Putin saiu a ganhar da "crise diplomática" entre Polónia e Ucrânia. E a Europa está "furiosa"

CNN Portugal , BCE
23 set 2023, 19:04
Volodymyr Zelensky com o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki (AP Photo)

A Polónia mudou de postura em relação à Ucrânia: primeiro, juntou-se à Hungria e à Eslováquia para manter o embargo às importações de cereais ucranianos, e depois anunciou que vai deixar de enviar armas para Kiev. No final, quem saiu a ganhar foi o presidente Vladimir Putin

O apoio da Europa à Ucrânia, que até agora parecia incondicional, enfrentou esta semana um desafio inesperado, quando a Polónia - até então o mais fiel aliado de Kiev entre os países europeus - anunciou que ia deixar de fornecer armas ao país vizinho. Isto depois de se ter juntado à Hungria e à Eslováquia para manter a proibição das importações dos cereais ucranianos, à revelia de Bruxelas.

Como resposta, a Ucrânia resolveu processar os três países no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), acusando-os de violarem o direito europeu ao proibirem, unilateralmente, a importação de produtos ucranianos, desafiando assim uma decisão da Comissão Europeia. É que em maio deste ano, o executivo comunitário chegou a acordo com cinco países do leste da Europa - Polónia, Hungria, Eslováquia, Bulgária e Roménia - para proibir temporariamente a importação de cereais e outros produtos agrícolas ucranianos, de modo a proteger os agricultores daqueles países dos preços mais baratos dos cereais ucranianos.

Na semana passada, cerca de seis meses após a entrada em vigor deste embargo, a Comissão Europeia decidiu levantar estas restrições, justificando a decisão por não ver "distorções no mercado daqueles cinco Estados-membros". Polónia, Hungria e Eslováquia revoltaram-se contra a decisão e resolveram manter o embargo à importação de cereais ucranianos.

A posição da Polónia não caiu bem em Kiev e Zelensky fez questão de o demonstrar na Assembleia Geral das Nações Unidas: "É perturbador ver como, nesta altura, alguns na Europa, países amigos, estão a minar a solidariedade e a encenar teatro político, fazendo dos cereais um thriller.”

No dia seguinte, chegaram da Polónia declarações que fizeram soar os alarmes na Ucrânia: "Já não estamos a transferir armas para a Ucrânia porque agora estamos a armar a Polónia." O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, nas redes sociais. Numa entrevista divulgada no mesmo dia, Morawiecki acrescentou que o governo estava agora focado em equipar o próprio exército com "as armas mais modernas".

As declarações do primeiro-ministro causaram polémica, uma vez que, até então, a Polónia assumia-se como o principal fornecedor de armas à Ucrânia. Mais tarde, o presidente polaco, Andrezj Duda, veio a público afirmar que as declarações de Mateusz Morawiecki foram “interpretadas da pior forma possível”.

No mesmo dia, durante um comício na cidade de Swidnik, o primeiro-ministro polaco fez duras críticas a Volodymyr Zelensky, acusando-o de "insultar" os polacos perante a Assembleia Geral das Nações Unidas: "Quero dizer ao presidente Zelensky para nunca mais insultar os polacos como fez recentemente durante o seu discurso na ONU. Os polacos nunca o permitirão, e defender o bom nome da Polónia não é apenas um dever e uma honra para mim, mas é a tarefa mais importante do governo polaco. Defenderemos todos as nossos direitos no atual contexto geopolítico e sabemos como esses direitos devem ser moldados."

"É tudo conversa de eleições"

Apesar da mudança de postura da Polónia, fontes europeias garantem à CNN Internacional que esta "crise diplomática" não é motivo para preocupações. “Isto é tudo conversa de eleições", assume uma fonte oficial da defesa europeia, que lembra que a Polónia vai a votos já no próximo dia 15 de outubro. Uma vez que as sondagens não são muito favoráveis ao PiS, partido que está no poder, a mesma fonte argumenta que a estratégia do governo passa agora por apelar ao voto dos agricultores, que constituem uma parte muito importante do eleitorado.

Um funcionário da NATO não identificado pela CNN Internacional diz não ter dúvidas de que "a Polónia vai continuar a enviar armas à Ucrânia". Já uma fonte da União Europeia lembra que "os polacos têm um interesse vital na vitória da Ucrânia, pois, caso contrário, ficarão diretamente expostos ao seu arqui-inimigo". Mas "têm de se armar em fortes agora por causa das eleições", considera.

Apesar deste otimismo declarado de algumas fontes europeias, a verdade é que nem todos pensam desta forma. Segundo a CNN Internacional, várias figuras um pouco por toda a Europa "estão furiosas" com os eventos desta semana, sobretudo porque não duvidam que vão ser aproveitados por Putin.

Ainda esta semana, quando questionado sobre esta postura da Polónia e da Ucrânia, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou saber de "certas tensões entre Varsóvia e Kiev". "Prevemos que estas tensões vão aumentar", advertiu.

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