Kamila Valieva tropeçou, caiu duas vezes e depois chorou. Muito

17 fev 2022, 18:55

Jogos Pequim2022. A patinadora russa, que está envolvida num caso de doping, não resistiu à pressão e cometeu vários erros no seu programa livre

Kamila Valieva deslizou no gelo olímpico de Pequim ao som do "Bolero" de Ravel durante quatro minutos e vinte segundos. Depois de ter terminado o programa curto em primeiro lugar, a patinadora russa de 15 anos, reconhecida como a melhor patinadora da atualidade, não precisaria de muito para garantir um lugar no pódio. Mas naqueles quatro minutos e vinte segundos que durou o seu programa livre, Kamila tropeçou várias vezes e caiu duas vezes e, apesar dos aplausos do público que não deixou de puxar por ela, não conseguiu recuperar. "Porque desististe de lutar?", perguntou-lhe a treinadora no final. A jovem não respondeu. Chorou enquanto esperava pela pontuação e depois chorou outra vez ao saber que tinha terminado a prova em quinto lugar, o que a colocava no quarto lugar da competição.

A sua compatriota Anna Shcherbakova sagrou-se campeã olímpica de patinagem artística nos Jogos Pequim2022. Outra russa, Alexandra Trusova, ficou em segundo e a patinadora japonesa Kaori Sakamoto em terceiro.

Valieva, atual campeã europeia, fez manchetes em todo o mundo quando realizou na capital chinesa um histórico salto quádruplo.

Mas, entretanto, outras notícias surgiram. A patinadora testou positivo a trimetazidina a 25 de dezembro último, durante os campeonatos da Rússia. A 11 de fevereiro, a Agência Russa Antidopagem (RUSADA) decidiu abrir um inquérito interno a todos os treinadores e médicos em torno de Valieva, que é “menor de idade” e, portanto, passível de ter visto os seus interesses mal defendidos por pessoas com essas funções.

A jovem foi suspensa já no decurso dos Jogos de Inverno mas, depois de o COI ter avançado para a suspensão da entrega de medalhas da prova coletiva, que a Rússia venceu e na qual Valieva participou, o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS, no acrónimo em Inglês) autorizou a atleta a manter-se nos Jogos de Pequim2022 e a poder participar na prova individual.

O tribunal deu a Kamila Valieva uma decisão favorável sobretudo porque se trata de uma menor de idade ou “pessoa protegida” e, por isso, está sujeita a regras diferentes de um atleta adulto. “O painel considerou que impedir a atleta de competir nos Jogos Olímpicos nestas circunstâncias causaria danos irreparáveis”, declarou o diretor-geral deste órgão, Matthieu Reeb.

A decisão foi polémica por vários motivos. Houve patinadoras que mostraram o seu descontentamento por estarem a concorrer conscientemente contra alguém que tinha falhado um teste de drogas, enquanto outros lamentaram que uma criança fosse envolvida num escândalo de doping. Alguns especialistas questionaram se seria seguro deixá-la competir tendo em conta a fragilidade do seu estado emocional, mas outros argumentaram que teria sido pior não a deixar competir depois de todo o esforço que ela fez para participar pela vez primeiras nuns Jogos Olímpicos.

A atleta quebrou o silêncio na terça-feira, afirmando que o escândalo do doping a deixou devastada: "Estes dias têm sido muito difíceis para mim a nível emocional. Estou feliz mas emocionalmente exausta. É por isso que estas lágrimas são de alegria, mas também um bocadinho de tristeza. Mas, claro, estou feliz por participar nos Jogos Olímpicos. Farei o meu melhor para representar o nosso país", afirmou Kamila Valieva ao canal russo Channel One.

“Vê-la no gelo olímpico, agora, com tudo o que descobrimos na última semana, não achei que fosse acontecer”, comentou Tara Lipinski, antiga patinadora, quando Valieva apresentou o seu programa curto. "E eu acho que isto não deveria estar a acontecer", disse, manifestando o seu desconforto.

Apesar de tudo, Kamila Valieva quis ir até ao fim. Terminou estes jogos em lágrimas. O sonho olímpico continua daqui a quatro anos, em Itália.

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