Artistas Unidos: Universidade de Lisboa diz que saída do Teatro da Politécnica ainda não está decidida mas a companhia está preocupada

24 mar 2022, 17:42
Artistas Unidos (Foto: Facebook)

Reitor da Universidade comunicou informalmente ao grupo a intenção de não renovar o contrato de arrendamento, que termina em fevereiro do próximo ano, mas garante que "ainda não foi nada decidido". Mas os Artistas Unidos estão preocupados: "De que forma podemos continuar?"

A Universidade de Lisboa garante que a saída dos Artistas Unidos do Teatro da Politécnica ainda não está decidida. "A Universidade tem um contrato com os Artistas Unidos que é renovado de dois em dois anos. O atual contrato termina em fevereiro do próximo ano e pode ser denunciado por qualquer uma das partes até 60 dias antes. Portanto, até lá avaliaremos a situação", explica à CNN Portugal o porta-voz da Reitoria.

Os Artistas Unidos anunciaram, esta quinta-feira, num comunicado publicado nas redes sociais, que a não renovação do contrato lhes foi comunicada pelo reitor, Luís Manuel Anjos Ferreira, no passado dia 9, alegando que necessitam daquele espaço para instalar outros serviços.

A universidade confirma que houve um contacto informal com a companhia, no qual o reitor terá informado o encenador que "a universidade tem interesse naquele espaço". No entanto, sublinha que "ainda não foi nada decidido". Além disso, "se se confirmar o fim do contrato com os Artistas Unidos, o reitor da Universidade de Lisboa está disponível para ajudá-los a encontrar outras alternativas", afirma o porta-voz.

"Como vamos sobreviver sem um espaço se para o apoio sustentado é esse um dos requisitos?", pergunta a companhia que acabou de perder o seu fundador e diretor, Jorge Silva Melo. "Como vamos assegurar produções e compromissos com terceiros? De que forma podemos continuar? Ainda não acabámos. Somos os Artistas Unidos, actores, encenadores, escritores, cenógrafos, produtores e gostávamos de continuar a fazer teatro."

"Durante o tempo de vida do Jorge foi impossível encontrar essa estabilidade, embora fosse esse o seu maior desejo, e agora com a sua morte, não podemos permitir que a sua equipa, o seu legado e aqueles que com ele construíram os Artistas Unidos sejam novamente empurrados para um canto, negando ao Jorge o seu último desejo, o de continuidade do seu trabalho."

Os Artistas Unidos encontram-se no Teatro da Politécnica, em Lisboa, desde 2011, na sequência de um contrato que tem sido sempre renovado com a Universidade de Lisboa. No início, era de três anos e depois passou a ser de dois anos. O espaço situado na rua da Escola Politécnica, ao lado do Museu de História Natural, na entrada para o Jardim Botânico, tinha muitas carências e foi objeto de várias intervenções ao longo dos anos, mas era, apesar de tudo, um espaço fixo de trabalho, ensaios e apresentações, essencial para o desenvolvimento da atividade da companhia.

"Ficamos mais uma vez com a casa às costas", desabafou à Lusa o ator e encenador João Meireles, que já pediu uma reunião com o vereador da Cultura da Câmara de Lisboa, para avaliar a situação.

Uma situação “que não é nova, é só uma repetição do que já aconteceu e que tem acontecido desde que saímos de A Capital, há 20 anos”, observou, numa alusão a 29 de agosto de 2002, quando a Câmara de Lisboa, então presidida por Pedro Santana Lopes, os obrigou a sair do edifício A Capital, no Bairro Alto.

“Aparentemente, penso eu, que estaria na cabeça de toda a gente que os Artistas Unidos, que já estamos há 11 anos no Teatro da Politécnica, teriam o problema resolvido, mas, de facto, temos vindo a resolvê-lo a cada renovação de contrato e sempre nesta precariedade de haver um contrato que não é renovado”, disse. Quando foram obrigados a sair de A Capital, houve um “compromisso” da autarquia de Lisboa no sentido de se encontrar “uma solução duradoura, estável e digna para esta companhia”. “Passaram 20 anos e ainda não está resolvido”, disse.

Para João Meireles, a companhia está a viver “uma aflição”. “Porque temos projeto que se tornou sólido, viável, com o Jorge [Silva Melo], que, entretanto, formou esta equipa e esta força de trabalho e de produção e de criação e que, sem termos um espaço, não tem viabilidade”, referiu.

“Não me passa pela cabeça que os Artistas Unidos fiquem confinados a um escritório e a produzir para quem os queira acolher”, frisou. Se tal acontecer, “é uma perda de identidade, uma perda de lugar que não conseguimos admitir, obviamente”, concluiu, sublinhando que, “quando desaparece esta figura tutelar, que era o Jorge Silva Melo, tudo se desmorona quase como se não tivesse existido”.

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