A Índia começou esta sexta-feira a votar nas eleições gerais. O processo durará seis semanas. Contam-se quase mil milhões de eleitores
Os indianos começaram a votar numa eleição que deverá dar ao primeiro-ministro Narendra Modi mais cinco anos no cargo, para assim continuar a orientar a rápida expansão económica do país.
Sob a sua liderança, a Índia está preparada para tornar-se uma superpotência económica do século XXI, apresentando uma verdadeira alternativa à China para investidores e marcas de consumo que buscam crescimento e fabricantes que procuram reduzir riscos nas suas cadeias de abastecimento.
À medida que as relações entre Pequim e o Ocidente se desgastam, a Índia tira partido dos relacionamentos saudáveis que tem com a maioria das economias e está, de uma forma agressiva a cortejar grandes empresas, para que instalem fábricas no país.
Será então justificado o entusiasmo à volta da Índia de Modi, que continua a ser um país em grande parte empobrecido?
A qualidade dos dados económicos na Índia pode não ser confiável, o que torna difícil avaliar a realidade no terreno, naquela que é a nação mais populosa do mundo.
Contudo, ao utilizar dados de fontes oficiais ou autorizadas, a CNN criou cinco gráficos para demonstrar a evolução do país desde que Modi chegou ao poder em 2014, e para traçar perspetivas para o futuro, para os desafios que o próximo líder irá enfrentar na gestão da economia com o crescimento mais rápido do mundo.
Ainda muito pobre
A economia da Índia valia 3,7 biliões de dólares (cerca de 3,5 biliões de euros), tornando-a a quinta maior economia do mundo, tendo subido quatro lugares nos rankings durante a última década com Modi no poder.
Esta gigante economia do sul da Ásia está confortavelmente posicionada para se expandir a um ritmo anual de pelo menos 6% nos próximos anos, mas os analistas dizem que deveria ter um crescimento de 8% ou mais se quiser tornar-se uma superpotência económica.
Uma expansão sustentada irá empurrar a Índia para uma posição mais alta junto das maiores economias, com alguns observadores a preverem que o país ocupará o terceiro lugar, apenas atrás dos Estados Unidos e da China, até 2027.
No entanto, a Índia poderia fazer muito mais para aumentar o seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita, uma das medidas dos padrões de vida, onde se encontrava na posição 147 em 2022, segundo o Banco Mundial.
Segundo Guido Cozzi, professor de macroeconomia na University of St Gallen, na Suíça, haverá “efeitos de propagação no PIB per capita” à medida que a economia cresce. Contudo, avisa que “não garante a redução da desigualdade nos rendimentos, podendo ser necessárias medidas que promovam um crescimento inclusivo.
Construir uma Índia moderna
Tal como a China fez há mais de três décadas, a Índia está a começar uma enorme transformação nas suas infraestruturas, gastando milhares de milhões na construção de estradas, caminhos-de-ferro, portos e aeroportos. Entretanto, investidores privados estão a desenvolver a maior central do mundo dedicada à energia verde.
Só no orçamento federal deste ano, foram destinados 134 mil milhões de dólares (cerca de 126 mil milhões de dólares) em gastos para impulsionar a expansão económica.
Os resultados podem ser vistos no terreno com uma construção furiosa que cruza todo o país. A Índia juntou quase 55 mil quilómetros à sua rede rodoviária, um aumento de 60% na extensão total, entre 2014 e 2023. O desenvolvimento de infraestruturas traz muitos benefícios para a economia, incluindo a criação de emprego e maiores facilidades para fazer negócios.
Nos últimos anos, o país também construiu uma série de plataformas tecnológicas – conhecidas como infraestruturas públicas digitais – que transformaram vidas e negócios.
Por exemplo, o programa Aadhaar, lançado em 2009, forneceu, pela primeira vez, um documento de identidade a milhões de indianos. A maior base de dados biométricos do mundo também ajudou o governo a poupar vários milhões, ao reduzir a corrupção em iniciativas na área do bem-estar social.
Outra plataforma, a Unified Payments Interface (UPI), permite aos utilizadores fazerem pagamentos instantâneos ao fazer a leitura de um código QR. Foi adotada por indianos de todas as idades, com diferentes ocupações, fazendo com que muitos valores fluíssem para a economia formal.
Em setembro de 2023, citando um relatório do Banco Mundial, Modi afirmou que, graças às infraestruturas públicas digitais, a “Índia alcançou metas de inclusão financeira em apenas seis anos, o que de outra forma teria levado pelo menos 47 anos”.
