Há o “Centeno do PSD”, um maratonista e uma ministra jovem que se vai dedicar à Juventude. Eis o novo Governo de Portugal
São 17 ministros (sete são mulheres), a maioria (nove) é formada em Direito e com experiência política e governativa. Os novos ministros que acompanham Luís Montenegro neste que será um "Governo de combate", com diversos desafios pela frente, tomam posse esta terça-feira. O primeiro-ministro optou por fazer cair o Ministério da Habitação (decisão que não foi bem recebida pelos proprietários e inquilinos) e por unir os ministérios da Educação e do Ensino Superior (o que também não agradou aos sindicatos e alunos). Em contrapartida, decidiu criar um novo ministério - o da Juventude e Modernização, que fica nas mãos de Margarida Balseiro Lopes, a mais jovem do elenco governativo.
Eis o novo elenco de ministros que enfrenta uma temporada de adversidades, da educação às forças de segurança:
Paulo Rangel, ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros
Paulo Artur dos Santos Castro de Campos Rangel, 56 anos, é natural de Vila Nova de Gaia. Licenciado em direito pela Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa, o agora 'número 2' de Luís Montenegro tem repartido a sua atividade profissional entre a advocacia, a universidade (dá aulas na Católica do Porto e na Porto Business School) e a política, desde 2001.
Em 2009, poucos meses depois de assumir a liderança do grupo parlamentar do PSD, foi eleito eurodeputado, e em 2015 assumiu a vice-presidência do PPE (Partido Popular Europeu), cargo que manteve até esta segunda-feira, véspera da tomada de posse como ministro do XXIV Governo.
Joaquim Miranda Sarmento, ministro de Estado e das Finanças
Joaquim Miranda Sarmento, 45 anos, é natural de Lisboa. Doutorado em Finanças, o ex-presidente do grupo parlamentar do PSD e professor auxiliar no ISEG-Lisbon School of Economics and Management (Universidade de Lisboa), há muito que se tem preparado para assumir esta tutela. Em 2019, ajudou o então presidente do PSD Rui Rio a desenhar o cenário macroeconómico do partido para as legislativas desse ano, o que lhe valeu a alcunha de “Centeno do PSD”.
Liderou o Conselho Estratégico Nacional do PSD entre 2020 e 2022, o que lhe valeu uma nova alcunha - desta vez, de “ministro sombra das Finanças” dos sociais-democratas. Assumiu a liderança parlamentar do PSD em 2022, passando agora o testemunho a Hugo Soares.
António Leitão Amaro, ministro da Presidência
António Egrejas Leitão Amaro tem 44 anos e é natural do Caramulo (Tondela). Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa, tem um mestrado em Direito pela Harvard Law School da Universidade de Harvard e completou recentemente o doutoramento em Direito sobre a Independência dos Bancos Centrais, Política e Democracia.
É vice-presidente do PSD desde 2022, com um hiato no Parlamento, em 2019, para se dedicar ao doutoramento pela Universidade Católica. Regressou à primeira linha da atividade política para encabeçar a lista do PSD por Viseu. Como ministro, poderá ter menos tempo para hobbies como a corrida (já fez uma maratona) e o surf ou para ler e viajar, depois de já ter dado uma volta ao mundo em oito meses.
Manuel Castro Almeida, ministro Adjunto e da Coesão Territorial
Manuel Castro Almeida tem 66 anos e iniciou a vida profissional com 16, como auxiliar administrativo da Câmara Municipal de São João da Madeira, a que presidiu anos mais tarde, entre 2001 e 2012 (tendo derrotado o atual secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, nas autárquicas de 2009). Tirou o curso de Direito na Universidade de Coimbra como trabalhador estudante. A sua primeira experiência governativa foi como secretário de Estado da Educação e do Desporto, entre 1993 e 1995, no segundo Governo maioritário de Cavaco Silva. Mais tarde, foi secretário de Estado do primeiro Governo de Pedro Passos Coelho, tendo negociado o Portugal 2020 e criado a Agência para o Desenvolvimento e Coesão.
Em junho de 2019 renunciou à vice-presidência do PSD, por discordar da liderança “centralista” de Rui Rio.
Pedro Duarte, ministro dos Assuntos Parlamentares
Natural do Porto, Pedro Duarte, 50 anos, é licenciado em Direito, pela Universidade Católica Portuguesa, e doutorou-se em Estudos de Desenvolvimento (ISEG, Universidade de Lisboa), com Mestrado em Economia Internacional e Estudos Europeus. Foi líder da Juventude Social Democrata entre 1998 e 2022 e deputado entre 1999 e 2022, assumindo o cargo de secretário de Estado da Juventude no Governo de Pedro Santana Lopes. Nos últimos anos, esteve afastado da primeira linha da atividade política, assumindo a direção da Microsoft e a vice-presidência da CIP. Regressou em 2022, para coordenar o Conselho Estratégico Nacional (órgão consultivo do PSD) ao serviço de Luís Montenegro.
