Médio português confirma que teve convites de Sporting e F.C. Porto Vai jogar na II Divisão mas nem por isso quer sair do Atlético de Madrid. Em entrevista aos enviados especiais do Maisfutebol, durante o estágio da equipa espanhola, Hugo Leal confirma que teve este ano convites de F.C. Porto e Sporting mas acrescenta que não fez força para sair.
Hugo Leal está feliz à beira-Tejo, a mais de 700 quilómetros de Lisboa. O Tejo, em Los Angeles de San Rafael, onde decorre o estágio de pré-época do Atlético de Madrid, é um rio modesto, longe do enorme estuário em que acaba em Portugal.
A pouco mais de vinte quilómetros de Segóvia, o Atlético prepara-se para um ano no inferno - o nome dado numa campanha de venda de lugares cativos no Estádio Vicente Calderón à II Liga espanhola, que a equipa de Madrid terá de disputar depois de ter descido de divisão na temporada passada.
A equipa madridista refugiou-se em Los Angeles de San Rafael, uma espécie de centro de férias desportivas do presidente Jesus Gil, com escola de golfe, campo de futebol (do centro de formação de Nayade) e um centro náutico onde a equipa está instalada. E onde, esta semana, tem sido filmada a série juvenil «Al salir de clase», uma espécie de Bervely Hills 90210 em castelhano que faz as delícias dos adolescentes. Mas mesmo na segunda divisão, o Atlético consegue atrair ainda mais seguidores. E só Hugo Leal consegue rivalizar com a estrela Kiko nas solicitações dos adeptos, perdendo, mesmo no fim de um vale perdido na serra, quinze minutos por dia a distribuir autógrafos ou a tirar fotografias.
Por isso o médio português diz sentir-se muito bem em Madrid, pouco preocupado com o facto de ir jogar na II Divisão espanhola. Hugo admite que teve convites de F.C. Porto e Sporting este defeso, mas regressar a Portugal não está no seu horizonte e só será uma hipótese a considerar se o Atlético não regressar à I Liga espanhola no final da próxima época. O português também diz que entre Sporting e F.C. Porto preferia... o seu antigo clube, o Benfica, embora com a actual Direcção, que o empurrou para a rescisão de contrato, um regresso à Luz esteja fora de questão.
«Se o Atlético subir não estou interessado em sair»
- O Atlético de Madrid desceu de divisão, mas muitos jogadores decidiram continuar no clube. O Hugo Leal teve vários convites, por que é que acabou por ficar?
- Fundamentalmente porque sou muito querido aqui. Gosto da cidade, gosto das pessoas e nunca fiz força para sair do Atlético, mesmo sabendo que ia jogar na II Divisão.
- Falou-se este Verão no interesse do F.C. Porto, Pinto da Costa terá chegado a conversar com Jesus Gil. Esteve perto de voltar a Portugal?
- Chegou realmente a haver um convite do Porto, houve outros convites de Portugal...
- Do Sporting?
- Um convite de Portugal, na verdade... Sim, do Sporting, mas querem-me bastante aqui e não me deixaram sair, tal como eu não quis forçar a saída.
- Entre F.C. Porto e Sporting, qual é que preferia?
- Sinceramente preferia o Benfica, mas se tudo correr bem não quero voltar a Portugal nos próximos tempos.
- Mas admite voltar a Portugal?
- Não ponho de parte essa hipótese, vou para onde me quiserem, mas se o Atlético de Madrid conseguir subir de divisão não estarei interessado em sair. Se não subirmos admito que será mais fácil ir embora, até porque nesse caso a minha cláusula de rescisão baixará, não sei ainda para quanto, porque isso vai ser negociado brevemente.
«Senti-me um pouco culpado pela descida»
- Se o Atlético não subir a saída será inevitável? Dois anos consecutivos na segunda divisão podem ser muito prejudiciais para a carreira de um jogador...
- Ainda não quis pensar nisso. Temos feito uma campanha em que se fala de um ano no inferno e de facto todas as pessoas esperam que seja só um ano. Se não for assim é óbvio que terei de pensar no que farei da minha vida, mas a verdade é que só nos preocupa fazer uma boa temporada e regressar à I Liga.
- O facto de não ter ajudado a evitar a descida de divisão do Atlético deixou-o em dívida com a Direcção e os adeptos? Foi essa uma das razões por que não forçou a saída do clube?
