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Sócrates, em 2011: «A justiça nada tem a ver com a política»

Redação , CP
22 nov 2014, 14:00
Eleições legislativas 2011: José Sócrates (Mário Cruz/Lusa)

O perfil político, a ida para Paris e o regresso para comentador

O ex-primeiro-ministro José Sócrates, de 57 anos, detido na sexta-feira à noite
, esteve à frente do Governo entre 2005 e 2011 e definiu-se a si próprio como um social-democrata de centro-esquerda e um político «sanguíneo».

Na noite eleitoral de 5 de junho de 2011, quando perdeu as últimas eleições legislativas para o PSD, Sócrates demitiu-se também do cargo de secretário-geral do PS e anunciou a retirada
, pelo menos temporariamente, da vida política e dos cargos públicos, após uma carreira de várias décadas, recorda a Agência Lusa.

Nesse dia, disse que «a justiça nada tem a ver com a política» e que o seu desejo «é viver num país em que essa separação esteja absolutamente ao serviço do Estado de Direito», em resposta a um pergunta da Renascença sobre se receava que a derrota eleitoral abrisse caminho a novos processos judiciais ou acelerasse outros em que o seu nome chegou a ser mencionado
.

Depois de ter conseguido a sua maior vitória política nas legislativas de fevereiro de 2005, em que o PS conseguiu uma maioria absoluta, nas eleições de 2009 vê-se forçado a formar um governo minoritário, em plena crise financeira mundial, que o levou a apresentar sucessivos pacotes de austeridade.

Com os votos do PSD, viu a Assembleia da República aprovar três PEC (Pacto de Estabilidade e Crescimento) do seu Governo, mas aquilo a que os socialistas chamaram uma «coligação negativa» entre PSD, CDS, BE e PCP chumbou o PEC IV, em 23 de março de 2011, o que o fez pedir, no mesmo dia, a demissão ao Presidente da República
, Cavaco Silva.

Duas semanas depois, pediu formalmente ajuda externa à troika
, depois de ter negado, reiteradamente, que Portugal precisasse de um resgate financeiro. Justificou sempre que o resgate teria sido evitado com a aprovação do PEC IV.

Após a derrota eleitoral de 2011, Sócrates mudou-se para França, para estudar ciências políticas em Paris, e só voltaria à vida pública nacional em março de 2013, quando começou a fazer uma comentário político semanal na RTP. Na mesma altura, deu uma entrevista em que acusou Cavaco Silva de ter sido a «mão escondida por detrás dos arbustos»
que levou à crise política que fez cair o seu último Governo.

No seu comentário semanal na RTP e nas intervenções públicas que fez desde então, Sócrates continuou a criticar o Presidente da República e o Governo, mas escusou-se a apontar o dedo, diretamente, à anterior direção do PS, de António José Seguro, de quem, no entanto, se manteve afastado.

Fez apenas uma aparição discreta no último dia da campanha das europeias de maio passado. E assim que António Costa assumiu a sua candidatura nas primárias do partido, contra Seguro, manifestou-lhe apoio
.

Apesar de afastado da vida partidária, foi um dos protagonistas do debate na generalidade do orçamento do Estado de 2015, a 30 de outubro, quando foi elogiado no plenário da Assembleia da República por Ferro Rodrigues
, originando protestos da oposição.

Também um dos secretários de Estado dos seus governos, Ascenso Simões, através de uma carta a Cavaco Silva, deu recentemente voz aos socialistas que lamentam que Sócrates seja o único primeiro-ministro não condecorado pelo Presidente.

A par do comentário político, Sócrates publicou, em outubro do ano passado, o livro «A Confiança no Mundo»
, que resulta da sua dissertação no Institut d'Études de Paris para o grau de Mestre em Teoria Política, e que andou a apresentar pelo país.

Por outro lado, foi escolhido, em fevereiro de 2013, para presidir ao conselho consultivo da farmacêutica Octapharma para a América Latina
, pelo «conhecimento profundo» que tem da região e pela sua «vivência com os problemas de saúde pública», segundo a empresa.

A carreira política de José Sócrates começou em 1981, quando aderiu ao PS. Dois anos depois ganhou por poucos votos a presidência da federação socialista de Castelo Branco contra os soaristas, cargo em que permaneceria até 1995.

Considerado parte da nova geração de socialistas que alcançou o poder com a ascensão de António Guterres a primeiro-ministro, apoiou o atual alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados contra Jorge Sampaio na disputa da liderança do PS, em 1992.

Com a vitória de Guterres nas legislativas de 1995, foi nomeado secretário de Estado da ministra do Ambiente Elisa Ferreira, passando depois, em 1997, a ministro-adjunto para a Juventude, Toxicodependência e Desporto, cargo em que fez aprovar a Lei de Defesa do Consumidor, lançou a descriminalização do consumo da droga e foi um dos principais impulsionadores da candidatura à organização do Europeu de Futebol de 2004. Foi nomeado ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território, em 1999, chegando a secretário-geral do PS em 2004.

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