Revelações surpreendentes: "A direita, quando vai dormir a pensar na utopia do comunismo, pensa no Jerónimo de Sousa"

15 fev, 16:11
Debate PS vs Chega e CDU vs IL

Juntámo-nos a um grupo de jovens para assistir a dois debates - Pedro Nuno Santos vs. André Ventura; Paulo Raimundo vs. Rui Rocha: o primeiro debate era aparentemente mais picante que o segundo mas foi no segundo que vieram revelações mais escaldantes sobre os sonhos ideológicos deste país

“Pedro Nuno Santos não responde diretamente a várias perguntas” mas André Ventura "também não está muito melhor", "o secretário-geral do PS está a ser mais André Ventura que o próprio Ventura, interrompe muito mais", observa um grupo de jovens à mesa de um restaurante em Lisboa. Juntaram-se para ver Pedro Nuno Santos vs. André Ventura, é dia dos namorados, curiosa data para este debate.

Ana Eliz e Carolina Alves estão sentadas lado a lado, tomam notas, Ana: “Pedro Nuno Santos não responde diretamente a várias perguntas”; Manuel, advogado e um dos jovens do grupo, intervém, quer pronunciar-se também sobre o líder do PS: não gostou de o ouvir dizer "é a Justiça a funcionar" a propósito de três suspeitos de corrupção na Madeira terem estado detidos 21 dias em vez das 48 horas expectáveis, os detidos saíram com o juiz a dizer que não encontrou um único indício de crimes, "é uma indecência", diz Manuel, “os cidadãos não podem estar 21 dias à espera das medidas de coação" e por isso Manuel determina que "Pedro Nuno Santos não está preparado para ser primeiro-ministro" quando diz que isto é "a Justiça a funcionar".

Assim que Pedro Nuno Santos ataca o programa eleitoral do Chega, “tem falta de respostas”, ouve-se um “boa”, é Carolina, Manuel discorda, diz que Ventura resume bem a postura do programa do PS em relação à Justiça, “é um melhoral, não faz bem nem faz mal, fica tudo igual”. Depois Ventura e Pedro Nuno falam sobre a polícia, Ana não compreende porque é que Ventura se foca tanto na filiação partidária das forças de segurança, porque é que Ventura quer permitir isso, “estar sempre a falar dos polícias é uma tentativa frustrada de André Ventura, na sua agenda não vemos nada de especial sobre como melhorar as condições das forças de segurança”.

Não é a única medida com a qual Ana discorda, “o aumento dos salários dos médicos por si só não basta, é uma medida ‘tapa buraco’, um penso rápido numa ferida”, Carolina intervém, “o SNS é a melhor coisa que temos neste país, devíamos cuidar dele e torná-lo mais aliciante”, Luísa junta-se, “fala-se pouco de administração pública, para onde vai o dinheiro investido no SNS?”, Manuel completa, “o SNS está pior do que nunca e o Pedro Nuno diz que o SNS está melhor”.

Manuel acredita que “Ventura ganhou na matéria da Saúde porque expôs a demagogia do PS”, Manuel diz mais, “é confrangedor pensar na possibilidade de Pedro Nuno vir a ser primeiro-ministro, não só pelo radicalismo que defende mas também pelo seu desconhecimento total do país real”. Manuel considera que o primeiro passo para resolver um problema é reconhecer que ele existe, “se o Pedro Nuno nem reconhece os problemas como há de conseguir resolvê-los?".

Faz-se silêncio para o segundo debate da noite.

Sonhos com Jerónimo

“Outra vez a Madeira?”, o frente a frente entre Paulo Raimundo e Rui Rocha começa às 22:00 em ponto e o grupo não perde tempo a reagir ao primeiro tema lançado por ambos os candidatos. O secretário-geral do PCP “fala muito baixo, fala muito para dentro, quase não se ouve”, queixa-se João Simões, André Branco concorda: comparam Jerónimo com Raimundo e Raimundo sai a perder nesta comparação, Jerónimo “tinha aquela mística de operário e homem do campo”, Ana concorda, “Jerónimo é aquele ideal que nós todos temos do Partido Comunista”, Luísa acrescenta que “até a direita, quando vai dormir a pensar na utopia do comunismo, pensa no Jerónimo de Sousa e toda a gente se identifica um pouco com ele”.

Passam poucos minutos desde o início do debate entre a CDU e a Iniciativa Liberal e o centro da discussão altera-se: a preocupação com uma eventual reforma na Justiça capta a atenção de todos os presentes, Luísa é a primeira a intervir,  considera a Justiça um assunto pouco abordado “porque dá trabalho, leva tempo, não se sente nos bolsos das pessoas e, não sendo um assunto popular, não vale a pena falar dele”, não que ela concorde com isso mas é a maneira como acha que os políticos em debate olham para o tema.

