Alina e Hanna estão sozinhas no museu em Kherson. Os russos roubaram todas as obras de arte

27 nov 2022, 15:29
Museu em Kherson

Pilhagem de património repete-se nas cidades que foram controladas pelas forças russas mas entretanto recuperadas pela Ucrânia

As divisões do Museu Oleksiy Shovkunenko não estão apenas escuras e vazias. O edifício imperial, que abrigava uma das coleções de arte mais ricas da Ucrânia, está agora praticamente vazio. Os russos roubaram mais de 14 mil obras de arte.

É um dos exemplos mais marcantes da atuação dos russos, que pilharam tudo o que puderam em Kherson antes da retirada da cidade que controlaram durante longos meses. De equipamentos médicos a um guaxinim que vivia no zoológico, passando pelas obras de arte. O mesmo aconteceu, por exemplo, nos museus de Mariupol.

Museu Oleksiy Shovkunenko antes da invasão russa

Alina Dotsenko, de 72 anos, é uma das resistentes neste museu de Kherson. Segundo conta o Kyiv Independent, Alina foi resistindo como podia: fez um inventário das obras, procurou esconder alguns dos quadros mais preciosos. Mas, em maio, teve de fugir para território controlado pela Ucrânia, após se ter recusado a receber no museu um evento de celebração do Dia da Vitória, realizado pelas autoridades russas.

A 12 de novembro, um dia depois de as forças ucranianas terem retomado Kherson, voltou a entrar no museu. E confirmou os piores receios: o espólio, que estava devidamente armazenado quando a guerra começou, porque o edifício estava a ser restaurado, tinha desaparecido.

A operação de retirada tinha começado no final de outubro: quando os russos perceberam que a perda de Kherson estava iminente, colocaram em marcha a pilhagem. Durante dias, o património foi enchendo vários camiões. Isto porque, em julho, o museu ganhou uma nova diretora, que ignorou (ou apoiou mesmo) todas as movimentações.

Parte desse património, foi levado para o Museu Central de Taurida, em Simferopol, na península da Crimeia, anexada pelos russos, como mostra uma publicação no Facebook.

Traidores internos

Nas primeiras semanas de ocupação russa, Alina Dotsenko temeu que existissem funcionários do museu que pudessem trair a pátria e ajudar a passar quadros para o lado russo. Queria ter apenas uma equipa em que confiasse. Por isso, foi enviado alguns trabalhadores de licença remunerada. Uma funcionária, com posições pró-russas, tinha inclusive sido despedida no ano anterior.

Quando teve de sair de Kherson, Alina Dotsenko confiou o museu à arquivista Hanna Skrypka, de 56 anos. Em julho, as autoridades russas em Kherson entraram pelo museu, exigindo que ela preparasse o espaço para receber a nova diretora. Ela resistiu. Mas, meia hora depois, a cantora local Natalia Desiatova assumia funções, ficando à frente do museu, com a confiança do invasor.

Alina e Hanna, embora tendo um museu vazio, continuam cheias de trabalho. Ambas estão a criar um registo digital das peças pilhadas. Para que elas possam ser identificadas caso cheguem a leilões de arte internacionais. Sempre na esperança de que as obras possam voltar a ser exibidas no sítio a que pertencem.

Esta é uma das obras que fazia parte do espólio do museu

 

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