A aposta de 1 bilião de dólares do Ocidente para arruinar a economia russa

CNN , Charles Riley
2 mar 2022, 11:22
Doláres

A invasão da Ucrânia por Putin foi recebida com uma resposta sem precedentes dos Estados Unidos, do Reino Unido, da União Europeia, do Canadá, do Japão, da Austrália e de outros países. Até a Suíça, famosa pela sua neutralidade e sigilo bancário, prometeu impor sanções à Rússia

O Ocidente respondeu à invasão russa da Ucrânia com várias sanções económicas. As últimas foram projetadas para desencadear uma crise bancária, sobrecarregar as defesas financeiras de Moscovo e mergulhar a economia russa numa profunda recessão.

Nunca uma economia com a importância global da Rússia foi alvo de sanções a este nível, segundo os analistas, que alertam para um elevado risco de a Rússia enfrentar uma crise financeira que deixe os seus maiores bancos à beira do colapso.

Os responsáveis políticos do ocidente descreveram esta campanha como uma guerra económica destinada a punir o presidente Vladimir Putin e a transformar o seu país num pária internacional - mesmo que demore vários anos até que as sanções destruam as defesas da “economia-fortaleza” da Rússia.

“Provocaremos o colapso da economia russa”, garantiu o ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, a uma emissora televisiva local, na terça-feira.

O estatuto da Rússia como fornecedor global de energia tornará essa missão ainda mais difícil. A Europa obtém quase 40% do seu gás natural e 25% do seu petróleo daquele país, e qualquer perturbação nessas exportações fará com que os preços globais, já de si elevados, subam ainda mais.

As armas do Ocidente no conflito Rússia/Ucrânia

A invasão da Ucrânia por Putin foi recebida com uma resposta sem precedentes dos Estados Unidos, do Reino Unido, da União Europeia, do Canadá, do Japão, da Austrália e de outros países. Até a Suíça, famosa pela sua neutralidade e sigilo bancário, prometeu impor sanções à Rússia.

O Ocidente impediu aos dois maiores bancos da Rússia, o Sberbank (SBRCY) e o VTB, o acesso direto ao dólar. Também tomou medidas para remover alguns bancos russos da SWIFT, uma rede global que liga as instituições financeiras e facilita os pagamentos rápidos e seguros.

A coligação está a tentar impedir o Banco Central da Rússia de vender dólares e outras moedas estrangeiras para defender o rublo e a sua economia. No total, as sanções congelaram ativos russos no valor de quase 1 bilião de dólares americanos, segundo Le Maire.

“As democracias ocidentais surpreenderam muitos ao adotarem uma estratégia assente numa intensa pressão económica sobre a Rússia, isolando-a efetivamente dos mercados financeiros globais”, disse Oliver Allen, economista de mercados da Capital Economics.

“Se a Rússia continuar por este caminho, é muito fácil ver como as mais recentes sanções podem ser apenas os primeiros passos de um corte severo e duradouro nos laços financeiros e económicos da Rússia com o resto do mundo”, acrescentou.

Os países ocidentais descartaram o envio de tropas para lutar na Ucrânia, deixando as sanções como o principal meio para desafiar a Rússia. As medidas podem eliminar até 6% do produto interno bruto da Rússia, segundo a Oxford Economics.

“A nossa estratégia, para simplificar, passa por garantir que a economia russa retrocede enquanto o presidente Putin decide avançar com a invasão da Ucrânia”, disse um alto funcionário do governo dos EUA aos jornalistas.

A “economia-fortaleza” da Rússia

Desde 2014, quando os Estados Unidos e os seus aliados ocidentais impuseram sanções a Moscovo após a anexação da Crimeia e a queda do Voo 17 da Malaysian Airlines, Putin tenta proteger das sanções a economia de 1,5 biliões de dólares da Rússia, a 11.ª maior do mundo.

Moscovo tentou afastar do dólar a sua economia dependente do petróleo, limitou os gastos do governo e criou reservas de moedas estrangeiras.

Os estrategas económicos de Putin também tentaram aumentar a produção nacional de certos bens, bloqueando produtos equivalentes do exterior. Entretanto, o Banco Central da Rússia acumulou um cofre de guerra de 630 mil milhões de dólares em reservas, incluindo moedas estrangeiras e ouro - uma quantia enorme quando comparada com a maioria dos outros países.

