Faltou ser marreco
Se marreco define quem é «astuto ou matreiro», nem Boavista nem Gil Vicente souberam ser suficientemente marrecos para vencerem na 32.ª jornada da Liga e darem um passo de gigante rumo à permanência.
Os gilistas até podiam festejar já hoje a manutenção, caso vencessem e o Portimonense não ganhasse em Alvalade. Com o empate a um golo no Bessa, tanto galos como panteras ficam com as contas adiadas, pelo menos mais uma ronda.
Se Jorge Simão, ao fim de três jogos, ainda não sabe o que é vencer, Tozé Marreco mantém-se invencível no comando do Gil Vicente.
Os barcelenses mostraram que estão a atravessar um período de confiança desde que Tozé Marreco assumiu o comando da equipa e beneficiaram de ter as suas principais figuras numa tarde inspirada.
A equipa gilista entrou melhor e dentro do primeiro quarto de hora já somava quatro ocasiões de golo. A inteligência, criatividade e passe de Maxime Domínguez e Fujimoto, aliadas à imprevisibilidade de Félix Correia no corredor esquerdo proporcionaram aos barcelenses maior domínio do jogo.
Apesar de ter feito por merecer, o Gil não conseguiu adiantar-se e até sofreu primeiro. Ainda antes da meia-hora, o Boavista, que até então só tinha ameaçado com um remate de fora da área, chegou à vantagem.
Bruno Lourenço, um homem dos grandes golos, fez jus a esse estatuto. O médio boavisteiro, num lance aparentemente inofensivo, viu que Andrew estava adiantado e aplicou um pontapé que sobrevoou o brasileiro. Que classe!
A resposta dos gilistas, contudo, não tardou. Nem dez minutos depois do golo sofrido, num lance de bola parada, Gabriel Pereira – mais um jogo em que liderou a defesa – empurrou para o empate, que recolocou justiça no resultado.
O jogo estava animado, com as duas equipas a lutarem pelos três pontos importantíssimos na luta pela manutenção e só o excessivo número de faltas assinadas quebrava o ritmo (ao intervalo, eram nove para cada lado).
Tal como no primeiro tempo, a equipa de Tozé Marreco entrou melhor após o intervalo. Porém, após alguns minutos a rondar a baliza de João Gonçalves, o Gil Vicente recuou inexplicavelmente no terreno e o Boavista assumiu o controlo do jogo pela primeira vez na partida.
A equipa de Jorge Simão instalou-se no meio-campo barcelense e os forasteiros nem sequer conseguiam libertar-se da pressão, para depois chegarem ao último terço.
Foi nesse período que Bruno Lourenço teve o bis – e a vitória – nos pés. Felipe Silva, hoje adaptado a lateral-esquerdo, até estava a realizar um bom jogo, também protegido pelo facto de o Gil sair a jogar com três defesas, mas borrou a pintura com o penálti cometido aos 72 minutos.
Porém, Bruno Lourenço também não ficou muito bem visto. Se o médio tinha levado a melhor sobre Andrew no lance do 1-0, o guarda-redes brasileiro foi mais forte no momento do penálti e defendeu o remate que saiu para o meio da baliza.
Tozé Marreco, refrescou a frente de ataque e aí o Gil conseguiu libertar-se das amarras da pantera, mas sem o fio de jogo que conseguiu, por exemplo, na primeira parte. Do lado contrário, as mexidas não surtiram muito efeito.
Apesar de não ser um resultado que agrade propriamente a nenhuma das equipas, o Gil Vicente pode sair mais animado do Bessa, pois as perspetivas de ficar na Liga são ainda melhores. Nesta altura, os gilistas, que já não podem descer de forma direta, têm 33 pontos, contra 31 dos boavisteiros – o lugar de play-off pertence ao Portimonense, que tem 28.