Crimes de guerra na Ucrânia: as acusações, as provas e a resposta do Ocidente

CNN Portugal , BCE
3 abr 2022, 13:24

À medida que as tropas russas vão deixando o Norte da Ucrânia, as autoridades dos locais agora desocupados mostram uma realidade de horror: corpos de civis pelas ruas, de mãos atadas, queimados ou enterrados em valas comuns

Ao fim de quase 40 dias de guerra na Ucrânia, as tropas russas estão a bater em retirada do Norte do país, dirigindo-se agora para o Leste e Sul da Ucrânia. Para trás, deixam um rasto de destruição e do que parecem ser provas de crimes de guerra cometidos contra civis, que mostram os contornos mais violentos da designada "operação militar" da Rússia.

Há registos fotográficos de homens mortos nas ruas, com as mãos atadas atrás das costas, corpos de mulheres nuas abandonados na estrada e animais abatidos. É a "estrada da morte", dizem os ucranianos, sobre o percurso de retirada das tropas russas, tal a violência com que se deparam nas ruas vazias. Imagens chocantes desta realidade foram partilhadas com a imprensa pelo gabinete do presidente da Ucrânia, Volodymy Zelensky, e foram testemunhadas pelos jornalistas no local: civis em fuga, desarmados, terão sido apanhados pela fúria dos russos, que garantem desde o início da guerra que não têm civis como alvo.

Já este domingo, a organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) denunciou execuções sumárias, violações, casos de violência e ameaças contra civis cometidos pelas forças russas na Ucrânia entre 27 de fevereiro e 14 de março, em áreas ocupadas nas regiões de Chernobyl, Kharkiv e Kiev.

Os casos apresentados no relatório divulgado pela organização, que entrevistou 10 pessoas, incluindo testemunhas, vítimas e residentes dos territórios ocupados pela Rússia, mostram a "crueldade inexplicável e a violência deliberada contra civis por parte das forças armadas russas, que, no entender da HRW, devem ser investigadas como crimes de guerra".

Massacre deliberado

Mas crimes contra civis são relatados um pouco por todo o território ucraniano. Também este domingo, numa entrevista à BBC, o conselheiro do presidente Zelensky, Sergey Nikiforov, descreveu o cenário encontrado nas cidades de Bucha, Hostomel e Irpin, próximas da capital da Ucrânia, como "de partir o coração".

Segundo Nikiforov, as forças ucranianas encontraram valas comuns, pessoas com as mãos e pés atados e os corpos de civis executados com balas na cabeça.

"É muito difícil de compreender porque é que isto está a acontecer. É brutalidade pura. Não há necessidade militar de fazer isto", disse, acrescentando que também foram encontrados corpos queimados pela metade, como se os russos quisessem esconder os seus crimes mas tivessem ficado sem tempo para o fazer.

Só em Bucha, segundo as autoridades locais, terão sido enterrados em valas comuns os corpos de 300 pessoas, para além dos cadáveres de cerca de 20 civis encontrados mortos pela estrada.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, por sua vez, considerou que "o massacre de Bucha foi deliberado", afirmando que "os russos querem eliminar tantos ucranianos quanto conseguirem".

"Temos de os parar agora. Exijo novas sanções devastadoras do G7 agora", acrescentou Dmitry Kuleba, numa publicação no Twitter onde elencou as sanções que quer ver implementadas contra a Rússia, nomeadamente um embargo no petróleo, gás e aço, o encerramento de todos os portos marítimos a navios e bens russos e a desconexão de todos os bancos russos do sistema SWIFT.

As reações do Ocidente

Liz Truss, ministra dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, defendeu que "os ataques indiscriminados contra civis inocentes durante a invasão russa ilegal e injustificada devem ser investigados como crimes de guerra".

"À medida que as forças russas são obrigadas a retirar, estamos a ver provas crescentes de atos terríveis das forças invasoras em cidades como Irpin e Bucha", lê-se no comunicado. "Os ataques indiscriminados a civis inocentes durante a invasão ilegal e injustificada da Rússia na Ucrânia têm de ser investigados como crimes de guerra".  

Por sua vez, a presidente da Comissão Europeia, Von der Leyen, disse estar "chocada com os relatos de horrores indescritíveis" dos territórios agora desocupados pela Rússia e defendeu a necessidade de uma "investigação independente".

"Os autores destes crimes de guerra serão responsabilizados", garantiu, numa mensagem publicada no Twitter.

Também o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse estar "chocado com as imagens assustadoras das atrocidades cometidas pelo exército russo nos arredores de Kiev", citando o "massacre em Bucha", onde cerca de 300 pessoas foram enterradas "em valas comuns", de acordo com o presidente do município.

Numa publicação na rede social Twitter, Michel adiantou que "a União Europeia está a apoiar a Ucrânia e organizações não-governamentais na recolha de evidências necessárias para avançar para os tribunais internacionais".

E prometeu "mais sanções" contra a Rússia. "Estão a caminho", disse, no final da publicação.

Europa

Mais Europa

Mais Lidas

Patrocinados