A democracia plena requer igualdade e é isso que espera-se de um governo progressista e que salvou o país do autoritarismo bolsonarista
Onze homens e uma mulher. Assim a população brasileira fica representada na mais alta instância da Justiça brasileira, guardiã da Constituição. O presidente Lula da Silva desperdiçou a chance de mostrar, na prática, a preocupação com a igualdade de gênero, ao indicar um homem para a vaga de Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF).
Assim, a Corte fica com apenas uma mulher, a representação mais baixa da história brasileira. Apesar de não ser uma surpresa, afinal, é política, trata-se de uma decepção enorme, já que Lula foi eleito com um discurso de igualdade, tão necessário depois de o ex-presidente Bolsonaro ter as mulheres como um alvo.
É importante deixar claro que Flávio Dino, ex-juiz federal, é um bom profissional para o cargo, porém não no contexto em que a cadeira era ocupada por uma mulher. Idealmente, a nova ministra deveria ser mulher negra - o que representaria 28% da população do país. Existem muitas profissionais que poderiam ocupar o cargo com as exigências, como o notório saber jurídico, mas o presidente sequer deu essa chance. Foram montadas listas, apresentados nomes, mas sem efeito.
O mesmo aconteceu com o cargo da Procuradoria Geral da República (PGR). Assim como fez Bolsonaro, descartou a tradicional lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), que tinha como mais votada uma mulher.
Lula preferiu o jogo político do que a representatividade e cumprimento do compromisso com as mulheres do Brasil. É jogo político porque coloca no STF um homem de sua estrita confiança e lealdade, o mesmo critério que usou para indicar seu ex-advogado pessoal, Cristiano Zanin, em junho.
Estrategicamente, o presidente pode ter escolhido Dino para deixá-lo de fora da corrida presidencial de 2026. O ministro é um nome popular na esquerda e com boa reputação política. Nas redes sociais é bastante popular e demonstra progressismo. Apesar de fazer parte do governo, ele não é do mesmo partido de Lula. Ao colocá-lo no cargo mais cobiçado da magistratura - que Sérgio Moro tanto sonhou - o impede de se candidatar à presidência, deixando o caminho aberto para o PT.
Criticar a escolha de um homem e suas consequências de representatividade não desmerece as demais ações importantes do governo com as mulheres. A crítica muito menos torna o ex-presidente Bolsonaro melhor neste sentido, aliás, serve de mais munição para a oposição, mesmo que hipócrita.
A democracia plena requer igualdade e é isso que espera-se de um governo progressista e que salvou o país do autoritarismo bolsonarista. Se foi simbólica a subida da rampa no dia 1º de janeiro ao lado de representantes diversos da população brasileira, é também simbólico que o jogo político venha antes de tudo.