Mais de um milhão de pessoas que tiveram covid-19 no inverno já podem começar a tomar a dose de reforço

2 mai 2022, 18:00
Centro de Vacinação de Lisboa (Lusa/António Cotrim)

Quem teve covid-19 no último mês de 2021, antes de se tornar elegível para tomar a dose de reforço contra o vírus, vai poder fazê-lo agora, cinco meses depois da notificação da infeção. Entre maio e junho, mais de um milhão de pessoas tornam-se elegíveis para vacinação

Mais de um milhão de pessoas que tiveram covid-19 no inverno passado tornaram-se elegíveis a partir de 1 de maio para tomar a terceira dose da vacina. Por ter sido feriado e os centros de vacinação estarem também encerrados ao domingo, na prática, a partir desta segunda-feira, dia 2, muitos dos infetados no final de 2021 poderão já tomar a chamada dose de reforço para evitar os contágios da covid-19.

Segundo dados da task-force da vacinação contra a covid-19, a que a CNN Portugal teve acesso, entre 1 de maio e 30 de junho tornam-se elegíveis para tomar a dose de reforço 1.010.024 de pessoas, que foram infetadas com o vírus em dezembro de 2021 e janeiro de 2022. 

Segundo a norma da Direção-Geral da Saúde (DGS) em vigor (a 002/2021, com última atualização de 17 de fevereiro de 2022), a dose de reforço da vacina contra a covid-19 só pode ser administrada – no caso das pessoas com esquema vacinal completo, ou seja, com as duas doses da vacina -  no mínimo cinco meses após a última dose ou da infeção por covid-19

Significa isto que, quem tiver sido infetado, por exemplo, no início de dezembro de 2021, começa agora a poder tomar esta dose de reforço, mas, quem tiver sido infetado só no final de janeiro de 2022, só poderá tomá-la no final de junho.

A exceção são os vacinados com a Janssen, cujo esquema vacinal prevê a imunização com apenas uma dose, e que admite a vacinação com a dose de reforço três meses depois da última dose ou da covid-19. 

Em resumo, e de acordo com a norma da DGS em vigor, só quem tomou a vacina da Janssen ou nunca tomou qualquer vacina contra a covid-19 é elegível para vacinação três meses depois de contrair covid-19. Se falamos da dose de reforço, excetuando a exceção já referida da vacina da Janssen, é preciso esperar no mínimo 150 dias (cinco meses) para poder ter a sua imunidade reforçada com mais uma vacina, seja ela Comirnaty (Pfizer), Spikevax (Moderna) ou Vaxzevria (AstraZeneca). 

"Quem não tem a dose de reforço e foi infetado deve tomá-la nos prazos previstos pela DGS", sublinha Bernardo Gomes, médico de Saúde Pública, que acrescenta que não vê vantagem, nesta altura, em encurtar o prazo de espera entre a infeção por covid-19 e a dose de reforço.

"Vamos ter outra onda de covid-19 mais para a frente, isso é praticamente certo, seja até por causa de outras variantes. A imunidade que fica do último contacto com a doença pode ser aproveitada para esticar a corda, digamos assim, em vez de se correr para essa dose de reforço", acrescenta o especialista. Assim sendo, quem foi infetado, por exemplo, em janeiro deste ano, poderá até ganhar com esta espera: tomando a vacina no início do verão, terá maior nível de proteção quando chegar o outono, início da altura de frio mais propícia à circulação dos vírus respiratórios. 

Esquemas diferentes só para quem vai para o estrangeiro

Diogo Urjais, enfermeiro e vice-presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar, lembra que a DGS não validou alterações ao esquema de vacinação, nomeadamente no que diz respeito à dose de reforço, mas pode autorizar esquemas diferentes se estiver em causa uma deslocação para o estrangeiro, para estudar ou trabalhar. 

"Nestes casos, pode fazer-se a dose de reforço um mês após a infeção por covid-19 ou 90 dias depois da toma para todas as vacinas disponíveis", sejam elas da Pfizer, Moderna, Janssen ou Astrazeneca. "Como houve vários pedidos, até pode estar em estudo uma alteração à norma, sobretudo porque a maioria dos países já prevê um intervalo de 90 dias apenas para a toma da dose de reforço", diz Urjais.

Mas lembra que, mesmo quando havia vários lotes de vacinas com o prazo de validade a terminar e foi solicitado à DGS para rever estes prazos, de forma a fazer crescer a população elegível para vacinação e não desperdiçar vacinas, as autoridades de saúde mantiveram os 150 dias de intervalo entre a última dose de vacina ou infeção e a dose de reforço. 

Se haveria vantagem em tornar mais curto esse período, descendo-os para os 90 dias, nomeadamente, como já fizeram outros países europeus? "A vantagem tem a ver apenas com anteciparmos a vacinação e maior cobertura vacinal", reflete o vice-presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar. 

Adesão ao reforço vai descer?

Os portugueses aderiram com entusiasmo à vacinação contra a covid-19 em Portugal, mas depois de duas doses e uma infeção por covid-19, será que vão continuar a ser escrupulosos e a vacinarem-se com o reforço? "O que podemos inferir é que a adesão vai ser mais baixa, sem dúvida", diz Diogo Urjais. "As pessoas já receberam duas doses da vacina, tiveram covid provavelmente com sintomas ligeiros, há muita gente que agora não vai fazer a dose de reforço", acrescenta o enfermeiro. "Até à semana passada, a vacinação tem sido sempre inferior ao número de elegíveis", admite. 

Segundo os últimos estudos, as pessoas com o esquema vacinal completo - duas doses - e que foram entretanto infetadas serão mesmo aquelas que estão mais protegidas contra a covid-19, assinala Diogo Urjais, mas estas informações não devem fazer os portugueses descurar os prazos da vacinação. "Em termos de reforço, a faixa etária pior são mesmo os mais novos", revela o vice-presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar.

E, com as novas infeções de covid-19 a subirem - segundo o mais recente relatório sobre a situação epidemiológica em Portugal, o vírus mantém uma "transmissibilidade muito elevada" - desce em paralelo o número de pessoas elegíveis para uma dose de reforço, atirando para o início de outono a terceira dose para uma faixa da população que agora se infetou.

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