Superpotência no mercado de ações
O entusiasmo à volta do potencial de crescimento da Índia reflete-se no mercado bolsista, que tem atingido máximos históricos. O valor das empresas listadas na bolsa indiana ultrapassou os 4 mil milhões de dólares (cerca de 3,8 mil milhões de euros) no final do ano passado.
A Índia tem duas praças em destaque: a National Stock Exchange of India (NSE) e a BSE, a bolsa mais antiga da Ásia, antes conhecida como Bombay Stock Exchange.
Graças à sua intensa recuperação, a NSE ultrapassou tanto a Shenzhen Stock Exchange como a Shenzhen Stock Exchange, tornando-se a sexta maior praça do mundo, segundo dados da World Federation of Exchanges de janeiro.
Os investidores nacionais, tanto retalhistas como institucionais, têm levado o mercado de ações da Índia a picos sem precedentes.
Segundo a Macquarie Capital, só os investidores de retalho detêm 9% do valor do mercado acionista da Índia, enquanto os investidores estrangeiros detêm um pouco menos de 20%. Os analistas, contudo, esperam que os investimentos estrangeiros aumentem no segundo semestre de 2024, assim que o processo eleitoral esteja concluído.
O zumbido das fábricas
O governo de Modi está, de uma forma agressiva, a tentar tirar partido de um novo pensamento em curso entre as empresas que fazem parte de cadeias de abastecimento. As empresas multinacionais querem diversificar as suas operacionais fora da China, onde encontraram obstáculos durante a pandemia e que são ameaçadas pela tensão crescente entre Pequim e Washington.
A terceira maior economia da Ásia um programa de incentivo à produção no valor de 26 mil milhões de dólares (cerca de 22 mil milhões de euros) para atrair empresas, levando-as a instalar a sua produção num de 14 setores, que vão desde a eletrónica à indústria automóvel e farmacêutica ou de aparelhos médicos.
Como consequência, algumas das maiores empresas do mundo, incluindo a Foxconn, que é fornecedora da Apple, estão a expandir as suas operações de uma forma significativa na Índia.
O multimilionário Elon Musk afirmou na rede social X que estava “desejoso” para conhecer Modi na Índia, não apontando, contudo, uma data. O dono da Tesla deverá anunciar um grande investimento na Índia em breve, com a fabricante automóvel alegadamente a percorrer o país para encontrar uma localização adequada para a sua primeira fábrica asiática fora da China.
Até há dois anos, a Apple costumava começar a montar os seus aparelhos no país apenas sete a oito meses depois do lançamento de novos modelos. Tal mudou em setembro de 2022, quando a empresa começou a produzir o novo iPhone 14 na Índia algumas semanas depois de ter começado a vendê-lo.
Os analistas consideraram esta mudança de estratégia uma grande vitória para Modi, uma vez que os crescentes laços produtivos com uma gigante norte-americana como a Apple irão, por sua vez, atrair para a Índia outros protagonistas do ecossistema global de produção eletrónica.
Segundo um estudo da empresa de análises de mercado Canalys, até 23% dos iPhones serão produzidos na Índia até ao final de 2025 – o que compara com os 6% de 2022.
Onde estão os empregos?
Apesar de tudo, a economia da Índia, tal como a sua democracia, está longe de ser perfeita. Se voltar a ser eleito, Modi enfrentará enormes desafios para criar centenas de milhões de empregos para uma população que continua, na sua maioria, empobrecida.
Com uma média de idade de 28 anos, a Índia tem uma das populações mais jovens do mundo. Contudo, o país ainda não é capaz de colher os potenciais benefícios económicos por ter uma grande população jovem.
Segundo um relatório publicado no mês passado pela Organização Internacional do Trabalho, os indianos instruídos entre os 15 e os 29 anos têm maiores probabilidades de estar desempregados do que aqueles sem qualquer escolaridade, o que reflete “uma incompatibilidade entre as suas aspirações e os empregos disponíveis”.
As taxas de desemprego juvenil na Índia são agora superiores aos níveis globais, foi ainda referido. A taxa era de 29% entre os jovens indianos com pós-graduação, quase nove vezes superar à registada naqueles que não sabem ler nem escrever, mostrou o relatório.
“A economia indiana não tem sido capaz de criar um número suficiente de empregos remunerados nos setores não agrícolas para os novos jovens qualificados que integram a força de trabalho, o que se reflete na elevada e crescente taxa de desemprego”, acrescentou.