypti (vetor transmissor de doenças como a febre-amarela) detetar o ácido láctico.

Entre os fatores que podem interferir com o odor corporal da pessoa está a dieta, a genética e a fisiologia. “Tudo isto pode influenciar os tipos de moléculas emitidas pelo corpo humano e também influenciar a composição do microbioma que vive naturalmente na nossa pele”, explica McMeniman.

Mas há outros fatores em jogo: alguns mosquitos “procuram primeiro as pessoas mais altas e mais volumosas e as mulheres grávidas”, como se lê no site dos Lusíadas. E há também espécies, como o mosquito-tigre-asiático (Aedes albopictus), que têm preferência pelo tipo sanguíneo, mais concretamente pelo tipo O, como revela um estudo publicado na revista Journal of Medical Entomology, como cita a publicação.

Há ainda estudos que indicam que as pessoas que bebem cerveja têm maior probabilidade de serem picadas e outros que dizem que vestir algumas cores, incluindo o vermelho, podem tornar a pessoa mais “atraente” para os mosquitos, diz a CNN Internacional.

O que fazer para prevenir a picada no exterior?

Em primeiro lugar, há que avaliar o local para onde vai passear, devendo, por exemplo, evitar espaços com ervas altas ou zonas com águas paradas. Mas é o uso de repelentes o escudo protetor mais eficaz e, “sim, faz sentido usar cá”, mesmo que as picadas de insetos sejam menos “problemáticas”, diz a médica Alice Coimbra.

Além do uso e da reaplicação do repelente nas áreas do corpo mais expostas, incluindo o rosto (mas não os olhos e nariz), reaplicação que deve acontecer de quatro em quatro horas em ambientes tropicais, o Instituto de Higiene e Medicina Tropical aconselha ainda a usar “vestuário de cores claras e de fibras naturais, protegendo o mais possível a superfície do corpo”, podendo as calças e o calçado fechado ser boas apostas. 

“Para proteção adicional, regra geral, pode aplicar repelente ou inseticida como permetrina ou deltametrina no vestuário”, lê-se no site. Já “a suplementação com vitamina B ou outros dispositivos com ultrassons não previnem a picada de insetos”, adverte a Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante.

E como prevenir ser picado em casa?

Isolar a entrada de mosquitos é determinante, podendo as redes mosquiteiras que se colocam nas janelas ser o primeiro passo de todos. Mas longe de ser o único. “Na sua acomodação, use ar condicionado, sprays inseticidas ou difusores elétricos ou serpentinas, e/ou durma sob um mosquiteiro (de preferência impregnado com inseticida como a permetrina ou a deltametrina)”, diz o Instituto de Higiene e Medicina Tropical. Mas uma vez que “alguns mosquitos de pequenas dimensões” podem passar através da rede, deve-se “impregnar a rede com inseticida”, acrescenta a Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante, que diz ainda que “as redes mosquiteiras que tenham incorporadas repelente têm uma duração de três a cinco anos e têm uma eficácia superior às redes que necessitem de reimpregnação”.

Como escolher o repelente?

Segundo o Instituto de Higiene e Medicina Tropical, o repelente para adultos deve conter DEET, o composto químico que serve como repelente de insetos, na ordem dos 20-35%, ou ter na sua formulação IR3535 (butilacetilaminopropionato de etila) ou “Icaridina/Bayrepel 20%”. Já no caso das crianças, é aconselhado “DEET 10% ou Icaridina/Bayrepel 10%”. O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) recomenda ainda o óleo de eucalipto limão (OLE) na formulação do repelente.

Independentemente da idade, a aplicação de repelente deve ser feita depois da aplicação do protetor solar. Para a roupa, “as formulações com elevadas concentrações (100%)” são as mais indicadas diz a Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante.

Porque é que só sentimos comichão algum tempo depois de sermos picados?

Segundo Conor McMeniman, antes de o mosquito picar a pele cospe no corpo humano “todo um cocktail de diferentes proteínas” que atuam como analgésicos e anticoagulantes, limitando a sensação de comichão ou até o ardor. A comichão e o desconforto da picada surgem quando o efeito analgésico passa e é resultado da resposta inflamatória do nosso corpo aos compostos químicos libertados pelo mosquito.

E depois da picada, o que fazer?

Em primeiro lugar, o que não fazer: coçar. “Não se coce” é o conselho que a maioria dos especialistas e profissionais da área da saúde dão. Por mais complicado e irrealista que isso possa soar, coçar-se inflama a pele. Por sua vez, a inflamação faz com que esta fique mais irritada. 

“Coçar pode causar infeções secundárias e pode prolongar a irritação”, alerta Daniel Markowski, consultor técnico da Associação Americana para o Controlo de Mosquitos, acrescentando que, em casos extremos, o facto de uma pessoa se coçar pode deixar cicatrizes na pele.

Assim que se dá conta da picada, há que lavar a zona afetada, desinfetar e aplicar gelo, aconselha Alice Coimbra. “Água e sabão à moda antiga continua a funcionar”, garante. “Se for uma reação local, pode aplicar pomadas de venda livre, se tiver muita comichão pode tomar um anti-histamínico, preferencialmente não sedativo”. 

Quando é que uma picada de mosquito deve ser um motivo de preocupação?

À partida, as picadas de inseto são inofensivas, ainda assim, importa estar atento a alguns sinais que o corpo possa dar. A médica Alice Coimbra sugere uma maior “vigilância”, sobretudo se a zona do corpo picada “inchar mais, se está a ficar com aspeto de infeção”. “Muitos destes insetos não são limpos e nestes casos as pessoas vão precisar de ajuda médica para vigiar, dar um antibiótico”, esclarece. Importa ainda prestar atenção quando se sofre de “múltiplas picadas”, podendo o inchaço ser maior e o desconforto pior.

Para Alice Coimbra deve também ser um motivo de preocupação se a picada despoletar “sintomas sistémicos”, e passa a explicar: “para além do sítio da picada, se a reação aparecer fora do local da picada, se tiver outro tipo de sintomas, como falta de ar ou se vomitar” deve procurar um médico.

No caso de picadas por himenópteros, como abelhas e vespas, uma reação mais grave “pode ser mais comum” e também nestes casos importa procurar um profissional, pois pode ser necessário “fazer testes dos vários tipos de vespas e abelhas para ponderar a imunoterapia com veneno se documentar alergia”, que é como quem diz, a administração de uma vacina.

Em alguns casos, além deste tratamento SOS, é dado às pessoas “um kit de emergência, com um anti-histamínico e corticoides para o inchaço”, já “nos casos de alergia mais grave” pode ser também necessário a pessoa passar a ser portadora “de uma caneta de adrenalina, um auto injetor”.

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