Fim do isolamento ao quinto dia pode ser um risco. Ao sexto, a Ómicron ainda é contagiosa

26 jan 2022, 09:11
Covid-19

Os Açores e a Madeira, assim como alguns países da Europa e também os Estados Unidos, adotaram o fim do isolamento ao quinto dia após o contágio, porém, um recente estudo vem revelar que nessa altura a pessoa pode ainda ser capaz de transmitir o vírus

O fim do isolamento ao quinto dia - na ausência de sintomas a essa data - foi uma das medidas adotadas pelos Açores e na Madeira no início do ano, ao contrário de Portugal Continental, em que se mantém o sétimo dia como limite. Inglaterra, Finlândia, Suíça e Estados Unidos também já adotaram o esquema dos cinco dias e outros países preparam-se para seguir as pisadas.

A redução do período de confinamento após uma infeção por SARS-CoV-2 tem como objetivo mitigar o impacto sócio-económico que o isolamento tem, ao mesmo tempo que se luta por uma normalização da circulação do vírus, que, segundo os poucos estudos até agora feitos, com a Ómicron, é menos grave no que diz respeito à doença e à probabilidade de morte após o contágio.

A redução dos dias de isolamento é um compromisso para não fechar a sociedade”, começa por dizer à CNN Portugal Manuel Ferreira Magalhães, pneumologista pediátrico e professor auxiliar convidado no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto (ICBAS) e na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP). 

A par dos cuidados de saúde e mitigação do vírus, “não nos podemos esquecer que a economia tem de continuar”, algo que, se não acontecer, “leva a outras desigualdades e problemas”, alerta.

No entanto, regressar à chamada ‘vida normal’ ao sexto dia pode ser um risco, pois há a probabilidade de a pessoa ainda ser contagiosa. Esse risco aumenta se a pessoa não tiver os devidos cuidados.

Qual a probabilidade de ainda transmitir o vírus após o fim do isolamento?

Esta é uma questão difícil de responder porque, de facto, o tempo de existência da Ómicron é curto e não permite análises aprofundadas sobre o seu impacto - sobretudo a longo prazo. No entanto, a evidência que há revela que existe sempre um risco.

Um recente estudo do Instituto Nacional de Doenças Infeciosas do Japão vem dizer que o pico de disseminação do vírus com esta variante é superior ao até agora pensado: a quantidade de RNA viral é mais alta três a seis dias após o diagnóstico ou início dos sintomas, o que faz com que a pessoa esteja contagiosa nesses dias. 

Já um estudo levado a cabo em dezembro pela UK Health Security Agency, na altura em que o Reino Unido estudava a redução do período de isolamento para sete dias (tendo implementado os cinco dias em 2022 e para quem tiver o esquema vacinal completo), revelava que ao décimo dia após o teste positivo 5% das pessoas ainda estão contagiosas. Os cientistas fizeram as contas e, à data, estimavam que ao quinto dia 31% das pessoas ainda estariam contagiosas.

À CNN Portugal, Filipe Froes, pneumologista, consultor da DGS e coordenador do Gabinete de Crise para a Covid-19 da Ordem dos Médicos, diz que “não há um risco zero”, ou seja, em algum momento uma pessoa que esteve infetada e sai do isolamento após o período imposto pode contagiar outra, sendo que o risco diminiu à medida que os dias vão passando.

Os dados menos conhecidos, mas mesmo assim o risco só diminui com o tempo e pensa-se que poderá ser 15% de pessoas mantém [o risco de contágio] a cinco dias, 10% ao sétimo dia dias e 5% ao décimo dia e 1% ao décimo quarto dia”, explica o especialista.

Ainda no que diz respeito ao contágio, e na mesma linha de raciocínio, mas tendo por base a variante Delta, que ainda continua em circulação (mas numa escala menor comparativamente com o ano passado) um outro estudo, publicado na revista International Journal of Infectious Diseases, identificou que, após 10 dias, 13% das pessoas ainda apresentavam níveis clinicamente relevantes de vírus e que, para algumas pessoas, esses níveis persistiram por até 68 dias. 

Quando é a que a pessoa deixa de estar contagiosa?

“Isso é altamente variável”, diz Manuel Ferreira Magalhães. “O período de mais infeciosidade é até ao quinto dia e começa a reduzir. Algumas pessoas podem ficar até ao décimo quarto dia e por isso assumimos que ao sétimo estamos em fase decrescente”, explica o médico.

Ter sintomas mesmo depois do período de isolamento aumenta o risco de contágio?

Sim. “Obviamente que ter sintomas está associado a uma maior infeciosidade e por isso é que o isolamento em caso de sintomas deve ser mais prolongado”, tal como a Direção-Geral da Saúde recomenda, seja para Portugal Continental ou para as ilhas.

Que cuidados deve a pessoa ter assim que acaba o período de isolamento?

Tem de haver equilíbrio entre o risco e o regresso à vida normal”, pede Filipe Froes.

Para o especialista, o facto de haver sempre a probabilidade de uma parte das pessoas que saem do isolamento ainda estarem contagiosas, sobretudo com uma variante que se dissemina mais rapidamente, pode “ajudar a justificar”, em parte, o crescimento exponencial de novos casos de infeção. No entanto, salienta que esse mesmo risco aumenta “se as pessoas quando saem [do isolamento] não mantiverem as medidas aconselhadas, como uso de máscara e evitar os contactos sociais de risco”, atira, continuando: “quando saímos do isolamento não estamos libertos das responsabilidades”.

Para Manuel Ferreira Magalhães, as pessoas devem ser ainda mais cuidadosas nas medidas de proteção assim que termina o isolamento. O especialista considera que “até ao décimo dia as devem evitar estar com outras pessoas, evitar ajuntamentos, evitar transportes” e “sempre que possível usar máscaras FFP2”.

 

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