Marcelo estava "convencido que ia durar mais" mas garante que "valeu a pena a convivência com Costa

Agência Lusa , AG
21 dez 2023, 18:56

Segundo o Presidente da República, "o que é facto é que foi importante para a democracia portuguesa, foi importante

O Presidente da República fez esta quinta-feira um balanço dos oito anos de coabitação com o primeiro-ministro, António Costa, e concluiu que "valeu a pena" e que o país ganhou com o "esforço de compromisso" que fizeram.

Marcelo Rebelo de Sousa falava na tradicional cerimónia de apresentação de cumprimentos de boas festas por parte do Governo, no Palácio de Belém, em Lisboa, numa altura em que há eleições legislativas antecipadas marcadas para 10 de março e António Costa irá deixar o cargo de primeiro-ministro.

"Houve aqui um esforço de compromisso. Eu acho que valeu a pena. Valeu a pena", defendeu, perante António Costa, depois de fazer um resumo de cada um dos oito anos em que coincidiram nas funções de Presidente da República e primeiro-ministro, desde 2016.

"Para ser sincero sincero, sincero, eu estava convencido que ia durar mais um tempo. Eu tinha, aliás, uma fórmula: um ano e dez meses", declarou em seguida o chefe de Estado, referindo-se ao "tempo que faltava até à realização de eleições autárquicas e, portanto, a entrada no período eleitoral".

"Mas não quis o destino que fosse assim. E, portanto, estava eu já a pensar bater o recorde de ter um só primeiro-ministro durante dez anos – é um recorde que não consigo cumprir, mas a vida é assim, a vida tem essas notícias", acrescentou.

Segundo o Presidente da República, "o que é facto é que foi importante para a democracia portuguesa, foi importante para a economia e para a sociedade portuguesa".

Marcelo Rebelo de Sousa ressalvou que "nem tudo correu bem", seja "por razões internacionais, por razões nacionais objetivos" ou "por erros" que ambos e outros cometeram.

"Faz parte da política ser assim. Mas eu acho que um dia, quando se observar com atenção e com distanciamento, se dirá que não é por acaso que o povo português decidiu manter por tanto tempo as suas opções e as suas escolhas relativamente ao Presidente e ao Governo", considerou.

"A recordação destes oito anos é uma boa recordação", reforçou.

Na sua opinião, contudo, foram muitos os não entenderam a cooperação institucional que mantiveram, que, assegurou, "foi sempre boa, mesmo quando havia divergências políticas".

"As divergências, mesmo quando existiam, não eram exatamente aquelas que se pensava ou não eram exatamente da gravidade que se pensava. E as convergências, quando existiam, não eram exatamente aquelas que se pensava e com a intensidade com que se pensava", afirmou.

Para o antigo presidente do PSD, "o hemisfério político" do primeiro-ministro, socialista, "muitas vezes não deve ter percebido a forma como tratava o Presidente", mas pior foi com o seu espaço político.

"O meu hemisfério, desde que tomou posse, nunca percebeu a forma como tratava vossa excelência e o Governo. Haverá um grupo de portugueses que percebeu o suficiente para a reeleição, mas o que é facto é que um setor muito vasto nunca levou a bem, porque faz parte da lógica da política a ideia do confronto", disse, dirigindo-se para António Costa, completando: "E precisamente o que se procurou durante estes oito anos foi o compromisso".

Marcelo Rebelo de Sousa realçou que, ao assumir funções, se deparou com um executivo minoritário do PS com apoio parlamentar de PCP, BE e PEV, "o Governo mais à esquerda na sua base de apoio existente em Portugal desde a revolução".

"Entretanto, o eleitorado português ia sufragando a fórmula que estava no poder, é um ponto que importa não esquecer. Entre 2017 e 2022 ou 2023, se quiser, em seis anos cinco vezes sufragaram, em locais, em europeias e em legislativas, o essencial da fórmula governativa existente. O que em democracia não é propriamente irrelevante", apontou.

Enquanto o PS chefiado por António Costa venceu essas cinco eleições, Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito e reeleito Presidente.

Neste contexto, os dois "tinham de procurar o compromisso, um aceitando a vontade dos portugueses quanto ao Governo que queriam, e o outro aceitando a vontade dos portugueses quanto ao Presidente que queriam", sustentou.

"Se não havia um esforço de compromisso, havia desafios que era impossível vencer", argumentou, dando como exemplos a estabilização do sistema financeiro e a pandemia covid-19.

Esta foi a oitava e última sessão de troca de cumprimentos de Natal entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa no Palácio de Belém, numa altura em que o está Governo em gestão e o parlamento prestes a ser dissolvido, com legislativas antecipadas marcadas para 10 de março, na sequência da demissão do primeiro-ministro, por causa de uma investigação judicial.

Marcelo Rebelo de Sousa terminou o seu discurso afirmando que não vê António Costa longe da política por muito tempo: "Há entre nós uma diferença, além da fé, é que eu encaro as minhas atividades futuras, não políticas, como de rutura total com a política e de natureza social e educativa, e o senhor primeiro-ministro esquecer-se da politica é impossível".

"Eu profetizo que mais rapidamente o senhor primeiro-ministro estará a braços com essa sua vocação natural do que eu estarei no futuro quando me puder lançar em causas sociais e educativas em que haja o mínimo possível de recordação da política", declarou.

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