Pedro Barbosa escreve sobre as opções de Jorge Paixão, Jorge Costa e Paulo Fonseca, na jornada. E tem um desejo para o jogo da seleção frente aos Camarões
A vida do treinador é feita constantemente de escolhas e decisões.Os treinadores vivem sob o escrutínio diário de milhares de pessoas, uma avaliação constante que será maior consoante o patamar em que se encontrarem.
Como vai treinar, qual o modelo de jogo a implementar, qual a estratégia a utilizar e quais os jogadores que coloca em campo. Estas são apenas algumas escolhas e decisões que os treinadores têm de assumir.
Quase ninguém vê o trabalho semanal e por isso normalmente não se sabe quem vai jogar. Existe uma ideia que só se torna visível quando a equipa sobe ao relvado e se conhece o onze, quem fica no banco de suplentes e quem fica de fora. E aqui entra o adepto e treinador de bancada.
Para uns as escolhas são correctas, para outros as opções podiam ser diferentes. Em certos casos o desacordo é constante.
Tudo se sabe mas nunca têm de decidir.
É esta vivência que faz do futebol um desporto apaixonante, por vezes em demasia, e que em muitas ocasiões tem o treinador como foco.
Quanto maior é a exigência e a visibilidade maior será a cobrança.
Este fim de semana viveram-se várias situações. Analiso apenas três diferentes decisões dos treinadores
A forma como os treinadores mexem a partir do banco difere de jogo para jogo e muitas vezes é também aí que se ganham, empatam e perdem jogos.
A I Liga estreou mais um treinador e logo num grande teste. Jorge Paixão
O onze que colocou e a forma como jogava indicava isso e o espectáculo ganhava com isso. Marcou e tudo corria bem. Mas estar no banco não é só esperar que o jogo passe e acabe. É estar ao atento ao comportamento individual e colectivo da sua equipa, é perceber o adversário, o que pode explorar e onde tem de reforçar.
A dinâmica do jogo obriga a um pensamento constante e à tomada das melhores decisões.
E na bancada também percebem. O jogador A não está a render, tem de sair, o treinador não percebe que se não tirar o jogador B vai ser expulso, «tira aquele que não está a fazer nada».
Estas e muitas outras afirmações são ouvidas nos estádios de futebol mas no fim da linha quem tem de decidir e assumir os riscos inerentes às suas decisões é o treinador. Será réu ou herói mas esse é o seu trabalho e tem de estar preparado para isso. Jorge Paixão, estava a ganhar em Alvalade e perante o que via, decidiu fazer uma substituição. Perante a entrada de Capel, não quis arriscar um segundo amarelo para Tomas Dabó
Entrou Sasso
A verdade é que Sasso, três minutos depois de ter entrado, faz uma falta na área. Penalty, golo do empate e quatro minutos depois surge o segundo golo do Sporting. O resultado não mais foi alterado.
A discussão centra-se na opção tomada. Fez bem ou mal? Faria novamente? O resultado seria o mesmo sem a alteração? Jorge Paixão acreditou que aquela era a melhor opção e não quis ficar à espera para ver o que podia acontecer. Agiu em vez de reagir e no futebol não há que ter medo de tomar opções. Não saiu bem desta vez mas sairá bem em outra altura. Está no inicio e serão as suas inúmeras decisões que vão decidir o seu futuro imediato. Para já, como referiu no final, apesar da derrota ganhou uma equipa. Veremos o comportamento daqui para a frente.
Em Paços de Ferreira, o terceiro treinador da época apresentava-se frente ao Marítimo. Jorge Costa
E assim parecia acontecer neste jogo. A perder ao intervalo, assistia-se a mais do mesmo. Mas tudo se alterou com a entrada de Minhoca
O Paços ganhou não só com a decisão da entrada de Minhoca mas com a equipa a acreditar que é capaz de sair da situação. Será Jorge Costa a pessoa certa? A aposta para já revela-se acertada e as decisões também mas faltam nove jogos e ainda muitas decisões para tomar.
Para já temos duas situações com decisões diferentes. Uma decisão a ganhar e o resultado inverteu-se, uma outra que a perder, conseguiu dar a volta.
A terceira tem a ver com o jogo do Porto e as decisões de Paulo Fonseca
Após estar a vencer por dois golos de diferença, sofreu o empate mas ainda havia tempo (40 minutos) para jogar e alterar a situação. Entrou Varela, depois Jackson (limitado) e por último Quintero. Mas nenhum deles conseguiu alterar, nem ter a capacidade para arrastar consigo a equipa atrás na procura da vitória.
Paulo Fonseca usou as armas que tinha ao seu dispor, mas a resposta não foi a esperada. É responsável pelo resultado e a forma como aconteceu? Sim, o treinador enquanto líder responde pelo sucesso e insucesso, mas a verdade é que as decisões inicialmente tomadas foram as melhores e o resultado apareceu.
O que leva então uma equipa a sofrer dois golos e a hipotecar seriamente a luta pelo título? A reacção do adversário, falta de concentração, sensação de que bastava controlar? São factores sobre os quais o treinador também deve intervir. Mas a equipa tem de ser capaz de perceber que, por vezes, quando é preciso voltar outra vez ao jogo tal já não é possível. Os jogos duram 90 minutos, é a lição.
P.S. – Grande jogo de William Carvalho