Base militar americana faz crescer infeções no Japão

21 dez 2021, 06:11
Japão

Pelo menos 180 casos de covid (incluindo com a variante Ómicron) foram detetados na base americana em Okinawa. Surto poderá já ter transmissão comunitária numa altura em que Japão tem conseguido conter números da pandemia

São pelo menos 180 os casos positivos de covid-19 já detetados na base militar norte-americana de Camp Hansen, no sul da ilha de Okinawa. Só neste domingo, os responsáveis da base militar informaram as autoridades locais de que haviam detetado 31 novas infeções.

Um dos casos detetados recentemente dentro do perímetro militar é da variante Ómicron, num total de 3 casos desta nova variante já confirmados dentro da base.  Mas os números podem ser mais elevados pois não há uma prática regular de sequenciação genética dos casos positivos dentro de Camp Hansen.

O Japão tem conseguido travar a propagação da Ómicron no seu território, graças a medidas extremamente rigorosas de controlo de fronteiras.  Até ao momento, foram reportados 65 casos da nova variante, quase todos identificados nos aeroportos ou nos hotéis de quarentena onde os viajantes têm de passar dez dias à chegada ao país. 

Apesar da reabertura quase total da economia em outubro, no último mês o Japão conseguiu registar os melhores indicadores desde a primeira vaga da pandemia. Em novembro, a média de novos casos diários ficou abaixo de 100 em todo o país (o Japão tem 126 milhões de habitantes). Com o uso generalizado de máscara por parte da população e quase 80% de cobertura vacinal, quase não há medidas de restrição dentro do Japão. Apenas o controlo nos aeroportos voltou a apertar desde o aparecimento da nova variante. Mas esse controlo é muito mais difícil nas bases militares dos EUA, onde a responsabilidade é das autoridades norte-americanas.

Por essa razão as autoridades japoneses pediram aos responsáveis pela base militar para que apertem o controlo sobre o seu pessoal, bem como as medidas de mitigação de contágios, como testes regulares e uso permanente de máscaras em locais públicos. Essa é a regra seguida pela esmagadora maioria da população japonesa, mas não pelos militares norte-americanos estacionados no país. 

Governo japonês pede mais rigor e mais medidas

Um sinal da preocupação política com este surto foi a visita de um membro do governo japonês à prefeitura de Okinawa na segunda-feira. Hirokazu Matsuno aproveitou o momento para reconhecer a preocupação com os casos de covid-19 na base americana, mas também para apelar a que sejam punidos os militares e restante pessoal das instalações norte-americanas que não cumpram as regras relativas a uso de máscara e ao cumprimento de quarentena dentro da base por parte de quem está infetado.

Dois dos casos identificados no fim de semana aumentaram a preocupação de que a base militar possa ser um local de disseminação para toda a região. Uma mulher americana de cerca de 50 anos que trabalha na base, e o marido - um japonês na casa dos 60 anos - testaram positivo. O casal vive fora do perímetro da base, e teve contactos considerados de risco com cerca de seis dezenas de pessoas. Esses contactos de risco estão agora a ser monitorizados, mas as autoridades de saúde temem que o casal tenha contagiado algumas dessas pessoas.

Pode haver mais casos semelhantes, e o governador de Okinawa tem insistido para que seja feita a sequenciação genética de todas as infeções identificadas dentro da base militar, por receio de propagação da Ómicron.

Mais de metade das instalações militares e das tropas destacadas dos EUA no Japão ficam na prefeitura de Okinawa, facto que desde a II Guerra Mundial tem motivado protestos de organizações pacifistas. Só em Okinawa estão quase 30 mil soldados americanos. Mas a grande preocupação em relação a essas bases, neste momento, tem a ver com a covid-19. Já por várias vezes as instalações militares dos EUA no Japão foram o epicentro de surtos de SARS-Cov2, que acabaram por afetar toda a região - e o país.

No ano passado, registaram-se vários surtos de covid-19 relacionados com as bases militares dos EUA após as celebrações do 4 de Julho, o feriado do dia nacional dos Estados Unidos. Os bares frequentados pelos soldados americanos, e as festas de praia que estes organizaram, acabaram por colocar a região na lista negra da pandemia no Japão. 

Em janeiro, quando o país tinha valores de incidência de covid-19 bastante baixos, foi declarado o estado de emergência em Okinawa, outra vez por causa de contágios relacionados com as instalações militares, atingindo pessoal americano e trabalhadores japoneses. 

Para além de mais rigor nas medidas de controlo da pandemia, e de mais sequenciação genómica para encontrar casos de Ómicron, os responsáveis japoneses têm pedido aos americanos que suspendam a entrada de novo pessoal nas bases localizadas em Okinawa.

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