"O lado de besta dos russos": vídeos de decapitação de prisioneiros de guerra levam Kiev a pedir reação do Ocidente

12 abr 2023, 11:37
Vista da cidade de Bakhmut (Libkos/AP)

Autoridades da Ucrânia já abriram investigação ao caso que o Kremlin classificou como sendo "imagens terríveis" cuja autenticidade tem de ser verificada

Dois vídeos partilhados nas redes sociais mostram aquilo que poderão ser novos crimes de guerra na Ucrânia. As imagens mostram forças do Grupo Wagner, num dos casos, e do exército russo, no outro, a decapitarem prisioneiros de guerra.

A CNN Internacional nota que os dois vídeos devem ser de casos diferentes, admitindo que um deles tenha sido filmado recentemente, enquanto o outro, pela vegetação presente na imagem, será do verão.

No caso do primeiro vídeo, amplamente partilhado por contas pró-russas nas redes sociais a partir do dia 8 de abril, terá sido filmado por mercenários do Grupo Wagner, a organização paramilitar russa que combate na Ucrânia desde o início ao serviço do Kremlin. As imagens mostram dois corpos, alegadamente de soldados ucranianos, decapitados no chão, ao lado de um veículo militar destruído.

Ouve-se alguém a falar, com a voz distorcida, dizendo que “[o veículo] foi destruído por uma mina”. O idioma utilizado é o russo, num vídeo em que se ouve ainda que “eles vieram contra eles e cortaram-lhes as cabeças”. O vídeo sugere ainda que também as mãos dos prisioneiros foram cortadas.

As partilhas que acompanham as imagens afirmam que as mesmas foram realizadas em Bakhmut, cidade altamente disputada há meses, e onde a Rússia tem conseguido pequenos avanços nos últimos tempos, nomeadamente através do Grupo Wagner. De resto, o líder dos mercenários, Yevgeny Prigozhin, está há várias semanas no local.

Já no caso do segundo vídeo, o tal que terá sido filmado no verão, pode ver-se um soldado russo a utilizar uma faca para cortar a cabeça a um soldado ucraniano ainda vivo. Isso é possível perceber pelo movimento da vítima, mas também por uma voz que acompanha as imagens, e que sugere que o homem ainda está vivo no início de tudo.

O que dizem Kiev e Moscovo

Dois casos que já mereceram o mais alto repúdio das autoridades ucranianas, chegando mesmo ao governo. O presidente, Volodymyr Zelensky, pediu que a Rússia seja responsabilizada pela situação, afirmando que “ninguém no mundo pode ignorar a facilidade com que estas bestas matam”.

"Isto não é um acidente. Não é um episódio. Já aconteceu antes. Foi o que aconteceu em Bucha. Milhares de vezes. Todos têm de reagir, todos os líderes", acrescentou. Uma opinião partilhada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, que acusou a Rússia de ser pior que o Estado Islâmico, classificando mesmo de "absurdo" que o país liderado por Vladimir Putin esteja a presidir ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

O caso motivou a abertura de uma investigação por parte do Serviço de Segurança da Ucrânia, que fala num "vídeo que mostra o lado de besta dos ocupantes russos, ao torturarem brutalmente um prisioneiro ucraniano, cortando-lhe a cabeça”.

No início desta semana o Instituto para o Estudo da Guerra, um think tank norte-americano, afirmou que o Grupo Wagner "continua a cometer crimes de guerra ao decapitar soldados ucranianos em Bakhmut", acrescentando que casos semelhantes também tinham sido identificados em Popasna.

Mas a acusação também é inversa. Várias contas pró-russas alegam nas redes sociais a decapitação de soldados parte do lado ucraniano. Algo que vai ao encontro do que Yevgeny Prigozhin disse em janeiro, quando ele e os seus soldados disseram ter encontrado vários corpos com mãos atadas e sem as cabeças na chegada a Bakhmut.

A reação da Rússia veio através do porta-voz do Kremlin, que afirmou que os vídeos em causa são “imagens terríveis”, pedindo que se verifique a autenticidade das mesmas. “É preciso perceber se isto aconteceu. E se sim, perceber onde e da parte de quem”, acrescentou Dmitry Peskov, que falou num “mundo de falsidades”, em que “é necessário verificar a autenticidade destas imagens”.

Entretanto o líder do Grupo Wagner negou que os seus soldados estejam envolvidos no caso.“Já vi o vídeo. É mau quando as cabeças das pessoas são cortadas, mas não encontrei nada que sustente que isto está a acontecer perto de Bakhmut ou que os soldados do Grupo Wagner tenham participado nesta execução”, afirmou Yevgeny Prigozhin.

A Organização das Nações Unidas destacou que estes dois vídeos não são casos únicos na guerra da Ucrânia, ainda que se confesse "chocada pelos vídeos". Num pequeno comunicado a Missão de Monitorização dos Direitos Humanos das Nações Unidas na Ucrânia acrescentou que este "não é um incidente isolado".

"Em relatórios recentes a missão documentou várias violações graves do Direito Internacional, incluindo algumas cometidas contra prisioneiros de guerra. Os últimos incidentes devem ser investigados adequadamente e os autores devem ser responsabilizados", pode ler-se no comunicado.

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