Essas defesas estão agora a ser fortemente testadas.

As sanções tornaram inútil cerca de 50% da reserva de moedas estrangeiras da Rússia, de acordo com a Capital Economics.

“As condições externas para a economia russa mudaram dramaticamente”, disse o Banco Central russo na segunda-feira, anunciando que duplicaria aproximadamente as taxas de juro para 20%. “Isso é necessário para apoiar a estabilidade financeira e monetária e impedir a desvalorização das poupanças dos cidadãos”, acrescentou o banco.

A moeda da Rússia, o rublo, caiu depois de a economia ter enfrentado as sanções ocidentais em resposta à invasão da Ucrânia. Na imagem: rublos russos por dólar americano

A Rússia também está a impor controlo sobre o capital. O Banco Central deu ordens às empresas para venderem as moedas estrangeiras na segunda-feira para sustentar o rublo, que caiu para um mínimo recorde em relação ao dólar americano. E Putin está a planear um decreto que visa proibir temporariamente a vender ativos russos por empresas e investidores estrangeiros.

“O cofre de guerra de mais de 600 mil milhões de dólares em reservas estrangeiras da Rússia só é poderoso se Putin o puder usar”, disse um alto funcionário do governo Biden aos jornalistas.

O que acontece a seguir

Todos os olhos estão voltados para o sistema financeiro russo.

Houve relatos no fim de semana de longas filas de espera na Rússia para levantar dinheiro, aumentando a perspetiva de uma corrida aos bancos no país. Os bancos russos, que são já o principal alvo das sanções do Ocidente, podem ficar sob uma pressão ainda maior se os cidadãos não conseguirem pagar os empréstimos contraídos, à medida que a inevitável recessão atinge empresas e famílias.

Liam Peach, economista de mercados emergentes da Capital Economics, disse que os bancos russos podem ser forçados a responder através da venda de ativos - provavelmente a baixo preço. O crédito pode tornar-se escasso, piorando ainda mais o abalo económico das sanções.

“A intensificação das sanções ocidentais ao longo do fim de semana deixou os bancos russos à beira de uma crise”, disse Peach.

Uma das primeiras vítimas foi a sucursal europeia do Sberbank, o maior banco da Rússia, que foi alvo das sanções dos aliados ocidentais. O Banco Central Europeu disse na segunda-feira que o Sberbank Europe, incluindo as filiais austríacas e croatas, estava a falir, ou com grande probabilidade de falir, por causa das “saídas significativas de depósitos” desencadeadas pela crise.

Outro problema é que os bancos russos só têm dinheiro estrangeiro suficiente para cobrir cerca de 15% dos depósitos em moeda estrangeira. O Banco Central normalmente forneceria moeda estrangeira aos bancos, mas com metade do cofre de guerra vedada, pode não conseguir fazer isso enquanto defende o rublo ao mesmo tempo.

O Banco Central pode ficar sob pressão durante meses ou até anos.

Graças ao petróleo e ao gás, o valor das exportações da Rússia excede em muito o das importações, e os pagamentos ao país são uma importante fonte de moeda estrangeira. Mas os investidores e as empresas podem tentar movimentar grandes quantidades de dinheiro estrangeiro para fora do país à medida que o rublo cai, forçando o Banco Central russo a gastar até 100 mil milhões de dólares das reservas disponíveis este ano, segundo a Capital Economics.

Ao mesmo tempo, o Ocidente pode apertar ainda mais o cerco. Os Estados Unidos e os seus aliados podem retirar mais bancos russos da SWIFT e restringir ainda mais o acesso a dólares e euros, segundo o Instituto de Finanças Internacionais. Também podem eliminar as exportações russas de energia, embora tal resultasse num aumento dos preços.

Uma nova escalada do conflito económico pode ter consequências importantes.

“Não nos podemos esquecer que, na história da humanidade, as guerras económicas transformaram-se muitas vezes em guerras reais”, disse o antigo presidente russo Dmitry Medvedev na quinta-feira, em resposta aos comentários de Le Maire.

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