Os treinadores, as decisões e os resultados

4 mar 2014, 10:53
Pedro Barbosa

Pedro Barbosa escreve sobre as opções de Jorge Paixão, Jorge Costa e Paulo Fonseca, na jornada. E tem um desejo para o jogo da seleção frente aos Camarões

A vida do treinador é feita constantemente de escolhas e decisões.

Os treinadores vivem sob o escrutínio diário de milhares de pessoas, uma avaliação constante que será maior consoante o patamar em que se encontrarem.

Como vai treinar, qual o modelo de jogo a implementar, qual a estratégia a utilizar e quais os jogadores que coloca em campo. Estas são apenas algumas escolhas e decisões que os treinadores têm de assumir.

Quase ninguém vê o trabalho semanal e por isso normalmente não se sabe quem vai jogar. Existe uma ideia que só se torna visível quando a equipa sobe ao relvado e se conhece o onze, quem fica no banco de suplentes e quem fica de fora. E aqui entra o adepto e treinador de bancada.

Para uns as escolhas são correctas, para outros as opções podiam ser diferentes. Em certos casos o desacordo é constante.

Tudo se sabe mas nunca têm de decidir.

É esta vivência que faz do futebol um desporto apaixonante, por vezes em demasia, e que em muitas ocasiões tem o treinador como foco.

Quanto maior é a exigência e a visibilidade maior será a cobrança.


Este fim de semana viveram-se várias situações. Analiso apenas três diferentes decisões dos treinadores
perante distintos cenários e resultados.

A forma como os treinadores mexem a partir do banco difere de jogo para jogo e muitas vezes é também aí que se ganham, empatam e perdem jogos.

A I Liga estreou mais um treinador e logo num grande teste. Jorge Paixão
chegou a Braga desconhecido e com um discurso ambicioso mas sabe que serão os resultados a marcar a sua afirmação. Com pouco tempo para preparar a equipa, foi para Alvalade com o objectivo de jogar sem medo.

O onze que colocou e a forma como jogava indicava isso e o espectáculo ganhava com isso. Marcou e tudo corria bem. Mas estar no banco não é só esperar que o jogo passe e acabe. É estar ao atento ao comportamento individual e colectivo da sua equipa, é perceber o adversário, o que pode explorar e onde tem de reforçar.

A dinâmica do jogo obriga a um pensamento constante e à tomada das melhores decisões.

E na bancada também percebem. O jogador A não está a render, tem de sair, o treinador não percebe que se não tirar o jogador B vai ser expulso, «tira aquele que não está a fazer nada».

Estas e muitas outras afirmações são ouvidas nos estádios de futebol mas no fim da linha quem tem de decidir e assumir os riscos inerentes às suas decisões é o treinador. Será réu ou herói mas esse é o seu trabalho e tem de estar preparado para isso. Jorge Paixão, estava a ganhar em Alvalade e perante o que via, decidiu fazer uma substituição. Perante a entrada de Capel, não quis arriscar um segundo amarelo para Tomas Dabó
(levou o primeiro aos 53 minutos) e a possibilidade ficar a jogar com dez.

Entrou Sasso
, central de origem que foi ocupar o lugar de lateral esquerdo. Baiano
regressou à posição natural de lateral direito. Tudo bem feito e pensado mas faltavam ainda 22 minutos.

A verdade é que Sasso, três minutos depois de ter entrado, faz uma falta na área. Penalty, golo do empate e quatro minutos depois surge o segundo golo do Sporting. O resultado não mais foi alterado.

A discussão centra-se na opção tomada. Fez bem ou mal? Faria novamente? O resultado seria o mesmo sem a alteração? Jorge Paixão acreditou que aquela era a melhor opção e não quis ficar à espera para ver o que podia acontecer. Agiu em vez de reagir e no futebol não há que ter medo de tomar opções. Não saiu bem desta vez mas sairá bem em outra altura. Está no inicio e serão as suas inúmeras decisões que vão decidir o seu futuro imediato. Para já, como referiu no final, apesar da derrota ganhou uma equipa. Veremos o comportamento daqui para a frente.

Em Paços de Ferreira, o terceiro treinador da época apresentava-se frente ao Marítimo. Jorge Costa
foi contratado para dez jogos e para manter o Paços na Liga maior. Primeira decisão do Jorge foi publicamente reforçar a qualidade da equipa e a necessidade de recuperar a confiança. Eles têm qualidade, por isso é demonstrar no relvado, sabendo que não é fácil neste tipo de situações. Quando tudo corre mal, por vezes é difícil dar a volta.

E assim parecia acontecer neste jogo. A perder ao intervalo, assistia-se a mais do mesmo. Mas tudo se alterou com a entrada de Minhoca
e, imagino eu, com o discurso ao intervalo de confiança, de motivação, de acreditar que Jorge Costa fez. Não sei se foi isto que aconteceu, mas a equipa mudou e o empate surgiu e a reviravolta aconteceu.

O Paços ganhou não só com a decisão da entrada de Minhoca mas com a equipa a acreditar que é capaz de sair da situação. Será Jorge Costa a pessoa certa? A aposta para já revela-se acertada e as decisões também mas faltam nove jogos e ainda muitas decisões para tomar.

Para já temos duas situações com decisões diferentes. Uma decisão a ganhar e o resultado inverteu-se, uma outra que a perder, conseguiu dar a volta.

A terceira tem a ver com o jogo do Porto e as decisões de Paulo Fonseca
, sem resultado prático.

Após estar a vencer por dois golos de diferença, sofreu o empate mas ainda havia tempo (40 minutos) para jogar e alterar a situação. Entrou Varela, depois Jackson (limitado) e por último Quintero. Mas nenhum deles conseguiu alterar, nem ter a capacidade para arrastar consigo a equipa atrás na procura da vitória.

Paulo Fonseca usou as armas que tinha ao seu dispor, mas a resposta não foi a esperada. É responsável pelo resultado e a forma como aconteceu? Sim, o treinador enquanto líder responde pelo sucesso e insucesso, mas a verdade é que as decisões inicialmente tomadas foram as melhores e o resultado apareceu.

O que leva então uma equipa a sofrer dois golos e a hipotecar seriamente a luta pelo título? A reacção do adversário, falta de concentração, sensação de que bastava controlar? São factores sobre os quais o treinador também deve intervir. Mas a equipa tem de ser capaz de perceber que, por vezes, quando é preciso voltar outra vez ao jogo tal já não é possível. Os jogos duram 90 minutos, é a lição.

P.S. – Grande jogo de William Carvalho
contra o Sporting de Braga. Bem posicionado, tranquilo e com personalidade deu ordem ao meio campo e continua o seu processo acelerado de crescimento. A selecção joga quarta feira e espero que seja titular na posição 6 para ver o seu comportamento em outro contexto.

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