Previsão de 15 mil casos de covid-19 por dia. Alívio das máscaras já se nota, mas "não vem aí nenhum apocalipse"

4 mai 2022, 07:00
Covid-19

Modelo matemático mostra uma subida dos casos nas próximas duas a três semanas, mas depois é esperada uma descida. A grande preocupação é o possível aparecimento de uma nova variante

A queda da obrigatoriedade da máscara em locais como escolas, supermercados ou centros comerciais já se começa a notar. É isso que se verifica nas contas de Henrique Oliveira, professor do Instituto Superior Técnico, que revelou à CNN Portugal os mais recentes dados da covid-19 em Portugal.

“Vamos ter uma subida de casos. Está-se a notar o efeito [da retirada] das máscaras. Ainda é ligeiro, mas provavelmente os casos vão subir”, afirma.

A previsão é, portanto, que nos próximos dias se possa voltar a atingir a barreira dos 15 mil casos diários, algo que Henrique Oliveira refere que só acontecerá caso se continuem a realizar testes de forma regular, o que nem sempre tem acontecido.

“Se calhar não vamos ver isso, porque, como os testes deixaram de ser gratuitos nas farmácias, as pessoas vão deixar de recorrer tanto aos testes”, vinca.

A confirmar-se estas previsões, seria uma subida para quase o dobro dos casos, já que o último relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS) aponta 57.267 casos de 19 a 25 de abril, o que dá uma média diária de 8.181 casos.

Menos testes, mais positivos

A positividade cresceu, encontrando-se a 29,1% numa média a sete dias, bem acima dos 4% que tinham sido referenciados pela DGS e pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). Ainda assim, Henrique Oliveira lembra que parte da subida é explicada pela diminuição da testagem nas últimas semanas: “Quase um terço dos testes são positivos. Há dias de 80%. Nos fins de semana só se fazem os testes estritamente necessários”.

 “As pessoas que fazem teste em casa e dá negativo já não vão fazer teste oficialmente”, acrescenta, lembrando esse como um dado que também explica um aumentar da positividade, que “sobe artificialmente". “Se os testes fossem rigorosamente aleatórios a positividade ia ser mais baixa. Parece que a positividade está muito alta, mas não está”, vinca.

A subir está também o índice de transmissibilidade (Rt), o que confirma uma tendência de crescimento relativamente aos casos, que Henrique Oliveira prevê que possam chegar aos 15 mil diários ainda esta semana.

“O Rt esteve acima de 1,10 no fim de semana. A média a sete dias está em 1,02. Mas houve uns dias, como o fim de semana, com uma subida significativa”, explica, referindo que no sábado esse valor foi mesmo de 1,17.

O matemático sublinha que este Rt é diferente do apresentado por DGS e INSA, que publicam os dados da transmissibilidade com cerca de 14 dias de atraso.

Descida daqui a três semanas, mas pode aparecer nova variante

A estimativa de Henrique Oliveira é que o número de casos vá subir ao longo das próximas duas a três semanas, mas depois é esperada uma descida, mesmo com o alívio em relação à utilização da máscara.

“Ao fim de duas, três semanas, os nossos modelos dizem-nos que, apesar de se ter tirado a máscara, essa subida vai ser invertida e vamos começar a ver uma descida que se vai acentuar em junho e julho. Não vem aí apocalipse nenhum”, afirma.

Ainda assim, o professor lembra que este cenário é traçado sem contar com a possibilidade do aparecimento de uma nova variante, que a nível estatístico tem aparecido de cerca de quatro em quatro meses. Recorde-se que a Ómicron foi detetada no fim de novembro na África do Sul.

De resto, a identificação de duas sublinhagens daquela variante estão já a preocupar as autoridades da África do Sul. A BA.4 e a BA.5 (esta última já identificada em Portugal) têm uma maior capacidade de fugir à reação do sistema imunitário, ainda que as vacinas continuem a ter alguma eficácia, de acordo com um estudo realizado por investigadores sul-africanos.

Henrique Oliveira conclui que as previsões apontam para "um verão tranquilo", até porque apenas um terço dos óbitos atualmente registados por covid-19 se devem efetivamente à doença. As outras referem-se a casos de pessoas que tiveram outra causa de morte mas que testaram positivo antes de falecerem. O facto de o número de mortes se encontrar relativamente baixo e de Portugal ter uma alta cobertura vacinal fazem com que seja mais fácil enfrentar um eventual novo pico.

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