Austrália promete: mais nenhuma espécie irá morrer aqui

CNN , Tara Subramaniam
9 out 2022, 16:00
Coalas. AP Photo/Rob Griffith

A Austrália, que tem um dos piores recordes mundiais em extinções, anunciou esta semana um plano de 10 anos para evitar que mais espécies morram no país, protegendo as plantas e as espécies animais mais ameaçadas.

Durante o lançamento do plano no Jardim Zoológico de Taronga em Sydney, a Ministra do Ambiente e da Água da Austrália, Tanya Plibersek, disse que o governo trabalhista tinha um “objetivo muito ambicioso” de conservar mais de 30% do território australiano até 2030.

“Estamos a falar de mais 50 milhões de hectares (cerca de 124.000 acres) de terreno que precisamos de localizar e gerir de forma a proteger a natureza e as espécies que dela dependem”, disse Plibersek.

O plano alinha a Austrália com mais de 100 outros países, incluindo os Estados Unidos, que se comprometeram a proteger 30% do seu território e 30% do seu oceano até 2030. A coligação inicial dos países anunciou o seu compromisso antes da cimeira One Planet, em 2021.

Nos últimos anos, a vida selvagem da Austrália tem sofrido em consequência de catástrofes naturais, limpeza de terras, predadores selvagens e os efeitos da crise climática, incluindo os incêndios do “verão Negro” que devastaram os estados do sul em 2019/2020, matando e deslocando quase 3 mil milhões de animais, de acordo com estimativas do Fundo Mundial para a Natureza (WWF).

Os incêndios contribuíram para o panorama desolador da biodiversidade australiana, detalhado no relatório State of the Environment 2021. Publicado no mês de julho, este relatório concluiu que a Austrália tinha perdido mais espécies de mamíferos do que qualquer outro continente e “continua a ter uma das mais elevadas taxas de declínio de espécies entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico”.

O governo anterior da coligação tinha optado por não divulgar o relatório antes das eleições federais de maio, dado que haviam algumas especulações de que o seu conteúdo era tão alarmante que o governo receava que lhes pudesse custar os votos. De qualquer modo, perderam as eleições, o que fez com que um número mais elevado de defensores do ambiente conquistasse lugares no parlamento.

O que é este plano?

O novo plano identifica 20 lugares e 110 espécies que se tornarão o foco dos esforços de conservação.

O governo diz que as espécies prioritárias foram selecionadas com base em vários fatores, incluindo a sua singularidade e risco de extinção, enquanto os lugares prioritários representam uma “vasta gama de paisagens e ecossistemas australianos”. Estas áreas incluem as florestas do Far North Queensland, o Parque Nacional de Kakadu, no Território do Norte, e a Ilha Kangaroo, no Sul da Austrália.

“Ao concentrarmo-nos nestas espécies e nestes lugares, temos uma maior probabilidade de sucesso”, disse Plibersek.

A Diretora de Conservação do Fundo Mundial para a Natureza, Rachel Lowry, saudou o compromisso do governo com as espécies ameaçadas da Austrália, mas disse que o plano deveria ir mais longe.

“A Austrália registou mais de 1.900 espécies ameaçadas. Este plano acolhe apenas 110. Falta clareza quanto à forma como irá ajudar as nossas outras espécies ameaçadas ‘não prioritárias’, tais como o nosso Grande Planador (Petauroides)”, disse Lowry num comunicado.

Segundo a gestora do programa de natureza da Fundação Australiana de Conservação, Basha Stasak, "parar a destruição do habitat da vida selvagem é crucial" para alcançar o objetivo do governo de não haver novas extinções.

Stasak acrescentou que o plano do governo é “ambicioso mas essencial se as futuras gerações de australianos quiserem ver animais como coalas, gambás pigmeus das montanhas, grandes planadores e cacatuas Gang-gang”, todos eles listados como espécies ameaçadas ou em perigo de extinção.

O plano prevê também uma ênfase contínua em “medidas que podem beneficiar mais as espécies ameaçadas”, tais como minimizar o impacto de ameaças como gatos selvagens e raposas, envolver a comunidade e liderar iniciativas de recuperação, assim como ajudar as espécies prioritárias a adaptarem-se às alterações climáticas para que, em última análise, se tornem mais resistentes.

Os predadores selvagens introduzidos pelos colonos durante a colonização multiplicaram-se e desempenharam um papel importante na degradação ambiental da Austrália.

Um estudo recentemente publicado na revista Diversity and Distributions estimou que raposas e gatos matam quase 700 milhões de répteis, 510 milhões de aves e 1,4 mil milhões de mamíferos por ano na Austrália.

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