"Ameaçaram cortar-me os meus dedos e pressionaram uma faca contra mim": jornalista russa atacada na Chechénia em estado grave

CNN Portugal , BCE
5 jul 2023, 15:20
Yelena Milashina (Novaya Gazeta Europe Novayagazeta.eu via AP)

O ataque ocorreu na Chechénia, quando a jornalista se preparava para assistir a uma audiência em tribunal sobre o caso de uma mulher que muitos consideram estar a ser injustamente perseguida por motivos políticos

Yelena Milashina, jornalista russa do Novaya Gazeta conhecida pelo seu trabalho de investigação de alegadas violações dos direitos humanos na Chechénia, ficou gravemente ferida na sequência de um ataque perpetrado por um grupo de homens mascarados.

Milashina tinha acabado de chegar ao aeroporto da Chechénia e dirigia-se, de carro, para a capital, Grozny, onde iria decorrer uma audiência em tribunal sobre o caso de uma mulher que muitos consideram estar a ser injustamente perseguida por motivos políticos. A jornalista, que estava acompanhada de um advogado, Alexander Nemov, foi surpreendida pouco depois por um grupo de homens mascarados, que bloquearam a passagem do carro e começaram a espancá-los, apontaram-lhes armas à cabeça e destruíram os seus equipamentos de trabalho.

De acordo com o grupo humanitário “Crew Against Torture”, o ataque ocorreu pelas 05:00 (hora local) desta terça-feira. Pouco depois, ambos foram transferidos para um hospital próximo do local, onde perderam a consciência por várias vezes. Como consequência, a jornalista sofreu graves lesões cerebrais, além de ter vários dedos partidos, enquanto o advogado ficou com um corte profundo na perna, conforme relatado pelo Novaya Gazeta na Europa.

Milashina encontra-se agora no hospital de Moscovo, conforme indicou à AFP o editor daquele jornal, Dmitry Muratov. "Para ser sincero, ela está numa condição difícil. Ela ficou gravemente ferida, foi espancada com um pau", acrescentou.

Foi a partir do hospital que Milashina contou o sucedido, num vídeo divulgado pelo Novaya Gazeta no qual descreveu o ataque como um “sequestro clássico”. "Eles já estavam à nossa espera no aeroporto. O Alexander [o advogado] acredita que alguns deles vieram connosco no mesmo voo. Eles começaram a seguir-nos assim que entrámos no táxi. Andámos cerca de 500 metros até que três carros nos bloquearam a passagem. Em cada carro seguiam pelo menos quatro pessoas. Eles tiraram o motorista do carro à força, fizeram-nos baixar a cabeça, tentaram amarrar as minhas mãos nas costas. Acho que o Alexander foi apunhalado com uma faca nessa altura, ele começou a sangrar", recordou.

"Arrastaram-nos para uma vala e começaram a espancar-nos. Eles eram pelo menos uns 10 ou 15. Alguns estavam a revirar as nossas malas. Eles exigiram as passwords de acesso aos nossos dispositivos. (...) Eles começaram a ameaçar cortar-me os dedos e pressionaram uma faca contra mim. Depois, começaram a bater nos meus dedos com um pau, ao mesmo tempo que ameaçavam parti-los", prosseguiu a jornalista, que surge no vídeo com a cabeça rapada e coberta de uma tinta que diz ter sido atirada sobre ela pelo grupo de atacantes.

Yelena Milashina diz que os atacantes lhe raparam o cabelo e cobriram-na de tinta verde (Novaya Gazeta Europe Novayagazeta.eu via AP)

Entretanto, o Kremlin reagiu ao ataque, classificando-o como “muito grave” e garantiu que vai abrir uma investigação para apurar o que aconteceu, acrescentando que o presidente Vladimir Putin já tinha sido informado do sucedido.

O líder checheno, Ramzan Kadyrov, um aliado próximo do presidente russo, divulgou uma mensagem no Telegram na qual assegurou que vai “resolver” o assunto. “Instruí os serviços competentes para fazerem todos os esforços para identificar os agressores”, acrescentou.

Yelena Milashina trabalha há mais de 20 anos no jornal Novaya Gazeta, um jornal independente que desde a invasão russa da Ucrânia se viu obrigado a suspender a publicação. Todavia, alguns jornalistas continuam a trabalhar, muitos deles fora do país. Nos últimos anos, Milashina ganhou notoriedade pelos seus trabalhos de investigação que incidem sobre a violação de direitos humanos no Cáucaso do Norte e, mais recentemente, na Chechénia.

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