Nuno Melo, ministro da Defesa Nacional
João Nuno Lacerda Teixeira de Melo, 58 anos, nasceu em Joane, Vila Nova de Famalicão. É licenciado em Direito e foi advogado de profissão, antes de se dedicar à carreira política. Chegou ao Parlamento em 1999, onde se destacou em várias das comissões de inquérito que investigaram a queda do avião que vitimou o ex-primeiro-ministro Sá Carneiro e o ex-ministro da Defesa Amaro da Costa em Camarate, em 1980, e teve também um papel central num outro inquérito parlamentar sobre o Banco Português de Negócios.
Foi um dos rostos em ascensão na primeira liderança de Paulo Portas no CDS, de quem foi vice-presidente e, mais tarde, de Assunção Cristas. Em 2009, foi pela primeira vez cabeça de lista do CDS ao Parlamento Europeu, cargo que manteve até esta segunda-feira. Foi eleito presidente do CDS em abril de 2022 e conseguiu levar o partido de volta ao hemiciclo, depois de conseguir eleger dois deputados nas listas da Aliança Democrática (AD).
Rita Júdice, ministra da Justiça
Rita Alarcão Júdice, 50 anos, licenciou-se em Direito pela Universidade Católica, em 1997, e é especialista em direito do imobiliário, tendo sido sócia da sociedade de advogados PLMJ entre 2013 e 2023.
Filha do antigo bastonário da Ordem dos Advogados e antigo dirigente social-democrata da distrital de Lisboa do PSD, José Miguel Júdice, Rita Júdice era a coordenadora para a habitação do Conselho Estratégico Nacional do PSD e foi eleita deputada pela primeira vez nas legislativas de março, por Coimbra, distrito onde foi cabeça de lista pela AD.
Margarida Blasco, ministra da Administração Interna
Maria Margarida Blasco Martins Augusto, 67 anos, é natural de Castelo Branco e licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foi a primeira mulher à frente do Serviço de Informação e Segurança (SIS) e a primeira Inspetora-Geral da Administração Interna (IGAI), organismo que fiscaliza a atividade das polícias. Saiu da IGAI antes de terminar o terceiro mandato, após ser nomeada juíza conselheira do Supremo Tribunal de Justiça, tendo-se jubilado em 2021.
Nos sete anos que esteve à frente da IGAI, teve de gerir alguns casos mediáticos, na maior parte das vezes relacionados com alegados abusos policiais, e os seus mandatos ficaram marcados por alegadas acusações de racismo nas polícias e críticas dos polícias.
Margarida Blasco foi também chefe de gabinete do secretário de Estado Adjunto do Ministro da Justiça entre 1987 a 1991.
Fernando Alexandre, ministro da Educação, Ciência e Inovação
Fernando Alexandre, 52 anos, é doutorado em Economia pela Birbeck College, Universidade de Londres, e dá aulas na Universidade do Minho, onde foi pró-reitor, presidente da Escola de Economia e Gestão e diretor do departamento de Economia. Em 2013 integrou o Governo de Pedro Passos Coelho como secretário de Estado da Administração Interna, cargo que deixou em 2015 por alegadas incompatibilidades com a então ministra Anabela Rodrigues.
Atualmente, é vice-presidente do Conselho Económico e Social, dedicando-se à investigação da macroeconomia, economia monetária e financeira, economia portuguesa, segurança social e estudos de impacto económico e social. Em junho passado, numa coluna de opinião divulgada no Observador, escreveu, a propósito dos rankings das escolas, que “a queda das escolas públicas e a afirmação das escolas privadas nas posições cimeiras” reflete a “falência das políticas para a escola pública”.
Ana Paula Martins, ministra da Saúde
Ana Paula Martins, 64 anos, é natural da Guiné Bissau e licenciou-se em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de Lisboa, tendo concluído depois um mestrado em Epidemiologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e um doutoramento em Farmácia Clínica.
Durante mais de 20 anos foi professora auxiliar da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, dirigiu o Centro de Estudos de Farmacoepidemiologia da Associação Nacional de Farmácia entre 1994 e 2006 e desempenhou o cargo de bastonária da Ordem dos Farmacêuticos entre 2016 e 2021 (ano em que enveredou na carreira política, assumindo a vice-presidência do PSD em dezembro, até maio de 2022). O último cargo que ocupou foi de presidente do conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), atual Unidade Local de Saúde (ULS) Santa Maria, que assumiu em fevereiro de 2023 e que deixou um ano depois.
Miguel Pinto Luz, ministro das Infraestruturas e Habitação
Miguel Pinto Luz, 47 anos, é licenciado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, pelo Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa. Foi secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações durante o segundo Governo de Pedro Passos Coelho. Apesar de ter exercido funções governativas durante menos de um mês, a assinatura de Miguel Pinto Luz nas “cartas de conforto” enviadas aos bancos portugueses credores da TAP, que permitiram a privatização da companhia aérea em 2015, foi tema de discussão na comissão parlamentar de inquérito (CPI) à companhia aérea, no ano passado.
