F.C. Porto-Nantes, 3-1 (crónica)

16 fev 2001, 00:52

Depois do sofrimento veio a redenção O Porto justificou a diferença e parece ter armas para aproveitar a embalagem e garantir, em Nantes, a passagem aos quartos-de-final. Foi insuficiente na primeira parte, deixou que os franceses fizessem o jogo que pretendiam, mas a segunda parte mostrou um Porto ao seu melhor nível. Só depois de sofrer os portistas puderam mostrar a sua arte

Uma segunda parte de luxo colocou o F.C. Porto numa posição privilegiada para assegurar em Nantes, dentro de uma semana, a passagem aos quartos-de-final da Taça UEFA. O 3-1 abre boas perspectivas para a segunda mão e premeia a capacidade que os portistas demonstraram de reagir a um golo sofrido cedo e contra a corrente do jogo. Que não fiquem dúvidas: o Porto ganhou bem e exibiu classe quando foi urgente que a arte viesse ao de cima. 

O Porto voltou, por isso, às noites de gala, provando que os espectros de crise que o têm perseguido nos últimos tempos podem, a todo o momento, ser afastados. Mas é importante começar por dizer, logo para início de conversa, que esteve muito longe de ser fácil a tarefa portista esta noite. O resultado, que é justo e até poderia ter sido mais dilatado tal foi o domínio azul e branco na segunda parte, pode, contudo, ser enganador nesse aspecto. É que o Nantes acabou por se trair a si próprio, ao permitir que o Porto marcasse dois golos na segunda parte na sequência de erros infantis da defesa francesa. Pormenores que fazem a diferença numa eliminatória de alta competitividade como é esta. 

Fernando Santos, que ainda está sob a mira dos adeptos, falhou na equipa principal, mas teve o mérito de corrigir os erros a tempo: e com eficácia. O principal deles foi pôr Pavlin de início, em sacrifício de Deco. Era nítida, na primeira parte, a falta de magia do meio-campo portista. Só a entrada do médio-ofensivo brasileiro permitiu accionar o clique que pôs a máquina azul e branca devidamente oleada. Até lá, só Alenitchev emprestava imaginação a um Porto demasiado previsível até ao intervalo.  

O mérito de saber sofrer 

O Porto começou bem. Impôs a sua condição de equipa que, a jogar em casa, tinha que procurar o golo. O primeiro quarto de hora foi azul e branco, indiscutivelmente. Mas o passar do tempo foi mostrando a falta de soluções do jogo portista. O Nantes fechava-se bem, os espaços eram muito bem ocupados. Tornava-se difícil marcar assim. 

E o pior aconteceu. Balanceado no ataque, o Porto ainda não tinha experimentado as veleidades francesas no contra-ataque. Laspalles, sobre a direita, serve Da Rocha, que vê Ahamada bem colocado na área. Jorge Costa não cobriu a tempo e deixou que o avançado francês abrisse o activo.

O panorama começava a desenhar-se em tons cinzento-escuros. Se já era complicado construir jogadas de perigo, um Nantes em vantagem adivinhava-se ainda mais sólido. Era necessário empatar o mais rapidamente possível. Nem de propósito. Três minutos depois, Alenitchev é derrubado na área, proporcionando um penalty bem convertido por Esquerdinha. O jogo estava relançado. 

Foi esse um dos momentos-chave do jogo. Numa situação delicada, o Porto deu mostras de conseguir aguentar a pressão e dar a volta ao texto: soube sofrer. Drulovic tentou baralhar as contas à arrumação francesa, aparecendo à direita, acompanhando Capucho na tarefa de complicar a vida a Armand. Só que os franceses não desarmavam. Até ao intervalo, trocaram muito bem a bola e não foram raras as vezes em que surpreenderam zonas portistas menos guarnecidas. Olembe, Carriere e Da Rocha foram peritos nessa missão.  

O intervalo chegou com um empate que, mais do que justo, surgia como o resultado possível para um Porto insuficiente. A eficácia do Nantes preocupava: nenhuma dúvida que os franceses fizeram uma primeira parte mais conseguida que os azuis e brancos. 

Olá Porto, há quanto tempo... 

Se todos concordavam que o Porto tinha que se transfigurar na segunda parte, os portistas não perderam tempo e partiram para uma metade complementar ao seu melhor nível. Começou tudo nas trocas que se impunham. Deco foi muito mais útil que Pavlin, Aloísio apresentou-se muito mais seguro do que Jorge Costa. 

Reconfigurado, o Porto foi todo ele mais eficaz. Enervou o Nantes, criou perigo, chegando ao golo sem causar escândalo. Faltava meia-hora para acabar o jogo e a vantagem mínima era um pau de dois bicos: por um lado, os franceses tinham que reagir, pela primeira vez, a uma situação de desvantagem, mas por outro sabiam que não podiam correr demasiados riscos, porque um só golo na segunda mão lhes daria a eliminatória. 

Na hora da verdade, o Porto conheceu a sua melhor fase. Alenitchev, que assinou uma exibição de grande qualidade, abriu o livro, fazendo com Deco uma dupla terrível no mundo da criação. Paredes, ao seu estilo, conferia tranquilidade a um meio-campo renovado, tanto de ideias como de soluções. Do sofrimento, o Porto passou para a redenção. Não encantou, é certo, que os tempos, nas Antas, não são de euforias. Mas justificou em pleno a vantagem conquistada, impondo aos franceses uma tarefa de sacrifício na partida em Nantes.

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