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#FukushimaDrinkingTeam

31 jan 2023, 16:38

Muito se tem falado acerca do Japão ir libertar a água tratada da Central nuclear de Fukushima no mar. Infelizmente, como em todas as notícias relacionadas com qualquer tópico com "nuclear" no nome, a resposta tem sido mais emocional que racional.

A humanidade adquiriu um corpo de conhecimento admirável em pouco mais de 120 anos acerca de processos atómicos e nucleares. Utilizamos medicina nuclear para tratamentos médicos especializados, tanto em imagiologia (raios-X, MRI, etc) como no tratamento direto de tecidos. Utilizamos técnicas de tratamento com radiação para esterilizar equipamento médico. Se o leitor já utilizou equipamento médico numa operação cirúrgica, há chances muito elevadas que esse equipamento foi tratado com radiação para ser esterilizado. Usamos radiação para tratar alimentos, eliminando fungos e bactérias. Esta técnica aumenta o tempo de vida dos alimentos sem perturbar o seu valor nutritivo, tornando-os mais baratos e acessíveis. No entanto, quando toca a energia nuclear, a reacção mais comum tende a ser que ninguém percebe o que está a fazer. 

Durante vários anos, e sob monitorização constante da Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA), o Japão foi filtrando elementos radioactivos da água como o Césio, Estrôncio e Iodo, através do sistema ALPS (Advanced Liquid Processing System). O único elemento radioativo que ficará na água tratada é o Trítio. O Trítio é um dos isótopos do Hidrogénio, o elemento mais leve, componente integral da molécula de água. Quimicamente, o Trítio é idêntico ao Hidrogénio, sendo extremamente difícil removê-lo da água. Os outros elementos, sendo mais pesados, são eficientemente retirados. A água onde o Trítio substituiu o Hidrogénio (T2O ou THO em vez de H2O) é processada pelos organismos como a água normal. A água tritiada não acumula em seres vivos, sendo excretada em poucos dias. O Trítio existe na natureza em concentrações muito reduzidas. As concentrações da água tratada de Fukushima são diluídas através de mistura com água do mar até atingir concentrações de Trítio ligeiramente inferiores aos valores encontrados na natureza. Laboratórios internacionais de vários países, assim como a IAEA, monitorizaram todo o processo, não deixando margem para dúvidas acerca da sua segurança.

A água de Fukushima é completamente segura de libertar no mar. Se o governo do Japão não libertar a água ao mar, um grupo de voluntários (do qual faço parte) já se voluntariou para viajar até ao Japão e beber essa água. Para receber a mesma dose de radiação que comer uma noz de Brasil, como explica o especialista em acidentes nucleares DJ LeClear, seria necessário beber três litros e meio de água tratada de Fukushima. O problema com quase tudo o que envolve "nuclear" é de comunicação.

Muito menos coberto nos media e muito pior para o ambiente é o encerramento dos reatores nucleares Belgas e Alemães. A 31 de Janeiro a Bélgica vai encerrar um dos seus reatores, Tihange-2, que substituirá por gás natural importado, uma decisão tomada pela ministra da energia, Tinne Van der Straeten, dos verdes belgas. A Bélgica irá aumentar as suas emissões e o custo da electricidade aos seus cidadãos. Em Abril a Alemanha irá encerrar os restantes reatores nucleares, que serão substituídos por lignite, a forma de carvão mais poluente. Os verdadeiros crimes ambientais são pouco discutidos, especialmente quando reatores nucleares são encerrados prematuramente. 

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