O também vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais foi candidato à liderança do PSD em 2020, contra Rui Rio e Luís Montenegro, tendo ficado em terceiro lugar. Durante a campanha para as legislativas de 10 de março, foi um dos que apoiou uma aliança com o Chega, caso o PSD precisasse do partido de André Ventura para formar Governo.
Pedro Reis, ministro da Economia
Natural de Lisboa, Pedro Reis, 56 anos, é licenciado em Gestão e Administração de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa e conta com várias formações na área da gestão, nomeadamente em Strategic Finance, pela Harvard Business School em Strategic Finance. O gestor de empresas, que chegou a candidatar-se a bastonário da Ordem dos Economistas, presidiu à Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), entre 2011 e 2014. Em janeiro deste ano, assumiu o cargo de membro do conselho consultivo do Banco Português de Fomento e é também presidente do Conselho Consultivo do Conselho da Diáspora Portuguesa.
Rosário Ramalho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social
Maria do Rosário Palma Ramalho é doutorada em Direito e professora catedrática da Faculdade de Direito de Lisboa, onde coordena, desde 2010, as disciplinas de Direito do Trabalho e de Teoria Geral do Direito Civil. É presidente da Associação Portuguesa de Direito do Trabalho (APODIT) desde 2013, tendo sido reeleita em 2017 e novamente em 2018, 2021 e 2024.
É vice-presidente da Sociedade Internacional de Direito do Trabalho e Segurança Social (ISLSSL), desde 2021, e coordena diversos projetos científicos internacionais nas áreas do Direito do Trabalho e do Direito da Igualdade, tendo sido, nesse âmbito, consultora da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu e da Organização Internacional do Trabalho.
É mulher de António Ramalho, antigo presidente executivo do Novo Banco, e uma das filhas, a advogada Inês Palma Ramalho, é vice-presidente do PSD desde julho de 2022.
Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente e Energia
Formada em Engenharia Mecânica, Maria da Graça Carvalho, 68 anos, é natural de Beja e assume no seu currículo 30 anos de experiência nas áreas da energia, alterações climáticas e política da ciência, tecnologia e inovação. Já foi ministra da Ciência e do Ensino Superior nos governos de PSD/CDS, liderados por Durão Barroso e Santana Lopes, de 2002 a 2005. Posteriormente, de 2006 a 2009, foi conselheira principal do presidente da Comissão Europeia Durão Barroso nas áreas de ciência, ensino superior, inovação, investigação, energia, ambiente e alterações climáticas. Mais tarde, entre 2014 e 2015, foi conselheira do comissário europeu para Investigação, Ciência e Inovação Carlos Moedas.
Foi eleita eurodeputada pela primeira vez entre 2009 e 2014, tendo sido reeleita em 2019. Enquanto membro do Parlamento Europeu, foi relatora-principal do Regulamento de Proteção da União Contra a Manipulação do Mercado Grossista da Energia e negociadora pelo Partido Popular Europeu da Reforma do Mercado Elétrico Europeu. Foi também relatora do programa de financiamento europeu para a ciência e inovação Horizonte 2020.
Margarida Balseiro Lopes, ministra da Juventude e Modernização
Margarida Balseiro Lopes, 34 anos, é licenciada em Direito pela Faculdade de Direito de Lisboa, mestre em Direito e Gestão pela Universidade Católica Portuguesa, pós-graduada em Fiscalidade pela Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa e doutoranda em Direito na Universidade Católica Portuguesa (desde 2021). A vice-presidente do PSD foi deputada entre 2015 e 2022, tendo sido líder da Juventude Social-Democrata entre 2018 e 2020. Atualmente, trabalha na Deloitte como consultora sénior.
Como deputada, integrou várias comissões parlamentares, com destaque para a Comissão de Orçamento e Finanças e a Comissão de Educação, Ciência, Juventude e Desporto.
José Manuel Fernandes, ministro da Agricultura e Pesca
Natural de Vila Verde (Braga), José Manuel Fernandes, 57 anos, é licenciado em Engenharia de Sistemas e Informática pela Universidade do Minho e estuda Direito. Foi eleito eurodeputado em 2009, dedicando-se desde então ao combate às alterações climáticas, bem como a promoção da biodiversidade e a degradação dos serviços ecossistémicos.
José Manuel Fernandes foi eleito um dos deputados do Parlamento Europeu mais influentes, segundo o ranking BWC EU Influence.
Dalila Rodrigues, ministra da Cultura
Doutorada em História da Arte pela Universidade de Coimbra, Dalila Rodrigues, 63 anos, é professora coordenadora da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu e professora catedrática convidada do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra.
A diretora do Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém, cargos que assumiu em maio de 2019, é defensora do mecenato e da autonomia dos museus.
É investigadora integrada do Centro de Estudos de Arqueologia, Artes e Ciências do Património (CEAACP), da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, e membro do conselho diretivo da Associação Trienal de Arquitetura de Lisboa desde 2010.
