Corrupção na Madeira: mãe de ex-presidente da Câmara esconde 46 notas de 200 em envelopes da autarquia e filha guarda 30 mil euros

30 jan, 20:00

Família do ex-presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado, também está a ser investigada

O antigo presidente da Câmara Municipal do Funchal tem dois testas de ferro. É esse o entendimento da Polícia Judiciária (PJ), que está a investigar um caso de corrupção no arquipélago da Madeira, e que levou mesmo à queda de Pedro Calado, que está detido em Lisboa para interrogatório.

A investigação entende que o ex-autarca utilizava a mãe e a filha para esse efeito. De resto, a 25 de outubro de 2023, Pedro Calado disse à mãe, por telefone, que a partir do mês seguinte não era preciso fazer-lhe mais transferências nem depósitos dos valores habituais. 

Ao aperceber-se disto, a PJ também fez buscas em casa de Fátima Calado, onde encontrou 10 mil euros em notas: num envelope com o logótipo da Câmara Municipal do Funchal, a mãe do autarca guardava 46 notas de 200 euros; e numa bolsa de tecido escondia uma nota de 200 euros, 10 notas de 20 euros e 10 notas de 10 euros. 

Também na conta bancária da filha, e da qual Pedro Calado era segundo titular, o autarca fez circular mais de 30 mil euros.

Entre as suspeitas do Ministério Público está um alegado conluio entre o Governo Regional (PSD/CDS-PP), liderado por Miguel Albuquerque, Pedro Calado e elementos do grupo hoteleiro Pestana, nomeadamente da sociedade Pestana CR7, encontrando-se supostamente envolvidos “num esquema de favorecimento dos interesses e negócios imobiliários daquele grupo no âmbito da construção do projeto imobiliário Praia Formosa”.

É citado ainda um alegado favorecimento na escolha da sociedade vencedora dos concursos públicos para a organização de um festival de jazz no Funchal em 2022 e 2023, com o MP a assinalar que a entidade vencedora foi constituída quatro dias antes da apresentação da proposta, “não possuindo (...) qualquer experiência na organização de eventos”.

De acordo com o Ministério Público, existe um “relacionamento privilegiado, caracterizado por uma grande proximidade e informalidade” entre Miguel Albuquerque, Pedro Calado e Avelino Farinha. Acrescenta o MP que, no âmbito desta relação, Pedro Calado “atuou, e ainda atua, como denominador comum aos outros suspeitos”, agindo como “intermediário, de modo a acautelar os interesses do grupo AFA junto do Governo Regional e do município do Funchal”.

O Ministério Público indica inclusivamente que terão existido “interferências” de Miguel Albuquerque em matérias da esfera municipal, bem como tomadas de posição de Pedro Calado em questões de natureza regional, nomeadamente em temas que envolvem os interesses de um conjunto de empresários da Madeira.

O caso surgiu na sequência de denúncias anónimas, tendo a investigação apurado “novas suspeitas de potencial favorecimento na contratação pública regional”, envolvendo o presidente do Governo Regional, o autarca do Funchal e o líder do grupo empresarial AFA.

A operação levou à detenção do presidente da Câmara Municipal do Funchal, do líder do grupo AFA e do diretor executivo do grupo Socicorreia, Custódio Correia, que é também sócio de Avelino Farinha em várias empresas, segundo fonte de investigação. Os três detidos deverão ser presentes a juiz para primeiro interrogatório judicial na sexta-feira, em Lisboa.

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