Ponta-de-lança, sim... e o resto? (crónica)

12 ago 2000, 00:17

Benfica-Aston Villa, 2-2 A entrada de Van Hooijdonk e a grande forma de Poborsky fizeram com que as angústias da primeira parte fossem substituídas por uma boa dose de esperança depois do intervalo. Mas as limitações estão à vista.

Diante de um adversário competitivo, com o chamariz extra da presença de David Ginola, um dos mais carismáticos jogadores dos anos 90, os encarnados tinham, para apresentação, um desafio à altura das suas forças e limitações actuais: nem demasiado forte, como o Bayern da época passada, nem demasiado fraco para poder disfarçar de forma convincente a falta de soluções, como foi o caso do Linfield, na semana passada. 

O balanço dos 90 minutos não serve para outra coisa se não confirmar essa realidade com duas caras, já anunciada ao longo de uma pré-temporada francamente irregular. Por um lado, este Benfica tem limitações evidentes na fluidez de jogo e na capacidade para se impor aos adversários naquilo que, teoricamente, seria o seu ponto forte (a circulação de bola). Por outro, apesar dessas insuficiências, que não parecem fáceis de resolver sem novas contratações, os encarnados têm, apesar de tudo, argumentos positivos.  

Tal como havia sucedido frente ao Liverpool, foram esses argumentos, quase todos de carácter individual, a impedir que esta apresentação resultasse, para os simpatizantes benfiquistas, no enterro prematuro das ambições de glória para esta época. 

Tudo espremido, foi curto? Foi sim senhor, como o demonstram os frequentes assobios que os adeptos encarnados dirigiram à equipa. Mas, tal com na história da garrafa meio cheia ou meio vazia, cada um dos cerca de 30 mil espectadores levará consigo a conclusão acerca do mais importante: a confirmação de problemas conhecidos, ou os indicadores positivos que, até ao momento, têm impedido que aqueles se exprimam de forma gritante. 

Super-Poborsky até quando? 

Entre esses indicadores positivos está, forçosamente, a superforma do reencontrado Poborsky ¿ até quando conseguirá o checo manter níveis semelhantes de confiança e determinação?  

E, novidade importante, passa a estar, desde esta noite, o sentido de baliza do holandês Van Hooijdonk. O ponta-de-lança não precisou de mais do que 34 minutos para convencer um público que, mesmo sem o ter visto ao vivo, começava a desconfiar das suas qualidades. A resposta foi eloquente: o homem de área existe, falta saber se existe tudo o resto que permite alimentá-lo.  

Foi essa aliança entre o checo e o holandês que, no segundo tempo, permitiu reescrever o guião de um jogo até aí inquietante. Em quase toda a primeira parte, o Benfica foi incapaz de assumir o comando, muito por culpa de um meio-campo de fôlego curto (apesar dos esforços de Calado), que ainda por cima não conseguia encadear as trocas de passes. 

Por outro lado, o facto de quase todas as esperanças desequilibradoras estarem depositadas em Sabry mais flagrante tornou o futebol intermitente da nova coqueluche encarnada. Foi, assim, uma equipa colectivamente dominada que chegou ao descanso em desvantagem, curiosamente com um golo sofrido no período em que os fogachos individuais de Sabry (pouco) e Poborsky (mais) começavam a equilibrar as operações. 

Olá, sou o Van Hooijdonk... 

No início do segundo tempo não houve sinais de grandes mudanças. Mas a entrada de Van Hooijdonk, no meio de assobios aparentemente dirigidos a Heynckes, trouxe ao Benfica aquele misto de felicidade e timing dos verdadeiros goleadores. Menos de cinco minutos depois de estar em campo, o holandês surgia no sítio certo para concluir, com frieza de matador, um fulgurante contra-ataque do hiperactivo Poborsky. 

Um golo naquelas circunstâncias, ainda por cima conseguido pela mais mediática das contratações (convém não esquecer que o Benfica apresentou no onze inicial apenas uma cara nova, Marchena), relançou a motivação dos encarnados. Tanto mais que, do outro lado, o Aston Villa pagava o preço das substituições e da quebra física dos seus veteranos criativos, Merson e Ginola. 

Assim, aquilo que até aí parecera impossível (o Benfica criar condições para ganhar o jogo) tornou-se subitamente uma forte possibilidade. Sempre em esforço, é verdade, sempre com o talento individual a sobrepor-se à eficácia do conjunto. Mas quando, a sete minutos do fim, Van Hooijdonk retribuiu a gentileza de Poborsky na segunda bola jogável de que dispôs, já não era lícito falar-se de surpresa.  

Foi preciso uma rápida combinação na ala esquerda dos Villains, concluída por Thompson, para fazer baixar a euforia. O empate era, no fim de contas, a justa tradução para um jogo de meias medidas: meia casa nas bancadas, meio tempo de domínio para cada equipa, meia dose de esperança e outro tanto de angústia para os adeptos do Benfica. 

Ficha do jogo 

Estádio do Sport Lisboa e Benfica.

Árbitro: Lucílio Baptista (Setúbal).

Benfica: Enke; Rojas, Marchena, Paulo Madeira e Sérgio Nunes (Dudic, 73 m); Chano (Kandaurov, 80 m) e Calado; Poborsky, Maniche e Sabry (Carlitos, 73 m); João Tomás (Van Hooijdonk, 56 m).

Não utilizados: Bossio, Escalona, Toy e Miguel.

Treinador: Jupp Heynckes 

Aston Villa: James (Enckelman, 62 m); Alpay (Samuel, 78 m), Southgate (Ehiogu, ao intervalo) e Barry; Stone, Merson (McGrath, 86 m), Boateng (Taylor, 54 m), Hendrie (Thompson, 78 m) e Wright; Dublin (Nilis, 73 m) e Ginola.

Não utilizados: Vassell e Joachim.

Treinador: John Gregory. 

Ao intervalo: 0-1. 

Marcadores: Dublin (43 m), Van Hooijdonk (61 m), Poborsky (83 m) e Thompson (85 m). 

Resultado final: 2-2.

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