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Economista e Professor Universitário

A relação de “coordenação e cooperação” entre China, Índia e Rússia só se tornará mais robusta

12 jun 2023, 16:56
Vladimir Putin, Xi Jinping e Narendra Modi (AP)

Quem o assegura é o ministro dos Negócios Estrangeiros da China

Índia e China deverão registar cerca de 50% do crescimento global em 2023. É esta a previsão do Fundo Monetário Internacional. Não será necessário um grande esforço para compreender a previsão do FMI. Estes dois países são os principais amigos da Rússia e têm vindo a reforçar a cooperação energética com o Kremlin. Para contornar as sanções, Moscovo tem aumentado consideravelmente a sua relação comercial com Nova Deli e Pequim e exporta agora mais petróleo e gás para a Ásia do que nunca.

Valdimir Putin tem sido exímio na forma como vai debelando as “dificuldades” que o Ocidente lhe vai criando. Em pouco mais de um ano, a Rússia tornou-se no primeiro fornecedor de petróleo dos dois países mais populosos do mundo. Os russos conseguiram o feito espantoso de ultrapassar a Arábia Saudita no ranking dos maiores exportadores de petróleo para a China.

O quadro é idêntico em relação ao gás. Em 2022, as exportações de gás russo para a China aumentaram 50% face a 2021.

A dimensão estratégica do presidente russo tem-se revelado altamente eficaz. Moscovo fornece aos seus dois maiores “amigos” as matérias-primas petróleo e gás a preços de saldo. China e Índia aproveitam o “negócio” e reduzem os custos de produção das suas economias. Com isto, melhoram muito os seus desempenhos macroeconómicos.

A criação sistemática de win-win situations parece ser a lógica de eleição para Vladimir Putin. Os ganhos para todas as partes envolvidas são um móbil fundamental na estratégia do presidente russo. Nos casos da Índia e da China, os países alavancam, e muito, o valor acrescentado das suas economias. Ao mesmo tempo, os russos contornam as sanções e continuam a financiar a guerra e o seu Estado.

Para 2023, prevê-se que a Rússia reforce a expansão energética na Ásia. Refere o vice-primeiro-ministro russo, Alexander Novak, que o Kremlin continuará a procurar novos compradores em “países amigos”. E são muitos os que não aderiram às sanções aplicadas à Rússia. Putin, Lavrov e Novak conhecem-nos.

A Coreia do Norte, por exemplo, entrará a breve trecho nesta equação. O presidente chinês veio agora declarar que quer reforçar as relações bilaterais com a Coreia do Norte. Pyongyang não enjeitará o pedido. Ao contrário do que se pode julgar, os norte-coreanos mantêm algumas relações comerciais com o exterior. E Pequim é o seu principal parceiro comercial e estratégico. Portanto, antevê-se que parte do petróleo e do gás russos acabará na Coreia do Norte, por intermédio de Xi Jinping. E, claro, também a preço de saldos. Mais uma win-win partnership.

O quadro geopolítico global torna-se cada vez mais nítido. O presidente chinês considera de vital importância a relação entre a China e a Coreia do Norte. Putin não é indiferente a isso. A boleia é irrecusável. A ambição destes intervenientes é comum: agilizar a afirmação da causa socialista à escala global e acelerar o desenvolvimento de uma “nova ordem mundial”.

Foi a 4 de maio, na Índia, segundo notícia da Reuters, que o ministro dos Negócios Estrangeiros da China assegurou aos seus homólogos russo e indiano o aprofundamento dos laços bilaterais, prometendo que a relação de "coordenação e cooperação" só se fortalecerá. Esta manifestação de solidariedade ocorreu num encontro entre os ministros dos negócios estrangeiros dos países que integram a Organização de Cooperação de Xangai, um bloco de nações que abrange grande parte da Eurásia.

Não restam dúvidas de que a “nova ordem mundial” de Sergei Lavrov, ministro dos negócios estrangeiros da Rússia, deixou de ser uma mera ameaça utópica. O Ocidente está longe de apresentar a coesão evidenciada pelo conjunto de países que seguem a liderança de China, Rússia e Índia. Espera-se que a cultura ocidental não venha a constituir uma limitação irresolúvel a este propósito...

O Ocidente requer unidade e liderança reforçadas. Os Estados Unidos estão a perder fulgor. A hegemonia norte-americana desvanece a olhos vistos. Para este quadro têm contribuído alguns intervenientes inesperados, como Emmanuel Macron. Até ao momento, posicionamentos ambíguos e aparentemente próximos de neutrais, como é o do presidente francês, têm produzido resultados altamente contraproducentes.

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