Investigador climático em risco de ser despedido de prestigiado instituto alemão por se recusar a regressar da Papua-Nova Guiné de avião

CNN , Issy Ronald
5 out 2023, 16:27
Gianluca Grimalda é um investigador sénior sobre o clima no Kiel Institut, na Alemanha.Gianluca Grimalda

Deveria ter regressado à Alemanha no passado dia 2 de outubro. Atualmente, encontra-se na Papua-Nova Guiné de onde deverá partir num navio de carga a 8 de outubro para a sua longa viagem de regresso à Europa

O investigador climático Gianluca Grimalda diz que corre o risco de perder o seu cargo no Instituto Kiel para a Economia Mundial (Kiel Institut für Weltwirtschaft), na Alemanha, por se ter recusado a utilizar um avião como meio de transporte no regresso da Papua-Nova Guiné.

Grimalda planeia regressar à Alemanha depois da sua viagem de investigação sem voar, de forma a reduzir as suas emissões de carbono em 90%, e pretende viajar em ferries, autocarros, comboios e navios de carga.

No entanto, disse que o instituto lhe deu um pré-aviso de três dias para regressar até 2 de outubro, o que o teria obrigado a voar, de acordo com um comunicado emitido pelo grupo climático Scientist Rebellion.

Grimalda disse à CNN que o Kiel Institut lhe disse para "esperar um segundo aviso/pedido para aparecer em Kiel viajando de avião", depois de ele não ter regressado e que "emitirão então a carta de despedimento" quando ele não aparecer uma segunda vez.

O seu salário de setembro não foi pago e a sua proposta de licença sem vencimento foi recusada, acrescentou em comunicado.

O Kiel Institut disse à CNN que "não comenta em público questões internas de pessoal", mas que "quando viajam em trabalho, o instituto apoia os seus funcionários a viajar de forma amiga do ambiente".

Quando questionado sobre a alegação de Grimalda de que o seu salário de setembro não foi pago, o Kiel Institut afirmou apenas que não comentaria publicamente um "assunto pessoal interno, para proteção dos funcionários".

Economista experimental e ativista do Scientist Rebellion, Grimalda estava há seis meses a realizar trabalho de campo em Bougainville, na Papua-Nova Guiné, estudando a relação entre globalização, alterações climáticas e coesão social.

A autorização de Grimalda para viajar terminou a 10 de setembro, mas a sua investigação demorou mais tempo do que o inicialmente previsto devido a várias ameaças à segurança - incluindo uma ocasião em que foi feito refém por um grupo armado com catanas e em que todos os seus pertences foram confiscados, refere o comunicado do Scientist Rebellion.

À medida que a crise climática se intensifica, o impacto da aviação tem sido objeto de um escrutínio crescente. A aviação comercial é responsável por 2,5% das emissões globais de CO2 todos os anos, prevendo-se que a procura de voos - e as emissões - aumentem significativamente nos próximos anos. Como alternativa, ativistas do clima, como Greta Thunberg, criaram formas mais ecológicas de viajar, como por exemplo de barco ou de comboio.

"Estou preparado para enfrentar todas as consequências jurídicas e económicas desta decisão", declarou Grimalda em comunicado. "Em última análise, trata-se também de uma questão de saúde mental. O meu estado psicológico não pode deixar de ser descrito como um estado de ansiedade climática, e voar pode agravar esta condição."

No início deste ano, Grimalda demorou 35 dias a chegar à Papua-Nova Guiné, vindo da Alemanha, tendo percorrido 15.000 quilómetros por terra até Singapura antes de apanhar um voo para a segunda parte da viagem.

Atualmente, ainda se encontra na Papua-Nova Guiné antes de partir num navio de carga a 8 de outubro para a sua longa viagem de regresso à Alemanha.

*Laura Paddison contribuiu para este artigo

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