Populações de animais selvagens no mundo diminuíram cerca de 69% desde 1970: "Estamos a perder esta guerra"

CNN Portugal , MJC
13 out 2022, 10:47
Gorila completou 61 anos

Relatório do World Wildlife Fund divulgado esta quinta-feira alerta para a diminuição de populações de animais selvagens e perda da biodiversidade em todo mundo, devido às alterações climáticas mas, sobretudo, devido à ação humana. A Amazónia é uma das zonas que corre maior risco

As populações de animais selvagens diminuíram em mais de dois terços desde 1970, em todo o mundo, à medida que as florestas foram desaparecendo e os oceanos ficaram mais poluídos, de acordo com o Living Planet Index, divulgado esta quinta-feira.

Esta "redução grave" diz-nos que "a natureza está a destruir-se e o mundo natural está a desaparecer", disse Andrew Terry, diretor de conservação e política da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL), citado pela Reuters.

O relatório realizado pelo World Wildlife Fund (WWF), que usou dados de 2018 da ZSL, combina a análise global de 32 mil populações de 5.230 espécies animais para medir as mudanças na abundância de vida selvagem em todos os continentes, concluindo que o tamanho da população diminuiu em média 69% desde 1970. Há dois anos, esse valor era de 68%, há quatro anos era de 60%. Desmatamento, poluição e mudanças climáticas foram os maiores responsáveis pela diminuição.

A região da América Latina e do Caribe – incluindo a Amazónia – registou o declínio mais acentuado no tamanho médio da população de animais selvagens, com uma queda de 94% em 48 anos.

Tanya Steele, executiva-chefe do WWF do Reino Unido, afirmou: “Segundo este relatório, as reduções maiores foram na região da América Latina, que abriga a maior floresta tropical do mundo, a Amazónia. As taxas de desmatamento estão a acelerar, despojando esse ecossistema único não apenas de árvores, mas da vida selvagem que depende delas e da capacidade da Amazónia atuar como um dos nossos maiores aliados na luta contra as mudanças climáticas.” 

África teve a segunda maior queda, com 66%, seguida pela Ásia e Pacífico, com 55%, e América do Norte, com 20%. A Europa e a Ásia Central tiveram uma queda de 18%. A perda total é semelhante ao desaparecimento da população humana da Europa, Américas, África, Oceania e China, de acordo com o relatório.

A utilização do solo pelo homem é o fator mais determinante na perda de biodiversidade em todo o planeta, de acordo com o relatório. “Globalmente, os principais declínios que estamos a ver devem-se à perda e fragmentação de habitat impulsionadas pelo sistema agrícola global e pela conversão de habitat intacto para produção de alimentos”, disse Mike Barrett, diretor executivo de ciência e conservação do WWF-UK, citado pelo The Guardian.

Os investigadores sublinham a dificuldade crescente que os animais estão a ter para se movimentar pelas paisagens terrestres, pois são bloqueados por infraestrutura e terrenos agrícolas. Apenas 37% dos rios com mais de mil quilómetros continuam a fluir livremente ao longo de toda a sua extensão, enquanto apenas 10% das áreas protegidas do mundo estão ligadas.

Estas descobertas são bastante semelhantes às da última avaliação do WWF em 2020, que concluiu que a quantidade de animais selvagens está a diminuir a uma taxa de cerca de 2,5% ao ano, disse Terry. "A natureza está em apuros", afirmou Mark Wright, diretor científico do WWF-UK. "Estamos definitivamente a perder esta guerra."

“Apesar da ciência, das projeções catastróficas, dos discursos e promessas apaixonados, das florestas em chamas, dos países submersos, das temperaturas recordes e dos milhões de deslocados, os líderes mundiais continuam sentados a assistir ao nosso mundo a morrer diante de nossos olhos”, confirmou Steele. 

No entanto, o relatório ofereceu alguns motivos de esperança. Enquanto a população de gorilas das planícies orientais no Parque Nacional Kahuzi-Biega da República Democrática do Congo caiu 80% entre 1994 e 2019 devido à caça de carne de animais selvagens, a população de gorilas da montanha perto do Parque Nacional de Virunga aumentou de cerca de 400 em 2010 para mais de 600 em 2018.

Mas claro que isto não é suficiente. Os cientistas acreditam que estamos a viver a sexta extinção em massa – a maior perda de vida na Terra desde a época dos dinossauros – e que ela está a ser impulsionada pelos humanos. Os 89 autores do relatório pedem aos líderes mundiais que cheguem a um acordo ambicioso na cimeira da biodiversidade Cop15 que se realizará em Montreal, no Canadá, em dezembro deste ano, e reduzam as emissões de carbono para limitar o aquecimento global abaixo de 1,5°C ainda nesta década para tentar deter a destruição da natureza. Os representantes de todo o mundo irão reunir-se para elaborar uma nova estratégia global para proteger as plantas e os animais da Terra. 

Os declínios futuros não são inevitáveis, dizem os autores, que identificam o Himalaia, sudeste da Ásia, costa leste da Austrália, Albertine Rift e as montanhas do Arco Oriental na África Oriental e a bacia amazónica entre as áreas prioritárias.

Relacionados

Futuro

Mais Futuro

Patrocinados