Tensão aumenta no Médio Oriente. Paquistão quer embaixador do Irão fora do país após "ataque à sua soberania" enquanto pensa na resposta - China apela à calma

CNN , Jonny Hallam, Asim Khan e Helen Regan
17 jan, 13:28
Sistemas de mísseis iranianos durante um exercício militar das forças terrestres do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica (IRGC) na área de Aras, província do Azerbaijão Oriental, Irão, a 17 de outubro de 2022. Wana News Agency/Reuters/File

Islamabad condena ataque mortal de mísseis iranianos ao seu território, que diz constituir "uma violação do direito internacional e dos objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas"

O Paquistão condenou veementemente, na terça-feira, um ataque aéreo iraniano dentro das suas fronteiras que matou duas crianças, classificando-o como uma "violação não provocada do seu espaço aéreo" e alertando para a possibilidade de retaliação.

O Irão afirmou que utilizou "mísseis de precisão e ataques de drones" para destruir dois redutos do grupo militante sunita Jaish al-Adl, conhecido no Irão como Jaish al-Dhulm, na zona de Koh-e-Sabz, na província de Balochistan, no sudoeste do Paquistão, segundo a agência noticiosa iraniana Tasnim.

O ataque ocorre depois de o Irão ter lançado mísseis no norte do Iraque e da Síria, na segunda-feira, na mais recente escalada das hostilidades no Médio Oriente, onde a guerra de Israel em Gaza corre o risco de se transformar num conflito regional mais vasto.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paquistão afirmou que o ataque no seu território matou "duas crianças inocentes" e avisou o Irão das "graves consequências".

Descreveu o ataque aéreo como uma "violação não provocada do seu espaço aéreo pelo Irão (...) dentro do território paquistanês".

"É ainda mais preocupante que este ato ilegal tenha tido lugar apesar da existência de vários canais de comunicação entre o Paquistão e o Irão", afirmou o ministério.

Na quarta-feira, o Paquistão chamou o seu embaixador do Irão e suspendeu todas as visitas de alto nível do Irão.

"A violação não provocada e flagrante da soberania do Paquistão pelo Irão constitui uma violação do direito internacional e dos objetivos e princípios da Carta das Nações Unidas", declarou Mumtaz Baloch, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paquistão, num discurso transmitido pela televisão.

Mumtaz Baloch, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Paquistão, adiantou que o embaixador iraniano no Paquistão não deveria regressar de uma visita ao Irão e avisou que "o Paquistão reserva-se o direito de responder a este ato ilegal".

A China exortou o Irão e o Paquistão a exercerem contenção na gestão do conflito em curso após o ataque mortal. Na quarta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês apelou aos dois países para que "evitem ações que conduzam a uma escalada da tensão e trabalhem em conjunto para manter a paz e a estabilidade na região".

O grupo militante Jaish al-Adl afirmou na terça-feira que os Guardas Revolucionários do Irão utilizaram seis drones de ataque e vários rockets para destruir duas casas onde viviam os filhos e as mulheres dos seus combatentes.

As autoridades da província do Baluchistão disseram à CNN que duas raparigas morreram e pelo menos quatro pessoas ficaram feridas. As vítimas mortais, de oito e 12 anos, foram mortas nas casas atingidas pelo ataque na aldeia de Koh-e-Sabz, em Kulag, a cerca de 60 quilómetros do distrito de Panjgur, na terça-feira à noite, segundo o comissário adjunto do distrito, Mumtaz Khetran.

Khetran disse ainda que uma mesquita perto das casas foi visada e atingida nos ataques.

Koh-e-Sabz - a cerca de 50 quilómetros da fronteira do Paquistão com o Irão - é conhecida por ser a casa do antigo segundo comandante do Jaish-al-Adl, Mullah Hashim, que foi morto em confrontos com as forças iranianas em Sarawan, uma região iraniana adjacente a Panjgur, em 2018.

No mês passado, o Irão acusou militantes do Jaish al-Adl de invadirem uma esquadra de polícia na província iraniana do Sistão e Baluchistão, o que resultou na morte de 11 polícias iranianos, segundo Tasnim.

