Mais futuros médicos e professores, a falha no apoio direto do Estado e os valores do complemento de alojamento para estudantes. Três pontos a reter da entrevista da ministra do Ensino Superior

28 ago 2023, 13:10

Elvira Fortunato, ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, esteve na CNN Portugal para falar sobre as colocações na primeira fase do concurso de acesso ao ensino superior.

A ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior deu esta segunda-feira uma entrevista na CNN Portugal, no primeiro dia de matrículas dos alunos colocados na primeira fase do concurso de acesso ao ensino superior.

Elvira Fortunato começou por dar os parabéns aos "cerca de 50 mil novos alunos que entraram" nas universidades e politécnicos de Portugal, endereçando também uma palavra de apreço à Direção-Geral do Ensino Superior que este ano teve, nas palavras da ministra, "um trabalho acrescido", já que o calendário do concurso de acesso foi antecipado e os alunos de todas as fases vão poder iniciar as aulas ao mesmo tempo. Outra novidade: pela primeira vez, os alunos que se candidataram a bolsas de ação social souberam, na data em que foram divulgadas as colocações, se têm ou não direito a uma bolsa de estudo. "Não queremos que, por razões económicas, nenhum estudante que tenha ingressado numa instituição do ensino superior desista ou não se matricule", frisou a governante. 

Feito este ponto prévio, Elvira Fortunato quis destacar as "várias coisas positivas" do concurso deste ano, depois de admitir um ponto de partida "menos positivo", com menos dois mil candidatos ao ingresso no ensino superior. Apesar de estarem inscritos menos alunos no concurso, o número de colocações foi praticamente o mesmo do ano passado, explicou a ministra, acrescentando ainda que 56% dos alunos que se candidataram ao ensino superior ficaram colocados na sua primeira opção. "E, se considerarmos primeira, segunda e terceira opção, temos 87%, o que mostra também que há um maior alinhamento entre a oferta e a procura" dos cursos, sublinhou. "Os alunos estão mais bem informados."

Elvira Fortunato destacou ainda o aumento de alunos na área de medicina - mais 51 do que no ano passado - e também a subida de estudantes na formação básica, "porque necessitamos de ter professores, nomeadamente para o ensino básico e secundário", declarou. "Ainda precisamos de mais, mas estamos a estimular não só as próprias instituições mas também os próprios candidatos, porque é uma área onde não vai faltar emprego nos próximos anos."

"Apoio do Estado não é suficiente"

Sobre o alojamento para estudantes, a ministra quis garantir que, além da residência universitária já inaugurada este ano, outras nove estarão em funcionamento até ao final do ano letivo. "Vamos garantir mais 1.100 camas", detalhou, acrescentando que o investimento é maior nesta área graças ao PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e que, nesta altura, há cerca de "15 mil camas oferecidas para estudantes em Portugal".

"Temos cerca de 110 mil alunos deslocados e, em termos de alunos bolseiros deslocados, cerca de 13 mil", disse ainda, admitindo que "o apoio direto do Estado não é suficiente" e que, por isso, o Governo conta com outras alternativas. E deu o exemplo da residência no Porto, cujo edifício foi cedido pela autarquia à Federação Académica, tendo sido os próprios alunos a reabilitar as instalações com recurso a receitas da queima das fitas.

A ministra afirmou ainda que, até ao final do PRR, em 2026, o Governo prevê ter quase o dobro das camas disponíveis para estudantes, ou seja, cerca de 27 mil. Questionada sobre se este número será "exequível", Elvira Fortunato sublinhou que o Ministério do Ensino Superior está a fazer um "acompanhamento próximo e direto" das reabilitações de edifícios em curso e que tem um "plano B, C e D". "São praticamente 500 milhões de euros, nunca houve um investimento tão grande em Portugal nesta área." 

Elvira Fortunato falou ainda sobre os apoios que o Governo disponibiliza aos estudantes perante as dificuldades com o alojamento em residências universitárias - problema que, admite, não será possível resolver no imediato, estando a decorrer 131 projetos de reabilitação de edifícios que serão utilizados para esse fim. 

A majoração dos apoios ao alojamento

"Uma vez que não podemos ter camas, quartos, no imediato, estamos a atuar na ação social, portanto, aumentámos a elegibilidade em termos de bolseiros e, no ano passado, aumentámos o complemento de alojamento", explicou. "Neste momento, um aluno bolseiro que não tenha cama numa residência pode ir para outro local e nós damos um complemento, demos já no ano passado, fizemos um complemento extraordinário que passou a normal e vamos dar um terceiro complemento de alojamento para garantir que nenhum aluno não se matricula ou não desiste." 

Elvira Fortunato explicou também que o valor deste complemento de alojamento varia de cidade para cidade: em Lisboa, Cascais e Oeiras o Governo dará 336 euros aos alunos bolseiros que não consigam quartos em residências universitárias, montante que desce para os 312 euros se o estudante estiver, por exemplo, no Porto, na Amadora, em Almada, em Odivelas ou em Matosinhos.

Na semana passada, o Observatório do Alojamento Estudantil revelou que, desde agosto do ano passado até agosto deste ano, os preços dos quartos para estudantes aumentaram 10,5% e custam, em média, 349 euros. 

Um quarto em Lisboa, segundo a mesma fonte, custa agora 450 euros por mês; no Porto, o preço do arrendamento de um quarto chega aos 425 euros e em Braga aos 300 euros. Arrendar um quarto em Coimbra fica por 240 euros. Em cidades como Portalegre, por exemplo, os preços dos quartos subiram mais de 30% desde o ano passado. 

Relacionados

Educação

Mais Educação

Patrocinados