Ofer Calderon, de 53 anos, pediu nacionalidade portuguesa há dois anos ao abrigo da lei dos sefarditas. A família tenta agora acelerar o processo, depois de o Hamas ter levantado a possibilidade de libertar reféns de nacionalidades que não a israelita
Os filhos de Ofer têm já dupla nacionalidade – israelita e francesa, como a mãe – e, se se confirmar a intenção do Hamas de libertar os reféns não israelitas, podem estar incluídos no lote de pessoas que vão ser libertadas. Ofer Calderon tem apenas nacionalidade israelita. Na sexta-feira, a família solicitou um “pedido de extrema urgência” à Conservatória dos Registos Centrais (CRC) para que lhe seja atribuída a nacionalidade portuguesa, numa tentativa de lhe salvar a vida.
O major-general Isidro Morais Pereira considera que a nacionalidade portuguesa pode, de facto, salvar Ofer Calderon porque a pressão diplomática pode ser a chave para libertar os reféns como ele. “O Hamas não está em guerra outros países. Está em guerra com Israel. Israel é o foco. E o Hamas tem mostrado alguma disponibilidade para libertar reféns com outras nacionalidades. Uma disponibilidade que se insere numa manobra psicológica e de propaganda. O Hamas quer passar um pano sobre os atos horrendos que levou a cabo no dia 7 de outubro.”
O major-general lembra que a forma como a opinião pública internacional os encara “é fundamental para estes movimentos terroristas”, que pretendem “criar simpatias aos olhos do mundo”: “O Hamas quer mostrar que tem um lado humano e colocar o ónus da maldade em Israel. A família está a tentar acelerar o processo porque a própria família já percebeu que tem maior hipótese de ser libertado do que sendo só israelita. Sendo só israelita, a única hipótese será uma intervenção de Israel, que poderá ter sucesso ou não”.
Helena Ferro de Gouveia parece menos otimista em relação à possibilidade de a nacionalidade portuguesa salvar Ofer. A comentadora lembra o princípio de que não se deve confiar em terroristas. “O que o Hamas diz não tem qualquer validade.” Ainda assim, considera que a urgência da família é legítima e pode trazer vantagens. Quanto mais não seja porque a dupla nacionalidade de Ofer “permite aos países exercer alguma pressão”. “Tendo em conta que o processo já foi iniciado há dois anos, há aqui uma urgência - até por razões humanitárias - que é perfeitamente legítima. É uma vida que está em risco e tem de se tentar por todas as formas salvar o maior número de vidas possível”, acrescenta.
Na quinta-feira - avança o jornal "Público", que teve acesso ao documento -, o Governo israelita adicionou formalmente os três elementos da família Calderon à “lista dos cidadãos desaparecidos identificados como reféns”. O documento, assinado pelo brigadeiro-general Amir Vadmani, das IDF (Forças de Defesa de Israel), foi entregue pela advogada portuguesa de Ofer na CRC, que está sob alçada do Ministério da Justiça.
A 7 de outubro, Ofer foi sequestrado pelo Hamas e levado para a Faixa de Gaza, juntamente com a filha Sahar, de 16 anos, e o filho Erez, de 12, quando tentavam escapar aos terroristas que invadiram o kibutz Nir Oz, no Sul de Israel, onde viviam. No total, Israel confirma que o Hamas raptou 210 pessoas.
O Hamas diz que os reféns rondam os 250. Na última terça-feira, o jornal americano New York Times, citando um alto funcionário militar israelita, noticiou a existência da possibilidade de serem libertado os cerca de 50 reféns com dupla nacionalidade ou não israelitas, independentemente de qualquer outro acordo mais amplo que venha a ser negociado.