A Rússia cercou a Ucrânia por três lados: veja por onde uma invasão poderia começar (inclui mapas)

CNN , Rob Picheta e Eliza Mackintosh
14 fev 2022, 18:03
Tropas russas

A Rússia reuniu mais de 100 mil soldados perto da fronteira com a Ucrânia nas últimas semanas, segundo estimativas dos EUA, o que deu origem a receios por parte dos agentes de informações ocidentais e ucranianos de que uma invasão poderia estar iminente

Enquanto decorrem frenéticos esforços diplomáticos para evitar a guerra, os analistas alertam que as forças armadas da Rússia representam uma ameaça imediata à Ucrânia.

Mas a acontecer uma invasão, não é claro por onde começará. A Rússia criou pontos de pressão em três lados da Ucrânia - na Crimeia, a sul, no lado russo da fronteira entre os dois países e na Bielorrússia, a norte.

Aqui estão as três frentes às quais a Ucrânia e o Ocidente estão atentos, e os recentes movimentos russos detetados em cada uma delas.

A ameaça militar que a Rússia representa para a Ucrânia

A Rússia reuniu milhares de tropas e estabeleceu novas bases perto da sua fronteira com a Ucrânia. Com a presença já estabelecida na Bielorrússia, as forças russas cercam agora a Ucrânia por três lados.

Leste da Ucrânia

Foi dada maior atenção às regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, onde as forças ucranianas e os separatistas apoiados pela Rússia estão em conflito desde 2014.

A principal hipótese para aqueles que observam os movimentos russos é que Moscovo poderia aumentar o poderio militar que já possui na região, assim tornando o leste da Ucrânia a posição mais fácil de onde iniciar uma invasão.

Imagens de satélite obtidas pela CNN mostram que uma grande base em Yelnya, que continha tanques, artilharia e outros blindados russos, foi amplamente esvaziada, com o equipamento a ser movido, aparentemente, para muito mais perto da fronteira, nos últimos dias.

Grandes quantidades de armamento foram transferidas para a base no final de 2021, antes de desaparecerem – incluindo cerca de 700 tanques, veículos de combate de infantaria e plataformas de lançamento de mísseis balísticos. Vídeos das redes sociais mostraram, desde então, alguns desses equipamentos em comboios e estradas muito mais a sul, na região de Bryansk, mais perto da Ucrânia. Os blindados e os veículos foram identificados como as unidades pré-posicionadas em Yelnya.

Equipamento militar em movimento

Tanques, artilharia, veículos blindados e outros equipamentos deixaram a base russa de Yelnya, segundo a empresa norte-americana Maxar. A análise das redes sociais da Conflit Intelligence Team mostra que alguns desses equipamentos se aproximaram da fronteira com a Ucrânia.

Stephen Wood, diretor da empresa de imagens de satélite Maxar, disse à CNN: “Parece-me que uma quantidade considerável de veículos (tanques, artilharia motorizada e outros veículos de apoio) partiu do parque de veículos a nordeste; veículos blindados adicionais partiram do parque de veículos mais ao centro.”

Enquanto isso, o aumento da atividade nos Oblasts de Kursk e Belgorod, que fazem fronteira com o nordeste da Ucrânia, disparou as preocupações.

“Estamos a ver uma entrada massiva de veículos e pessoal em Kursk”, alertou Konrad Muzyka, especialista em rastreamento de movimentos militares da Rochan Consulting, no Twitter.

Phillip Karber, da Fundação Potomac em Washington, que também estudou pormenorizadamente os movimentos das tropas russas, disse à CNN este mês: “A formação ofensiva mais forte da Rússia, a Primeira Unidade de Tanques, normalmente destacada na zona de Moscovo, deslocou-se 400 quilómetros para sul e está a reunir-se na zona ideal para uma ofensiva blindada rápida na rota de invasão Khursk-Kyiv.”

Bielorrússia

Também aumentaram as preocupações face a um vasto acumular de tropas russas na Bielorrússia, um país aliado de Moscovo, que pode providenciar outro caminho para entrar na Ucrânia.

A Rússia e a Bielorrússia iniciaram 10 dias de exercícios militares conjuntos na quinta-feira, cuja dimensão e cujo timing despertaram temores no Ocidente.

Estima-se que o destacamento russo na Bielorrússia seja o maior desde a Guerra Fria, com “umas esperadas 30 mil tropas de combate, forças das operações especiais Spetsnaz, caças como os SU-35, mísseis de capacidade dupla Iskander e sistemas de defesa aérea S-400”, disse o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, a 3 de fevereiro.

