O longo jejum das Aves

31 jan 2001, 19:02

Não vence há mais de três meses O Gil Vicente foi a sua última vítima. Perdeu à nona jornada, quando Neca era ainda o treinador do Aves. Carvalhal não conseguiu mais do que três empates e outras tantas derrotas. Detecta fraquezas na defesa e chama as arbitragens ao rol de atenuantes.

O Aves ainda não inalou, para além do tempo de uma breve inspiração, o profundo aroma das vitórias. Não vence para o campeonato desde a nona jornada, altura em que o Gil Vicente perdeu nas Aves, por 1-0, ainda os gilistas eram orientados por Álvaro Magalhães e os avenses por Neca. Já lá vão mais de três meses, sem qualquer festejo, sem qualquer êxito. 

O Desportivo das Aves é um clube sui-generis, num estilo verdadeiramente familiar. É o principal ícone de uma vila com cerca de 12 mil habitantes, onde por vezes se questiona como é possível um clube com cerca de 2650 sócios disputar a I Liga? É verdade! No entanto, a carolice de algumas forças vivas da terra plantou o clube no principal escalão do futebol nacional, faltando agora atingir o objectivo a que se propuseram. Isto é, a permanência entre os maiores.  

Com uma forma muito peculiar de estar no desporto, o Aves cresce noutros domínios, sendo de enaltecer as excelentes infra-estruturas que foram criadas no interior do estádio, elevando as condições de trabalho dos atletas e de todos aqueles que, por razões profissionais, privam de perto com o clube. Uma obra que rondou os 150 mil contos. Uma profunda reestruturação do estádio está em estudo, com um relvado novo a perfilar-se como prioridade número um. O Aves está na corrida ao Euro 2004, pretendendo ser um recinto desportivo de apoio.  

A defesa... 

A equipa subiu este ano de divisão com Neca, tendo o treinador sido despedido à passagem da 13.ª jornada. O ponto mais (a)típico da equipa terá acontecido a 14 de Outubro, quando, num jogo electrizante com o Sporting, perdeu por 4-3. Saiu derrotado, mas foi intérprete de um grande espectáculo.  

A derrota frente ao Beira Mar, por 1-0, em Aveiro, serviu de gota de água e a ruptura entre Neca e a Direcção foi inevitável. Carlos Carvalhal, que orientava o Vizela, da II Divisão B, foi convidado a assumir o comando técnico, fazendo a sua estreia na I Liga. Desde aí, o Aves procurou inverter o rumo dos acontecimentos, mas nunca o conseguiu.  

Três empates e três derrotas, com a eliminação da Taça de Portugal pelo meio, aos pés do Boavista, resumem a carreira ainda curta de um dos técnicos mais jovens da I Liga. Os bons resultados teimam em não aparecer, mas Carvalhal não desiste, quando precisa urgentemente de pontos e dirige a equipa que tem o sector defensivo mais permeável da I liga (39 golos) e o quarto ataque menos produtivo (18). «Só posso falar do tempo em que aqui estou, mas há aspectos evidentes: a organização ofensiva tem melhorado. O sector defensivo é a grande lacuna desta equipa», observa. «A alternância de jogadores é significativa», diz Carlos Carvalhal, tentando rebater a frieza dos números (sofreu 17 golos e marcou cinco). «É preciso maior coesão, o sector defensivo precisa estabilizar. São contrariedades a mais», comenta, com o cuidado de não individualizar ou imputar responsabilidades.  

...E os árbitros 

Carvalhal recusa-se liminarmente a falar sobre a estruturação da equipa e dos seus principais desequilíbrios, mas volta a tonificar o seu discurso com críticas aos árbitros: «A verdade desportiva em alguns jogos foi adulterada e não queremos voltar a ser espoliados», sustenta, acrescentando continuar a «acreditar na permanência». «Se o campeonato decorrer com normalidade, temos algumas hipóteses», admite. «Já não somos muito bons, temos dificuldades no dia-a-dia e estamos mal classificados. A somar a tudo isto ainda levamos patadas para trás». 

Algumas peças importantes da equipa têm estado aquém. Carvalhal discorda, mas por exemplo, o angolano Quinzinho está distante da meta a que se propôs no início da época, quando afirmou que queria apontar 15 golos na presente temporada. Vinte jornadas decorridas, o angolano só por cinco vezes violou as redes adversárias. É o melhor marcador, seguido do «diamante» da equipa, o esquerdino Rui Lima (um dos seis atletas cedidos pelo Boavista a título de empréstimo), com três golos. Juntando-se este ataque, que pouco castiga os adversários, a um sector defensivo, que engloba o meio-campo constantemente afectado por castigos e lesões (Nené, Vieira, Braima, José António, Vinagre, entre outros) e as saídas (Bilong e José Soares), salpicados por algumas arbitragens contestadas, ajudam a aclarar a presente situação desportiva do clube.  

Este fim-de-semana o Aves irá jogar uma cartada decisiva em Campo Maior. Um jogo que poderá ditar muito do clube na prova. Curiosamente, o primeiro ponto conquistado esta época foi frente aos «galgos», com um empate (2-2) na primeira volta, ainda Carvalhal andava por Vizela. Agora, o técnico avense prefere não arriscar qualquer prognóstico, considerando apenas tratar-se de «mais um jogo».

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