O chefe de urgência demissionário afixou um comunicado a informar que apenas seriam prestados cuidados de saúde aos doentes mais urgentes devido à falta de clínicos
Um dos chefes de urgência de cirurgia do Hospital da Guarda, José Manuel Rodrigues, pediu a suspensão de funções devido ao problema “crónico” da falta de médicos naquela unidade.
Em declarações à CNN Portugal, o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Roque da Cunha, realça que José Manuel Rodrigues é o sétimo de 12 chefes de urgência do Hospital da Guarda a apresentar a demissão e o primeiro a torná-la pública, após um “processo paciente e resiliente de alerta nos últimos seis meses”.
Salientando que não existem condições de equipamento e de recursos nas equipas, Roque da Cunha revela que os restantes chefes de equipa ponderam apresentar também a demissão “já que concordam com as razões invocadas”.
O sindicalista explicou que o facto de três médicos terem sido escalados para o serviço de urgências enquanto estavam de férias fez com que este chefe do serviço tomasse a decisão de demitir-se.
“No dia 22 de novembro, faltaram três médicos nos postos de triagem das urgências e cerca de meia centena de doentes ficaram a aguardar várias horas para além do normal. E este diretor resolveu dar o grito de alerta”, disse o dirigente sindical.
Roque da Cunha alertou ainda que o circuito de cuidados respiratórios no hospital está a ser assegurado por médicos internos.
Na noite desta terça-feira, o chefe de urgência demissionário afixou um comunicado a informar que apenas seriam prestados cuidados de saúde aos doentes mais urgentes, entre as 00:00 e as 08:00, devido à falta de clínicos.
O Hospital da Guarda confirma que faltaram dois médicos na escala do serviço de urgência, “o que exigiu trabalho acrescido para a equipa que estava de serviço”.
“Ainda assim, nunca esteve em causa a prestação de cuidados de saúde a toda a população”, refere um curto comunicado da unidade, em que salienta que hoje de manhã “regressou tudo à normalidade” e que a unidade continua “a prestar os melhores cuidados a toda a população”.
A nota não faz referência à demissão do médico José Manuel Rodrigues.
Segundo Roque da Cunha, a falta de médicos na Guarda arrasta-se há meio ano, sem que o conselho de administração do hospital dê respostas ou resolva a situação.
“Além das 40 horas semanais, os médicos deste hospital já deram este ano mais de 500 horas extraordinárias, o que corresponde a mais cerca de dois meses de trabalho, pelo que não se lhes pode pedir mais”, sublinha.
“Esta demissão e a sua divulgação pública é efetuada a bem da segurança dos habitantes da Guarda e dos médicos, e uma exigência ao Governo para que não se esqueça do interior e do investimento no Serviço nacional de Saúde”, frisou.
Para o secretário-geral do SIM, é lamentável que os responsáveis, “em vez de exigirem meios para responder às dificuldades das pessoas, neguem o problema e não o encarem”.