Ouro, saltos quádruplos inéditos e o primeiro escândalo. Kamila Valieva acusada de chumbar em teste antidoping

10 fev 2022, 11:29

Apesar de toda a pressão mediática, Kamila Valieva esteve presente no treino desta quinta-feira. A adolescente prodígio acabou por mostrar do que é capaz, com vários saltos quádruplos efetuados com sucesso. De lembrar que este era um movimento que nunca havia sido feito por uma mulher até à última segunda-feira

Na segunda-feira, impressionou o mundo. Kamila Valieva foi a primeira mulher a executar um salto quádruplo numa pista de gelo olímpica. Passado pouco mais de dois dias, o escândalo rebentou: a estrela da patinagem russa, com apenas 15 anos, está a ser acusada de ter chumbado numa testagem antidoping.

A notícia foi avançada na quarta-feira pelo portal "Insidethegames" e confirmada pelo "RBC" e "Kommersant", dois jornais russos. A informação avançada revela que Valieva terá acusado a presença de trimetazidina, uma substância proibida pelos regulamentos e que é utilizada no tratamento de doentes cardíacos, sobretudo em casos de angina do peito.

A comprovar-se, este caso terá contornos mais complexos do que o normal, porque Kamila Valieva é menor. A patinadora russa tem apenas 15 anos e, de acordo com o código anti-doping da Agência Mundial Antidoping (WADA, sigla em inglês), atletas que cometam violações por doping devem ser tornados públicos, mas tal não se aplica se o visado tiver menos de 18 anos.

No caso de Valieva, segundo a regra, qualquer anúncio adicional “deverá ser proporcional aos factos e circunstâncias do caso”.

Entrega das medalhas adiada

Para além disso, impera o silêncio. Tanto o Comité Olímpico Internacional (IOC, sigla em inglês), como a União Internacional de Patinagem (ISU, sigla em inglês) não avançaram qualquer informação sobre o alegado teste positivo de Valieva. O primeiro sinal de que haveria uma anomalia foi dado pelo porta-voz do IOC, Mark Adams, em conferência de imprensa.

“Há uma situação que foi levantada hoje [quarta-feira] e merece uma avaliação legal com a ISU (União Internacional de Patinagem, em português). Há apreciações legais envolvidas e não posso dizer muito mais nesta altura”, disse Mark Adams.

A descoberta motivou o adiamento da cerimónia de entrega das medalhas da prova por equipas de patinagem artística. O ouro iria ser entregue à Rússia, que, graças à incomparável prestação de Kamila Valieva, com dois saltos quádruplos perfeitamente executados, ultrapassou os EUA (prata) e o Japão (bronze). 

Mark Adams ressalvou que o IOC está a fazer todos os possíveis para que a situação se resolva o quanto antes e sejam entregues as medalhas, aos legítimos vencedores. “Podem apostar todo o vosso dinheiro, em como estamos todos a fazer tudo o que é possível para que esta situação seja resolvida o quanto antes, porque trata-se de atletas e atletas que ganharam medalhas envolvidos. Não posso dar mais detalhes, porque, na verdade, também não sei. Vamos tentar tudo para que se resolva o quanto antes, mas como sabem estas questões legais, por vezes, arrastam-se”, acrescentou o porta-voz.

Quem reagiu à suspeita foi o ministério do desporto da Rússia, que disse à agência Tass que é “prematuro” comentar as razões que estão por trás do adiamento da cerimónia da entrega das medalhas na prova de equipas.

A Agência Internacional de Testes (ITA, sigla em inglês), responsável por todos os despistes antidoping nos Olímpicos, também já se manifestou: “A ITA está consciente das várias notícias que estão a circular sobre o adiamento da cerimónia do pódio na competição de patinagem artística por equipas, nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim 2022. Qualquer anúncio relacionado com este tipo de eventos seria sempre publicado no site da ITA e não será comentado de qualquer outro modo. Nenhum comunicado desse tipo foi publicado até ao momento”.

Apesar do escândalo, enfrentou as objetivas

Apesar de todas as notícias, Kamila Valieva não faltou ao treino marcado para a manhã desta quinta-feira, na pista de gelo olímpica de Pequim.

Mesmo com toda a pressão mediática, a estrela russa, de apenas 15 anos, pisou o gelo e mostrou por que, no início da semana, foi notícia em todo o mundo. Valieva não fez apenas um ou dois saltos quádruplos, mas sim vários. Com uma camisola de capuz azul, calças pretas justas e uns calções vestidos, Kamila executou o movimento, que nunca tinha sido feito por uma mulher em competição, repetidas vezes.

O treino decorreu sob o olhar atento da equipa liderada pelo treinador Eteri Tutberidze e juntamente com a dupla de patinadores Trusova and Anastasia Gubanova.

“Seria muito infeliz para a Kamila se algo mau acontecesse por causa disto”, desabafou Gubanova.

Valieva sorriu e aparentava estar bem-disposta enquanto falava com os membros da equipa russa e aplaudia os saltos triplos da colega Trusova. A expressão mudou assim que foi altura de ensaiar a sua própria coreografia. A prodígio da patinagem artística deslizou até ao centro da pista e deu início à performance, como habitual, ao som de “Bolero” de Maurice Ravel.

A patinadora russa recusou, no entanto, responder a todas as questões que lhe foram colocadas pelos jornalistas na chegada ao recinto.

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