Porque é que a Rússia não confia na NATO?

14 fev 2022, 16:26
Vladimir Putin

Portugal é um dos 12 estados fundadores da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que Putin tem acusado de quebrar uma promessa feita em 1990: a de que nunca se iria expandir para leste

A NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte) é ponto fulcral na discórdia entre Rússia e Ucrânia: já esta segunda-feira, os russos admitiram que o recuo da Ucrânia num pedido de adesão à NATO aliviaria significativamente as preocupações em termos de segurança, mesmo que a ex-república soviética já tenha assegurado que não está a reconsiderar o pedido para se juntar à NATO.

Mas porque é que Putin não confia na NATO? O presidente russo tem vindo a acusar a Aliança Atlântica de quebrar uma promessa feita em 1990, de que a NATO nunca iria expandir-se para leste, acusando o Ocidente de usar a NATO, que hoje conta com 30 países membros, para cercar a Rússia. 

Recorde-se que a NATO foi criada em 1949 por 12 países fundadores - Portugal incluído, mas também Estados Unidos, Canadá, França e Reino Unido - com a premissa de que os membros iriam auxiliar-se mutuamente no caso de algum deles ser atacado. A Rússia respondeu em 1955 à fundação da NATO com a sua própria aliança militar plasmada no Pacto de Varsóvia, que contava então com a União Soviética e os países socialistas de leste. O pacto estabelecia um compromisso de cooperação e assistência mútuas, associando a Albânia, a Bulgária, a Checoslováquia, a R.D.A., a Hungria, a Polónia, a Roménia e a União Soviética. A Albânia deixou de fazer parte da organização em 1968, a R.D.A. em 1990, tendo sido desmantelada a sua estrutura militar em 1991, com o colapso da União Soviética.

Ucrânia é "país parceiro da NATO"

Após o fim da União Soviética, recorda a BBC, vários países que faziam parte do Pacto de Varsóvia tornaram-se membros da NATO. No caso da Ucrânia, que faz fronteira com a Rússia e com a União Europeia, a adesão à NATO nunca se verificou, ainda que se tenha constituído como um "país parceiro". Quer isto dizer que, não tendo formalizado a adesão, existe um entendimento de que poderá vir a fazê-lo no futuro, uma possibilidade que está consagrada na constituição do país. 

Os laços próximos entre russos e ucranianos, por outro lado, e a forma estratégica como Putin olha para a Ucrânia, comprometem a possibilidade de este processo se desenrolar sem  fricções. A Ucrânia é onde se encontra a maior comunidade russa fora da Rússia e, quando os ucranianos depuseram o seu presidente pró-russo Viktor Yanukovych em 2014,  a Rússia anexou a península ucraniana da Crimeira, tendo apoiado separatistas no controlo de vastos territórios no leste da Ucrânia. A NATO não interveio mas, pela primeira vez, colocou tropas em vários países do leste europeu. Desde então, tem presença militar na Estónia, Lituânia, Letónia, Polónia e Roménia. 

Em resposta à mais recente crise, os Estados Unidos de Joe Biden reforçaram a presença na Polónia e Roménia com mais 3.000 soldados e outros 8.500 estão em alerta, mas só serão mobilizados se a NATO decidir ativar uma força de reação rápida, refere a BBC. Nesta altura, a Aliança Atlântica não tem planos para colocar soldados na Ucrânia.

Falta de unanimidade

O presidente dos EUA garantiu que há "unanimidade" entre os líderes europeus a propósito da situação ucraniana, mas tem havido diferenças: países como EUA ou Reino Unido enviaram armamento e mobilizaram militares para os países mais próximos, mas a Alemanha, por exemplo, recusou aceder ao pedido da Ucrânia de armas para defesa, enviando ajuda médica. 

Países como Dinamarca, Espanha, França ou Países Baixos enviaram caças e navios de guerra para a Europa de leste, concentrando maior número de defesas na região. "Responderemos sempre a qualquer deteriorar do nosso ambiente de  segurança, inclusivamente reforçando a nossa defesa coletiva", veio dizer Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO. 

Já o Presidente português, questionado se Portugal irá enviar tropas para a Roménia - hipótese avançanda por Luís Marques Mendes no seu espaço de comentário da SIC - referiu que a prioridade, nesta altura, é dar espaço à diplomacia.  "Portugal, além de ser um membro muito interveniente da União Europeia, é um membro muito interveniente da NATO, como é das Nações Unidas e de outras organizações internacionais. Cumpre as suas obrigações e assume em plenitude a sua posição em qualquer destas instituições, nomeadamente na Aliança Atlântica", disse apenas Marcelo Rebelo de Sousa, esta segunda-feira.

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