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Comentadora CNN

O Brasil e o mundo precisam aprender com o 25 de abril 

25 fev 2023, 14:40

Poderia ser a hora de Portugal compartilhar com mundo os valores da data com países que tanto precisam aprender sobre a democracia

A mais nova polêmica em Portugal é a vinda de Lula da Silva para as comemorações do 25 de Abril, com um discurso na Assembleia da República. Na verdade, não é propriamente uma novidade. O assunto foi discutido, de maneira preliminar, na visita de Lula da Silva a Portugal no final do ano passado, depois de ser eleito. Foi definida a realização da cimeira luso-brasileira a partir de 22 de abril, a entrega do Prêmio Camões ao cantor Chico Buarque e homenagens a Lula da Silva durante o 25 de Abril. 

Pode-se discutir a forma como foi anunciado, apesar de João Gomes Cravinho ser o ministro dos Negócios Estrangeiros, pasta responsável pela diplomacia. No mais, o próprio ministro deixou bastante claro que a decisão final seria do Parlamento, onde o PS possui a maioria - para o desespero daqueles que jamais reclamariam se o convidado fosse Bolsonaro e não Lula. 

É mais do que óbvio que muitos dos que discordam da vinda do presidente brasileiro adorariam a ideia de ter Bolsonaro na Assembleia da República. O que claro, não poderia ser mais irônico e sem sentido, já que ele é o oposto da democracia, assim como alguns deputados que estão no Parlamento, se comportando como alunos malcriados em sala de aula e sem propôr nenhum projeto de lei que seja bom para o país. 

Outro argumento utilizado para ser contrário ao discurso de Lula é que o convite significa um desejo do PS de polarizar o país. Ora, eu já vi esse filme antes e garanto que essa falsa equivalência não tem um resultado bom. Fortalecer a democracia não é fomentar a polarização, é tentar acabar com ela de uma forma eficaz, porque não é polarização quando um lado defende a democracia e o outro não.

E o Brasil é, de fato, um país irmão de Portugal. Nunca deixou de ser e nem deixará de ser, não importa quem esteja na presidência. A diferença é que o governo anterior não se via dessa forma. No máximo, se colocaria como irmão de alguma ditadura que odeia mulheres. Não é à toa que Bolsonaro recusou a receber Marcelo Rebelo de Sousa no Brasil e preferiu fazer uma “motociata” em vez de participar da reinauguração do Museu da Língua Portuguesa em agosto do ano passado.

Pode-se discordar, assim como eu discordo e muito, de várias políticas do PT, de nunca terem admitido de maneira enfática que houve corrupção no governo e dos discursos de Lula, especialmente sobre a invasão da Rússia à Ucrânia. Mas é injusto dizer que ele não representa a democracia.

Lula foi preso durante a ditadura brasileira, lutou pelo fim do regime militar e foi uma figura atuante na campanha Diretas Já por eleições livres. Concorreu três vezes ao cargo de presidente, sem sucesso. Mas nunca contestou o resultado, nunca incitou golpe nem violência, como vimos Bolsonaro fazer ao longo dos últimos quatro anos.

O atual presidente, nas três derrotas que teve nas urnas, apenas foi pra casa e tentou de novo até ser eleito em 2002 e 2006. Depois de sair da prisão, concorreu novamente e derrotou o presidente mais antidemocrático da história recente brasileira em 2022, com votos da esquerda à direita. 

Agora, que a normalidade democrática brasileira e a diplomacia estão sendo retomadas com Portugal e o mundo, faz todo o sentido que o Brasil esteja junto com o país irmão desta data importante. Discursar na casa do povo é um gesto simbólico que reforça algo que já acontece: brasileiros e cidadãos de outras nacionalidades desfilando na Avenida da Liberdade, de mãos dadas com os portugueses, com bandeiras e cravos vermelhos, unidos pelos valores democráticos. 

Em vez de colocar o 25 de Abril apenas como algo para os portugueses, poderia ser a hora de Portugal compartilhar com mundo os valores da data. O país é um exemplo de como marcar a luta pela democracia e como defendê-la. Quem dera se o Brasil tivesse acertado as contas com o passado ditatorial como Portugal o fez. Certamente teríamos enfrentado bem menos percalços nos últimos anos e a nossa democracia não estaria tão em risco. 

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