- Em parte senti-me um pouco culpado, mas o que fez com que ficasse aqui foi essencialmente o que aconteceu nas últimas semanas. As pessoas com que me cruzava na rua diziam-me tens de ficar. Gostei do carinho que me transmitiram, sempre me trataram muito bem. Quando cheguei a Madrid, no início da época passada, não pude logo jogar e ainda não sabia se a FIFA ia autorizar-me a fazê-lo. Apesar disso as pessoas do Atlético sempre estiveram do meu lado, sempre me apoiaram bastante, comecei a criar algumas amizades, inclusivamente com alguns sócios, e com o carinho que me deram comecei a sentir-me muito bem. Depois comecei a jogar, as coisas foram correndo bem, fiz bons jogos, a claque ficou do meu lado e tornou-se tudo muito mais fácil. É certo que houve algumas dificuldades por estarmos a jogar para não descer, mas acho que as pessoas valorizaram aquilo que dei ao clube.
- Não está arrependido por ter trocado o Benfica por um clube que desceu de divisão?
- Arrependido não. É óbvio que tenho saudades de alguns amigos que deixei em Portugal, entre eles pessoas ligadas ao Benfica, mas a verdade é que foi um ano extraordinário para mim, mesmo tendo descido de divisão. Se em termos individuais foi bom, em termos mediáticos foi ainda melhor. E tive a oportunidade de experimentar a liga espanhola, que para mim é a mais competitiva do mundo... Foi pena termos descido, tínhamos uma grande equipa.
- O que é que aconteceu então para o Atlético de Madrid descer de divisão?
- Não consigo explicar. Não tivemos grandes resultados na segunda volta, ganhámos só uma ou duas vezes... De facto era impensável descermos com grandes jogadores como o Kiko ou o Valerón, jogadores de Selecção, mas a sorte também não esteve do nosso lado, houve problemas que afectaram o clube.
- A saída de Ranieri também contribuiu para a descida?
- Em parte, mas também não estávamos numa posição muito agradável quando ele saiu. Depois foi pior, é verdade. Tivemos de mudar os planos de trabalho, mudámos formas de jogo, mudou muita coisa.
«Para me esquecerem falta que o Benfica vença»
- Referiu que o carinho do público madridista foi decisivo para que continuasse no Atlético. Rescindiu com o Benfica há mais de um ano, esteve este Verão de férias em Portugal, como é que os benfiquistas o trataram?
- O pior foi quando rescindi. As pessoas acreditavam em tudo o que saía nos jornais e chamavam-me traidor, outras coisas. Este ano não, as pessoas limitavam-se a perguntar-me como estava, aproveitavam a frase de que gostei muito que dizia que mudei da segunda circular para a segunda divisão...
- O ressentimento dos benfiquistas já passou?
- Julgo que está a passar. O que falta mesmo para que me esqueçam é que o Benfica vença. Se for assim, espero que me esqueçam rapidamente.
- A rescisão com o Benfica surgiu quando já se falava há algum tempo que tinha contrato assinado com o Atlético de Madrid. O que é que havia de concreto na altura?
- Tinha havido conversações, tinha feito exames médicos mas não tinha assinado nada. Os jornais prejudicaram-me um pouco, as pessoas do Benfica preferiram acreditar no que saiu a público, depois insultaram-me e acabei por rescindir.
- Admite voltar ao Benfica com os actuais dirigentes ou não considera sequer essa hipótese?
- Com a actual Direcção está fora de causa.
«Benfica para mim será sempre o melhor»
- O que lhe pareceu a saída de João Pinto do Benfica?
- Não gostei muito. Para mim, apesar de todo o mediatismo com o Figo, o João Pinto é o melhor jogador português, é um fora de série, e acho um desperdício o Benfica ter deixado o João sair assim. Não vai ser bom para o Benfica e vai ser óptimo para o Sporting...
- Sem João Pinto e sem Nuno Gomes, como antevê o futuro do Benfica?
- A equipa fica mais frágil, são dois grandes jogadores que vão triunfar seja onde for, têm qualidade para isso.
- O Hugo Leal conhece bem Madrid, o que pensou da ida de Figo para o Real?
- Vai ser óptimo para ele. Será difícil quando voltar a Nou Camp, mas aqui em Madrid vai ser um espanto.
- Benfica e Atlético Madrid são muito diferentes?
- Apesar de se falar aqui em Espanha que o Atlético está entre os dez maiores clubes do mundo, o Benfica para mim será sempre o melhor. É o melhor em termos históricos e gostava que em termos desportivos também o voltasse a ser.