É também o maior exercício que as forças armadas bielorrussas realizaram em qualquer época do ano, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS). O Ministério da Defesa russo afirmou que o objetivo dos exercícios, chamados “Allied Resolve-2022”, incluía repelir “agressões externas”.

Tropas russas na Bielorrússia

A Rússia e a Bielorrússia iniciaram exercícios militares conjuntos em pelo menos nove locais do país na quinta-feira, 10 de fevereiro. Nos últimos meses, a Rússia enviou cerca de 5000 soldados para vários pontos da Bielorrússia, aumentando as preocupações sobre uma possível invasão à vizinha Ucrânia.

Alguns temem que o aumento da mobilização aponte para um plano russo de avançar em direção a Kiev pelo norte. Um diplomata europeu disse à CNN no início deste mês que a concentração de forças é uma “grande, grande preocupação”, referindo que essa seria a peça que faltava para Moscovo lançar um ataque rápido à capital ucraniana.

Os exercícios conjuntos também forneceriam cobertura para um movimento através da Bielorrússia para o norte da Ucrânia, alerta o CSIS.

As imagens de satélite da Maxar mostram que, pela primeira vez, foram montados vários campos de tendas em Rechitsa, na região de Homel, na Bielorrússia.

Imagens de satélite divulgadas pela Maxar parecem mostrar que os militares russos têm destacamentos avançados em vários pontos da Bielorrússia. Os destacamentos estarão provavelmente ligados aos exercícios conjuntos, mas outras fotografias mostram campos a serem montados perto da fronteira com a Ucrânia, a centenas de quilómetros de onde os exercícios estão a acontecer.

No entanto, se a Rússia se concentrar na fronteira bielorrussa como ponto de entrada na Ucrânia, o caminho estaria repleto de dificuldades.

Os soldados russos teriam que contornar os pântanos de Pinsk, também conhecidos como pântanos de Pripet, uma das maiores regiões pantanosas da Europa, que fica na fronteira entre a Bielorrússia e a Ucrânia - um terreno denso, alagado e altamente florestado que se estende por quase 270 mil quilómetros quadrados.

Essa região travou as forças nazis durante a Operação Barbarossa, a condenada invasão alemã à União Soviética, em 1941.

Segundo o Instituto para o Estudo da Guerra, “Em alguns lugares pode ser difícil ou até impossível as forças mecanizadas atravessarem os pântanos”.

Crimeia

A península anexada pela Rússia em 2014 seria um cenário natural para qualquer nova operação, mas não se sabe bem se Moscovo tentaria lançar um movimento para a Ucrânia a partir da Crimeia.

Um grande destacamento de tropas e equipamentos foi observado pela Maxar, que avalia que mais de 550 tendas para soldados e centenas de veículos chegaram ao norte da capital da Crimeia, Simferopol.

Imagens de satélite mostram o aumento de militares russos à volta da Ucrânia.

 

Uma imagem de satélite mais recente da Maxar mostra tropas e equipamentos no aeródromo de Oktyabrskoye, na Crimeia, Ucrânia, a 10 de fevereiro de 2022.

Depois, um novo destacamento foi identificado pela Maxar, pela primeira vez na quinta-feira, perto da cidade de Slavne, na costa noroeste da Crimeia, que inclui veículos blindados.

Esses novos destacamentos foram observados no mesmo dia em que vários navios de guerra russos chegaram a Sebastopol, o principal porto da Crimeia. O Ministério da Defesa russo publicou imagens na quinta-feira de seis grandes navios de desembarque anfíbio no porto.

A Marinha ucraniana respondeu que “a Rússia continua a militarizar a região do Mar Negro, transferindo navios de desembarque adicionais para pressionar a Ucrânia e o mundo”.

As forças navais da Ucrânia “estão prontas para o desenvolvimento de quaisquer cenários e provocações, para defender o país a partir do mar”, acrescentou.

Qualquer movimento para o sul da Ucrânia poderia ser apoiado por tropas na Transnístria, a região separatista da Moldávia apoiada pela Rússia, onde também foi relatado um aumento da presença militar.

Os analistas do CSIS dizem que as tropas russas podem tentar um ataque surpresa em Odessa, uma cidade portuária ucraniana a noroeste da Crimeia, “levando os seus navios anfíbios para o porto de Odessa e entrando diretamente na cidade”.

Apelidam esse movimento de “uma operação de alto-ganho, mas também de alto-risco”. Odessa é uma cidade bastante povoada e um conflito urbano ali favoreceria aqueles que a defendem, enquanto que as forças russas teriam de eliminar as defesas aéreas da Ucrânia e depois juntar-se às tropas vindas do leste do país.

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