«4x4x3»: haverá festa brasileira sem samba?

8 jul 2014, 10:00
4x4x3

Sem Neymar o «escrete» arrisca-se a perder o pouco colorido que tinha

O Brasil chegou às meias-finais do Campeonato do Mundo através da melhor exibição na prova, frente à Colômbia, mas a eventual recompensa anímica que daí podia sair foi completamente anulada pela lesão de Neymar, que ao que tudo indica vai afastar o avançado das grandes decisões do Mundial.

A joelhada de Zúñiga criou um mar de hesitações no país organizador, mas também reforçou um desafio à seleção orientada por Scolari: se até aqui o Brasil parecia disposto a conquistar o «hexa» com pouco colorido nas prestações, agora terá de procurar festejar o título sem samba.

Esse era o ritmo de Neymar. Aprendido nas ruas, num espírito livre que parece cada vez menos presente no «escrete». A equipa atual segue a linha da que esteve em 2010 na África do Sul. Olhando para o «onze» que tem sido apresentado por Scolari, depois de Neymar os jogadores mais irreverentes até serão dois defesas: Marcelo e David Luiz.

O ataque parece pouco alegre. Fred não fala a mesma linguagem futebolística que os colegas, Hulk tem mais explosão do que técnica (e tem estado apagado) e o talento de Óscar parece mais enquadrado nos padrões europeus do que propriamente na insubordinação positivamente tirada do futebol de pé descalço.

O Brasil tem avançado rumo ao objetivo, mas com Neymar a dar um toque artístico ao equilíbrio de que Scolari não abdica. Agora sem esse trunfo, o selecionador brasileiro terá de procurar uma solução que andará entre Willian, Bernard ou eventualmente Ramires. Mas escolher o ex-benfiquista será o menos provável, até porque Scolari estaria a renunciar completamente à nota artística.

Entre Bernard e Willian está a diferença entre um registo mais inconstante mas empolgante, ou então algo mais monocórdico mas seguro. É certo que o médio do Chelsea também tem qualidade técnica, mas que se adapta sobretudo a uma posição mais central, de organização de jogo, e não tanto a criar desequilíbrios individuais na ala. Maior rigor posicional mas menor risco no plantel ofensivo, no fundo.

Bernardo é uma escolha menos experiente (saiu do futebol brasileiro há menos tempo, e precisamente para substituir Willian no Shakhtar Donetsk), e também menos fiável taticamente, mas capaz de oferecer ao jogo algum do samba de Neymar.

Mas seja qual for a escolha, os adeptos brasileiros já sabem que para haver festa terá de ser sempre samba.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter

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