"Temos conseguido ver quem são as pessoas e quem são as bestas": Zelensky aplaudido de pé pelo parlamento britânico

CNN Portugal , MJC
8 mar 2022, 18:57

Zelensky agradeceu a “ajuda dos países civilizados” e do primeiro-ministro, Boris Johnson, mas disse que é necessário mais. E citou um herói intemporal para sublinhar o heroísmo de pessoas deste tempo, os ucranianos: "A questão é, citando Shakespeare, ser ou não ser. E a resposta é necessariamente ser. Nós não vamos desistir e não vamos perder"

Aplaudido de pé pelos membros do parlamento do Reino Unido, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenksy dirigiu-se esta terça-feira aos deputados britânicos por videoconferência para lamentar que a NATO não tenha respondido aos apelos da Ucrânia, nomeadamente no que toca à implementação de uma zona de exclusão aérea essencial para impedir os bombardeamentos russos. "Mais de 50 crianças já morreram nesta guerra" e estas eram vidas que poderiam ter sido poupadas, disse.

O presidente ucraniano afirmou que a decisão do Tribunal Penal Internacional de investigar a Rússia por crimes de guerra lhe deu esperança de que haverá consequências. Mas não considera que isso seja suficiente.

Zelensky sublinhou que falava aos deputados ingleses como cidadão e como presidente de um grande país e comparou a luta da Ucrânia contra a Rússia ao esforço de guerra britânico contra a Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial. "Não queremos perder o que temos, o que é nosso, o nosso país, Ucrânia. Da mesma forma que vocês não queriam perder o vosso país e tiveram de lutar pela Grã-Bretanha. No primeiro dia, às 4 da manhã, fomos atacados por mísseis-cruzeiros. Todas as pessoas acordaram, as crianças, toda a Ucrânia, e desde então não temos dormido. Temos todos lutado pelo nosso país."

O presidente ucraniano recordou os acontecimentos dos vários dias: "No segundo dia, continuámos a lutar e percebemos a força do nosso povo para lutar até ao fim".  Ao longo destes dias, com os ataques de artilharia e com os bombardeamentos, o mundo tem "conseguido ver quem são as pessoas e quem são as bestas", disse Zelensky. "Ao quinto dia, vimos a violência contra os civis e contra as crianças, os nossos hospitais foram atacados e isso não nos quebrou. Ao sexto dia, os bombardeamentos da Rússia atingiram igrejas."

O chefe de Estado ucraniano recordou o dia em que os russos tomaram a central nuclear de Zaporizhzhia: "Este foi um ataque a todas as pessoas". E o dia em que percebeu que "as alianças nem sempre funcionam muito bem" - foi o dia em que a NATO recusou implementar uma zona de exclusão aérea. Ao 12º dia, disse Zelensky, as baixas no exército russo atingiram as 10 mil e isso deu alento aos ucranianos.

Ao longo destes dias, as pessoas têm vivido com inúmeras dificuldades, sem água e com poucos alimentos. Constantemente a fugir para os abrigos. E a lutar . "A Ucrânia nunca quis ser grande mas temo-nos tornado grandes ao longo desta guerra. O povo ucraniano povo demonstrou um esforço heróico contra as forças russas. Apesar de estarmos perante um dos exércitos mais fortes do mundo, nós, ucranianos, temos de lutar. A questão é, citando Shakespeare, ser ou não ser. E a resposta é necessariamente ser. Nós não vamos desistir e não vamos perder, vamos lutar pelo nosso país até ao fim, no mar, na terra, no céu, custe o que custar. Vamos lutar nas florestas, nos campos, nas margens, nas ruas."

No final do discurso, Zelensky agradeceu a “ajuda dos países civilizados” e do primeiro-ministro, Boris Johnson, mas disse que é necessário mais. "Por favor, aumentem a pressão das sanções contra aquele país [Rússia] e reconheçam esse país como um Estado terrorista. E, por favor, garantam que os nossos céus ucranianos são seguros. Por favor, certifiquem-se de que fazem o que precisa de ser feito”, disse. "Por favor, façam com que a Ucrânia continue a ser um país soberano e a ter alguma segurança."

No final, Boris Johnson elogiou a coragem dos ucranianos envolvidos na defesa do país contra a invasão russa e reiterou a determinação em ajudar a Ucrânia com armas, "apertando o nó económico” com sanções, incluindo o fim da importação de petróleo russo. “Vamos usar todos os métodos que pudermos - diplomáticos, humanitários e económicos - até que Vladimir Putin falhe neste ataque desastroso e a Ucrânia seja livre mais uma vez.”

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, manifestou admiração por Zelensky ter ficado no país para lutar e reiterou o apoio ao Governo na aplicação de sanções e outras medidas. O líder dos Liberais Democratas, Ed Davey, sugeriu que o Presidente ucraniano seja distinguido com o título “cavaleiro honorário”.   

A intervenção de Zelensky foi inédita: quando líderes estrangeiros são convidados a discursar no parlamento britânico fazem-no pessoalmente e os próprios deputados estão impedidos de participar nos trabalhos remotamente. O discurso, em ucraniano, foi transmitido em ecrãs instalados na câmara e traduzido simultaneamente, o qual foi escutado pelos deputados através de auscultadores.

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