Greve dos médicos paralisa centros de saúde e fecha blocos operatórios no Norte

Agência Lusa , AM
25 jul 2023, 10:12
Jorge Roque da Cunha

Paralisação decorre em simultâneo com uma greve dos médicos de família ao trabalho extraordinário, iniciada na segunda-feira e que terá a duração de um mês

A greve dos médicos paralisou várias Unidades de Saúde Familiar (USF) no Norte e está a fazer-se sentir nos blocos operatórios de vários hospitais, nomeadamente no São João, no Porto, e em Viana do Castelo.

Contactadas pela agência Lusa, fontes do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), estrutura que convocou a greve que tem início hoje e se prolonga até quinta-feira, descreveram a atual adesão como “elevadíssima”.

“No Hospital de São João só uma, em 12 salas de bloco operatório, está a funcionar. A adesão à greve no bloco operatório de Viana do Castelo é de 100%”, apontou Hugo Cadavez do SIM.

O responsável acrescentou que em Vila Real e em Vila Nova de Gaia a adesão “também está a ser muito grande”.

Já Hermínia Teixeira, que trabalha na USF Godinho Faria, em Matosinhos, referiu que neste centro de saúde “não está nenhum médico de família a trabalhar”, uma realidade que diz ser semelhante em muitos outros em todo o Norte.

“Na minha unidade não está nenhum médico a trabalhar neste momento. A esta hora [cerca das 09:30] é difícil dar valores reais sobre a adesão de médicos de família, mas do que me vai chegando sei que a maioria não está a trabalhar. Estamos a falar de uma adesão de cerca de 90%. Na USF Vila Meã [concelho de Amarante] nenhum médico está a trabalhar, disseram-me agora”, atirou, acrescentando que no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos, no que diz respeito a ambulatório, “apenas a sala de urgência está a funcionar”.

Para os dirigentes do SIM esta adesão reflete o descontentamento dos médicos com a situação laboral e remuneratória no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“Infelizmente fomos forçados à mais dura forma de protesto. Esta é uma greve que não queiramos fazer e tudo fizemos para evitar. Mas temos de demonstrar o nosso descontentamento perante o que foi o resultado de uma negociação que decorreu ao longo de um ano. O prazo do protocolo negocial já terminou, mas o Governo comprometeu-se a negociar quatro aspetos, mas não fez propostas objetivas e concretas”, disse Hugo Cadavez.

À Lusa, Hermínia Teixeira acrescentou as preocupações dos médicos de família e disse temer que a situação se agrave nos próximos dois a três anos se o Governo nada fizer.

“É cada vez mais difícil fixar os médicos de família ao SNS. Isto é muito preocupante na área de Lisboa e Vale do Tejo, como tem sido noticiado, mas o número de portugueses que está sem médico de família tem vindo a crescer. Estamos a falar de um milhão e 700 mil portugueses sem médico de família. E se não for possível captar os recém especialistas a ficar no SNS com melhoria do salário, este número vai engrossar. Nos próximos dois/três anos”, referiu.

Sindicato diz que adesão à greve dos médicos ronda os 90%

A adesão à greve dos médicos do setor público ronda os 90% nos hospitais e nos cuidados de saúde primários, segundo o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), que convocou a paralisação.

Em declarações à Lusa, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, disse que os primeiros dados indicam que a adesão chega aos 92% nos centros de saúde e aos 89% nos hospitais.

"Isto demonstra a grande insatisfação que os médicos têm tido em relação a um Governo que não apresenta propostas", disse o responsável.

Questionado sobre a expectativa do SIM para a reunião agendada para a próxima sexta-feira com a tutela, disse que "depois de 14 meses a aguardar a formalização do processo negocial", o sindicato espera que o ministro da Saúde apresente uma proposta formal antes do encontro.

"Aguardamos serenamente que o senhor ministro cumpra e, na quarta-feira, nos envie os documentos para que possamos, de facto, iniciar a negociação", disse Roque da Cunha, acrescentando que as expectativas "são muito limitadas".

"Eu sou sempre uma pessoa otimista e sempre com grande vontade de fazer acordos e evitar ao máximo, como fizemos até agora, as greves, mas a realidade confronta-se com o meu optimismo e a realidade é que ganha", afirmou.

Os médicos iniciaram esta terça-feira uma greve nacional de três dias para forçar o Governo a apresentar uma proposta concreta de revisão da grelha salarial, que o ministro da Saúde prometeu na segunda-feira enviar aos sindicatos.

Convocada pelo SIM, a paralisação decorre em simultâneo com uma greve dos médicos de família ao trabalho extraordinário, iniciada na segunda-feira e que terá a duração de um mês.

Na sexta-feira passada, no final de uma reunião negocial, o secretário-geral do SIM acusou o Ministério da Saúde de "não apresentar os documentos negociais", asseverando que só iria à próxima reunião com a tutela se recebesse as propostas do Governo antecipadamente.

Na segunda-feira, o ministro da Saúde assegurou que iria apresentar uma proposta de revisão da grelha salarial aos médicos e lamentou o "criticismo excessivo" que tem havido sobre a forma como têm decorrido as negociações, que se iniciaram ainda em 2022, com a antecessora ministra Marta Temido, mas que resultaram até à data sem acordo entre as partes.

Na fase de discussão do protocolo negocial, em julho de 2022, Governo e sindicatos concordaram em incluir a grelha salarial dos médicos do Serviço Nacional de Saúde nas negociações.

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