Movimentações no Ártico: há evidências de testes com uma das "super armas" de Putin - de alcance "ilimitado"

2 out 2023, 19:57
Teste com míssil balístico intercontinental da Rússia (AP)

Foi uma das relevações do presidente russo em 2018, mas os testes têm falhado constantemente. Imagens de satélite mostram que se prepararam novos testes

A Rússia pode estar a preparar ou pode até já ter testado um míssil de cruzeiro com capacidade para transportar ogivas nucleares. É o que indicam análises feitas pelo The New York Times, que identificou várias movimentações de aviões e de veículos numa base russa no Ártico, num padrão semelhante ao identificado em 2017 e 2018, quando Moscovo testou o míssil Burevestnik.

Este míssil foi uma das revelações feitas pelo presidente da Rússia a 1 de março de 2018, quando Vladimir Putin desvendou as seis "super armas" do exército russo. O Burevestnik, que a NATO apelida de SSC-X-9 Skyfall, foi anunciado como uma das grandes armas estratégicas de última geração da Rússia, com o exército a garantir que teria um alcance praticamente ilimitado.

"Um míssil de cruzeiro furtivo e voando baixo carregando uma ogiva nuclear com alcance virtualmente ilimitado, a sua trajetória de voo imprevisível e a capacidade de contornar as linhas de interceção é invulnerável ​​a todos os sistemas existentes e futuros, tanto de defesa antimísseis como de defesa aérea", nas palavras do Ministério da Defesa da Rússia, que divulgou um vídeo a sustentar o anúncio do presidente.

Aviões de vigilância norte-americanos também foram vistos no local nas duas últimas semanas, sendo que alguns desses voos receberam avisos russos para evitar o espaço.

Imagens recolhidas a 20 de setembro permitiram identificar uma série de veículos na zona de lançamento. Entre eles estava um camião com um atrelado que tem sensivelmente as mesmas dimensões que este míssil. Além disso, os norte-americanos notaram que um abrigo normalmente utilizado para lançamentos de teste foi movido alguns metros nesse mesmo dia. No dia a seguir o camião já não estava lá e o abrigo tinha voltado ao ponto de origem.

Uma semana depois, a 28 de setembro, novas imagens de satélite mostraram a rampa de lançamento ativa, evidenciando-se ainda a presença de um atrelado semelhante ao da primeira vez, além de que o abrigo tinha sido novamente movido.

Um aviso das autoridades russas dá ainda mais credibilidade à ideia de que a Rússia realizou ou pensa realizar um teste com este míssil. É que a 31 de agosto foi emitido um aviso de aviação a indicar uma “área de perigo temporário”, pedindo a todos os pilotos que evitassem parte do Mar de Barents e uma área a cerca de 20 quilómetros do local da base, conhecido como Pankovo. Esse mesmo aviso tem sido renovado por várias vezes, encontrando-se em vigor até 6 de outubro. De resto, quando fez um teste ao Burevestnik em 2019, a Rússia emitiu um aviso semelhante.

A organização ambiental norueguesa Bellona identificou ainda a presença de dois aviões russos especializados em recolha de dados de lançamentos de míssil a 160 quilómetros do local de lançamento no início de agosto. As duas aeronaves, que pertencem à Rosatom, a agência russa para a energia, permaneceram no local até 26 de setembro. Tal como nos outros indicadores, a Rússia também fez movimentos semelhantes em alguns dos testes com o Burevestnik.

Vários testes, pouco sucesso

A Rússia já conduziu um total de 13 testes com esta arma entre 2017 e 2019, mas, segundo o Nuclear Threat Initiative, nenhum deles foi bem-sucedido. Um dos mais recentes terá corrido mesmo da pior maneira. Fontes do exército norte-americano garantem que sete pessoas morreram depois de um míssil ter explodido em 2019, quando as autoridades tentavam recuperar a ogiva num braço do Mar de Barents.

Foi um dos vários problemas com este míssil, que falhou constantemente em cumprir a distância que se estima que pode alcançar, cerca de 22 mil quilómetros, apesar de a Rússia o ter anunciado como tendo um alcance "virtualmente ilimitado". No teste mais bem-sucedido, e segundo responsáveis norte-americanos, o míssil esteve no ar durante apenas dois minutos, tendo percorrido pouco mais de 35 quilómetros antes de se despenhar no mar.

O Nuclear Threat Initiative refere que esta é uma “arma de alcance estratégico” desenhada para ser utilizada num “segundo ataque”. O mesmo é dizer que é um dos últimos recursos da Rússia, que reserva a utilização do Burevestnik para depois de alvos terem sido atingidos com bombas nucleares no seu próprio território.

Desenhado para transportar mísseis convencionais, este míssil também é capaz de transportar carga nuclear, ainda que não se espere que seja capaz de carregar as ogivas mais potentes. Em todo o caso, e segundo os especialistas ouvidos pelo The New York Times, um ataque bem-sucedido com este míssil seria capaz de destruir grande parte de uma cidade.

Ao contrário do Burevestnik, outras das armas estratégicas apresentadas por Vladimir Putin em 2018 já estão ao serviço do exército russo, algumas delas até já com aplicação na guerra da Ucrânia. É o caso dos mísseis hipersónicos Kinzhal, mas também dos mísseis Avangard, Sarmat, Zircon ou do torpedo Poseidon.

Na altura estas seis armas estratégicas foram anunciadas pelo Kremlin como uma forma de contornar a capacidade dos Estados Unidos de se defenderem de ataques russos. “Falharam em conter a Rússia”, disse mesmo o presidente.

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