COP27: Conferência começa hoje no Egito quando se multiplicam avisos de catástrofe

Agência Lusa , DCT
6 nov 2022, 08:15
COP27 (AP Photo/Peter Dejong)

Também saúde deve estar no centro das negociações sobre o clima da COP27, defendeu a Organização Mundial da Saúde (OMS), lembrando que a crise climática continua a provocar doenças e a colocar vidas em risco

Representantes de quase 200 países estão a partir deste domingo reunidos em Sharm el-Sheik, no Egito, para debater as alterações climáticas e a luta contra o aquecimento global, quando se multiplicam os avisos de catástrofe.

Naquela que é a 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP27), que encerra no dia 18, esperam-se mais de 35 mil participantes, com 2.000 intervenções marcadas sobre mais de 300 tópicos.

Uma das intervenções será a do primeiro-ministro português, António Costa, que chega hoje a Sharm el-Sheik e que estará na COP27 na segunda e na terça-feira, onde vai defender uma transição mais inclusiva e uma repartição mais equilibrada do financiamento climático, segundo fonte diplomática.

Na conferência no Egito não são esperados muitos líderes mundiais, estando no entanto anunciada a presença do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, que inicialmente disse não estar presente, mas que há quatro dias revelou que irá a Sharm el-Sheik. A última conferência, COP26, realizou-se no Reino Unido.

A COP27, que marca o 30.º aniversário da adoção da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC, na sigla original) mantém basicamente os mesmos objetivos de outras cimeiras desde 2015, quando foi assinado o Acordo de Paris, de limitar o aquecimento global a 02ºC (graus celsius) e se possível a 1,5ºC. Mas acontece no meio de uma crise política, energética, alimentar e económica provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.

A própria ONU reconhece que essa situação pode levar a um retrocesso nas promessas e compromissos que alguns países fizeram no passado. Mas também diz que pode ser um despertar para que as nações se tornem autossuficientes em energia, sendo as energias renováveis a maneira mais barata de o fazer.

Na quinta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que o planeta está a caminho de "atingir pontos de inflexão que tornarão o caos climático irreversível", e pediu mais ambição para a COP27.

"As emissões ainda estão a crescer em níveis recordes. (...) Enquanto isso, as temperaturas estão a caminho de aumentar até 2,8 graus até ao final do século. E isso significa que o nosso planeta (...) sufocará para sempre num aumento catastrófico de temperatura" alertou.

É por isso que a organização da COP27 pede que os países revejam as suas contribuições de redução de gases com efeito de estufa, e que invistam também na mitigação, adaptação e apoio a países menos desenvolvidos.

E diz que são essenciais “progressos significativos na questão crucial do financiamento climático”. Em destaque na conferência estará a questão das perdas e danos, que consiste em ressarcir países pelas catástrofes causadas pelas alterações climáticas, que afetam sobretudo os países mais pobres.

Um relatório da ONU divulgado na quinta-feira indicava que a lacuna entre os fundos alocados para reduzir a exposição dos países em desenvolvimento aos impactos do aquecimento global “continua a aumentar” e as necessidades reais são cada vez maiores.

Além das “grandes questões a presidência egípcia da COP27 programou dias temáticos e eventos paralelos, dedicados a temas como finanças, ciência, juventude, descarbonização, perda de biodiversidade, água, agricultura, água ou energia.

OMS diz que saúde deve estar no centro das negociações sobre alterações climáticas

A saúde deve estar no centro das negociações sobre o clima da COP27, defendeu a Organização Mundial da Saúde (OMS), lembrando que a crise climática continua a provocar doenças e a colocar vidas em risco.

“O nosso foco é colocar no centro das discussões a ameaça que a crise climática representa para a saúde e os enormes ganhos que resultariam de uma ação climática mais forte”, adianta a OMS num comunicado divulgado no dia em que começa em Sharm el-Sheikh, Egito, a 27.ª cimeira da ONU sobre alterações climáticas, para debater a luta contra o aquecimento global e a adaptação às mudanças do clima.

“As alterações climáticas estão a deixar milhões de pessoas doentes ou mais vulneráveis a doenças em todo o mundo e a crescente destrutividade de eventos climáticos extremos afeta desproporcionalmente as comunidades pobres e marginalizadas”, diz o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, citado no comunicado.

“É crucial que líderes e decisores se reúnam na COP27 para colocar a saúde no centro das negociações”, adianta.

A agência da ONU lembra que a saúde das pessoas depende dos ecossistemas que as rodeiam e que estão ameaçados, entre outros, pela desflorestação e pelo rápido desenvolvimento urbano.

“A invasão cada vez maior de habitats de animais está a fazer aumentar as oportunidades para vírus prejudiciais aos humanos fazerem a transição do seu hospedeiro animal”, refere, assinalando que “se calcula que, entre 2030 e 2050, as alterações climáticas causem aproximadamente mais 250.000 mortes por ano por desnutrição, malária, diarreia e ‘stress’ devido ao calor”.

O aumento da temperatura global e os consequentes fenómenos climáticos extremos “significa que o impacto na saúde humana está a aumentar e que provavelmente se acelerará”.

Segundo a OMS, estima-se que até 2030 os custos diretos dos prejuízos para a saúde fiquem anualmente entre os dois e os quatro mil milhões de dólares (ligeiramente mais em euros) .

“Mas há espaço para a esperança, principalmente se os governos agirem agora para honrar as promessas feitas em Glasgow em novembro de 2021 (COP26) e avançar na resolução da crise climática”, considera.

 

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