De caneta em riste, Ana questiona a ambiguidade da palavra “reforma”, habitualmente proferida por vários políticos, “mas o que é uma reforma?, são salários?, são pessoas?, é o espaço?, quem entra e sai?, generaliza toda uma ideia da polícia, da Justiça, e o que é que isso quer dizer?”. João responde, “é uma palavra vaga o suficiente para abranger tudo mas não dizer nada em concreto”, Ana acena e prossegue: “Uma reforma pode significar qualquer coisa, vai acontecer como?, vai acontecer quando?, não nos dão resposta”.

Ouve-se a voz de Rui Rocha, o líder da IL diz que há “intromissão do poder político na Justiça”, João graceja com isso, “a solução é privatizar as cadeias”, ahahahahah; Luísa, que é advogada, interrompe as gargalhadas para esclarecer que "só quem está mais ligado às áreas do Direito é que percebe o que é a morosidade na Justiça, o Tribunal dos Direitos Humanos já nos condenou uma série de vezes, mas uma coisa é isso e outra coisa é o Ministério Público e a investigação do Ministério Público", diz Luísa, que acrescenta: "São coisas completamente separadas que se metem no mesmo saco e eu acho que exigem soluções completamente diferentes". Os restantes à mesa ouvem-na atentamente, Luísa prossegue, “uma coisa é o combate à corrupção, que pode estar ou não ligado ao Ministério Público, outra coisa são as nossas condenações no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos – face à jurisdição cível e administrativa, que também é um problema, só que não é popular”.

O debate entre Rui Rocha e Paulo Raimundo vai a meio e ainda há tempo para mais uma ronda de cervejas. Luísa apressa-se a tratar do assunto, entretanto Carolina elogia a postura de Paulo Raimundo, “não está ali para ser conhecido, ele próprio o diz, ele fala muito com o povo, fala muito com os trabalhadores, as pessoas vivem dos salários, vivem do que recebem e, face a alguém liberal que está tão virado para as privatizações, é refrescante ouvir um candidato pelo povo”.

Carolina considera que, apesar da antiguidade, “o PCP é um partido que se abre a mudanças, tem uma ideia base do comunismo, mas abre-se”. Carolina costuma frequentar a Festa do Avante, onde sente muito “respeito e amor”, “mesmo os Verdes são diferentes em relação aos outros partidos ecologistas porque juntam à ecologia a luta de classes e a luta pelos trabalhadores - se a luta não for interseccional, então a luta é vazia, é fácil abrir ao ambiente e não abrir ao resto”. Finaliza: “A CDU é uma grande coligação”.

Ana diz que a CDU representa a “classe sem acesso”, o proletariado: Ana deixou o Brasil há cerca de seis anos, mostra-se “admirada” por perceber que “essa luta ainda existe” em Portugal, “a direita exclui as massas ao dizer que para estares neste país tens de ser formado, já a CDU abraça todos, até aqueles sem família, a CDU é uma família”. João ouve a conversa, sublinha que não é comunista mas reconhece a “coerência” do PCP,  Luísa concorda, “sabemos sempre o que vai constar nos programas, sabes o que o Paulo Raimundo vai dizer”. João acrescenta: “Mas são inflexíveis”; Luísa conclui: “E isso é ser-se conservador, os conservadores olham para a mudança como algo mau”.

A conversa é interrompida pela voz de Paulo Raimundo, “são tudo bons exemplos de gestão privada”, diz o líder comunista. O grupo de jovens ri-se, “um é cego pela iniciativa privada, o outro é cego pela iniciativa pública, e ficamos nisto”, afirma Luísa, “quem tem mais dinheiro vai sentir-se ligado ao Rocha, quem não tem liga-se ao Raimundo”, completa Luísa.

E por falar em Rui Rocha, “porque é que lhe tiraram os óculos?”, pergunta João, “era uma arma que tinha durante o debate”. Ahahahahahah. O jovem retira os seus próprios óculos e coloca-os em cima da mesa, quer imitar comicamente o gesto do candidato liberal em intervenções anteriores.

Ouvem-se novamente gargalhadas, desta vez do lado de João e André, riem-se porque Rui Rocha sugere o pagamento aos juízes por objetivos, ahahahahah, “quer a meritocracia na Justiça”, ironiza André. João é mais concreto: “Quem fizer mais despachos ganha mais dinheiro”. Luísa não considera “nada errada” esta proposta, “não sabemos como é que os nossos juízes são avaliados, os critérios são completamente obscuros”. João volta a contestar a proposta de Rui Rocha, “não se pode fazer isso, é um fomento para despachar despachos à toa”, Luísa diz que “isso já acontece”, desta vez não há ahahahahah.

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