O Jaish al-Adl, ou Exército da Justiça, é um grupo militante separatista que opera em ambos os lados da fronteira e que já reivindicou a responsabilidade por ataques contra alvos iranianos. O seu objetivo declarado é a independência da província iraniana do Sistão e do Baluchistão.

Os ataques no Paquistão ocorreram um dia depois de os Guardas Revolucionários do Irão terem lançado mísseis balísticos, visando o que afirmaram ser uma base de espionagem da agência de informação israelita Mossad em Arbil, no norte do Iraque, e "grupos terroristas anti-iranianos" na Síria.

O Irão afirmou que os ataques no Iraque foram em resposta ao que disse serem ataques israelitas que mataram comandantes da Guarda Revolucionária Iraniana, e alegou que os alvos na Síria estavam envolvidos nos recentes bombardeamentos duplos na cidade de Kerman durante um memorial ao comandante Qasem Soleimani, que fez dezenas de mortos e feridos.

O Irão defendeu os ataques como uma operação "precisa e direcionada" para dissuadir as ameaças à segurança, justificou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanaani, num comunicado na terça-feira.

Os ataques do Irão aumentam ainda mais os receios de que a guerra de Israel em Gaza possa transformar-se numa guerra em grande escala no Médio Oriente, com graves consequências humanitárias, políticas e económicas.

Os ataques no Iraque e na Síria foram condenados pelos Estados Unidos e qualificados como "imprudentes" e imprecisos, enquanto as Nações Unidas afirmaram que "as preocupações de segurança devem ser abordadas através do diálogo e não de ataques".

O Iraque afirmou que apresentou uma queixa ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e à ONU na terça-feira. O ministro iraquiano dos Negócios Estrangeiros, Fuad Hussein, afirmou que não existem centros afiliados à Mossad a operar em Arbil, na região semi-autónoma do Curdistão.

Preocupações com a escalada da guerra

Os bombardeamentos incessantes de Israel em Gaza, em resposta aos ataques terroristas de 7 de outubro do Hamas, já mataram mais de 24.000 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde gerido pelo Hamas, e provocaram uma devastação generalizada, uma vez que os civis vivem sob a ameaça de morte iminente - seja por ataque aéreo, fome ou doença.

O conflito provocou uma escalada das hostilidades em toda a região, com os aliados e os representantes do Irão - o chamado eixo da resistência - a lançarem ataques contra as forças israelitas e os seus aliados.

Na terça-feira, as forças armadas norte-americanas lançaram novos ataques contra alvos Houthis no Iémen, visando mísseis balísticos antinavio controlados pelo grupo rebelde apoiado pelo Irão, disse um responsável da defesa à CNN.

Poucas horas depois, os Houthis lançaram um míssil contra as rotas marítimas internacionais no sul do Mar Vermelho, atingindo o M/V Zografia, navio mercante de bandeira maltesa.

Terá sido a terceira ronda de ataques que os militares norte-americanos lançaram contra as infraestruturas dos Houthis desde quinta-feira, quando EUA e Reino Unido conduziram uma operação conjunta que visou comandos e depósitos de armas utilizados pelos Houthis para lançar mísseis e ataques de drones contra a navegação comercial no Mar Vermelho.

As tropas americanas no Iraque e na Síria também têm sido repetidamente alvo de ataques com mísseis e drones por parte de representantes de Teerão. Na semana passada, os Estados Unidos realizaram um ataque em Bagdade que matou um líder de um grupo apoiado pelo Irão que Washington responsabilizou pelos ataques contra as forças americanas na região.

Além disso, intensificaram-se os combates entre Israel e o poderoso grupo Hezbollah, apoiado pelo Irão, do outro lado da fronteira libanesa. No domingo, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, prometeu continuar os confrontos com as forças israelitas na fronteira com o Líbano até ao fim da ofensiva israelita em Gaza.

*Wayne Chang e Sophia Saifi contribuiram para este artigo

Relacionados

Médio Oriente

Mais Médio Oriente

Patrocinados