Exclusivo: Listas de donativos ao Chega estão incompletas. Faltavam os maiores doadores de 2020 (e não só)

4 mar, 23:01

Partido confirma informação incompleta, mas diz que restantes nomes já estavam na entidade que fiscaliza o dinheiro na política e acessível aos jornalistas

As listas de doadores do Chega entregues este fim-de-semana por André Ventura aos jornalistas, após uma investigação da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), não incluem inúmeras doações ao partido em 2020 e 2021. 

Em causa, por exemplo, cerca de 40 mil euros de grandes empresários, numa altura em que o partido tinha apenas um deputado e pouca subvenção pública.

A primeira diferença face àquilo que foi dado aos jornalistas nota-se na comparação da soma dos donativos dessas listas com os valores totais de donativos que o partido comunicou no final de cada ano à Entidade das Contas e Financiamentos Políticos (ECFP).

Em 2022 faltam 8 mil euros, valor que sobe para 64 mil euros em 2021 e 55 mil em 2020. 

Entre cinco a dez mil euros de grandes empresários 

Dos 55 mil euros em falta em 2020 a maioria está relacionada com donativos de sete pessoas, quase todos grandes empresários. 

A lista dada aos jornalistas para esse ano tinha um donativo máximo de 3 mil euros, outro de mil euros e três centenas de pequenos donativos, mas os documentos consultados pela TVI entregues pelo partido na ECFP indicam que existiram apoios financeiros maiores. 

O mais elevado, 10 mil euros, foi dado por César do Paço, milionário luso-americano, a viver nos Estados Unidos, que esteve no centro de uma reportagem polémica em 2021, nomeadamente sobre as suas ligações ao Chega, e cujas empresas, segundo as notícias, foram alvo de buscas há poucos meses pela Polícia Judiciária.  

Há ainda registos de seis donativos de 5 mil euros cada, nomeadamente de Posser de Andrade, conhecido apoiante do Chega e administrador de uma imobiliária de luxo; Ortigão Costa, dono de dezenas de grandes empresas do sector agro-alimentar; ou Paulo Duarte, dono de uma das maiores empresas nacionais de transportes.  

Também João Bravo, dono de empresas que alugam helicópteros de combate aos incêndios, vendem material ao Ministério da Defesa e armas para as polícias, bem como Humberto Pedrosa, líder do grupo Barraqueiro e nesse ano accionista e administrador da TAP, deram 5 mil euros ao Chega em 2020, nomes que não constam na listas entregues aos jornalistas, mas que no passado já foram citados, igualmente, noutras notícias, como doadores do partido.

O próprio Humberto Pedrosa tinha confirmado à TVI que o filho, através de uma conta bancária conjunta, fez essa doação ao Chega de André Ventura, apesar do dono da Barraqueiro dizer não gostar de partidos dos extremos.

Além da lista de 2020, também em relação a 2021 a TVI encontrou dezenas de donativos em extratos bancários entregues na ECFP (três de cinco mil euros, por exemplo), que não estavam na lista de 2021 enviada aos jornalistas.  

Faltam donativos por transferência bancária

Questionado, o secretário-geral do Chega, Rui Paulo Sousa, confirma à TVI/CNN Portugal que as listas que deram aos jornalistas estão incompletas, mas garante que não quiseram esconder nada, foi apenas uma questão técnica. 

O objetivo foi responder rapidamente às questões da imprensa e não existia tempo para fazer as listas com os dados dos dois sistemas usados pelo partido, nesses anos, para receber donativos.  

Rui Paulo Sousa diz que “o Chega forneceu toda a informação relativamente a todos os recibos que foram emitidos. Aquilo que não aparece, realmente, nesses ficheiros, são os donativos feitos que [nesses anos] ainda aconteceram por transferência bancária porque uma conta [mais tarde encerrada] continuava aberta”. 

Apesar de admitir que as listas entregues aos jornalistas estão incompletas, o dirigente do Chega sublinha que os dados que faltam estão na ECFP e só por isso é que foi possível à reportagem da TVI saber que existiam nomes em falta. 

O secretário-geral detalha que o sistema de recibos, mais recente, "eficaz" e que permitiu fazer rapidamente as listas dadas aos jornalistas, demorou “algum tempo a ser implementado”, e durante esse tempo a primeira conta do partido continuou aberta e a receber transferências bancárias através de pessoas que conheciam esse número para fazer donativos ao Chega. 

O e-mail enviado pelo Chega aos jornalistas no fim-de-semana nunca referia que as listas só incluíam parte dos donativos, explicando-se, apenas, que se encaminhavam “as listas de donativos durante os anos de 2020, 2021, 2022 e 2023”, pois “o ano de 2019 podia ser consultado na ECFP”. 

Para o futuro, o partido de André Ventura garante que já deu instruções aos contabilistas para enviarem sempre, a partir de agora, à ECFP, as listas completas de donativos.   

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