São mais de mil e "puramente defensivos". O que se sabe sobre a força militar conjunta da Rússia e Bielorrússia

11 out 2022, 15:11
Lukashenko (Associated Press)

Lukashenko diz que o seu país está sob ameaça por parte da Ucrânia e que por isso tem de defender as suas fronteiras. Não se sabe quantos militares bielorrussos foram destacados, mas sabe-se que a seu lado estarão mil ativos russos

"Puramente defensiva". Foi desta forma que o ministro da Defesa da Bielorrússia, Viktor Khrenin, apelidou o grupo regional que será criado em conjunto com as tropas russas e que, segundo o oficial, terá como objetivo defender as fronteiras.

“Enfatizamos mais uma vez que as tarefas do Agrupamento Regional de Forças são puramente defensivas. E que todas as atividades neste momento visam fornecer uma resposta suficiente às ações perto das fronteiras", afirmou Viktor Khrenin, em comunicado.

A justificação surge um dia depois do aviso do presidente Alexander Lukashenko à Ucrânia. Após a explosão na ponte de Kerch, que liga a Rússia à Crimeia, na manhã de segunda-feira, 84 mísseis foram disparados pelas forças russas em direção a território ucraniano. Destes, 43 foram intercetados, mas os restantes atingiram várias infraestruturas, maioritaramente civis, e fizeram pelo menos 19 mortos e mais de uma centena de feridos. 

Segundo a Reuters, perante a escalada de tensão, o presidente bielorruso afirmou que ordenou às suas tropas para avançarem com as forças russas para perto da Ucrânia, uma vez que considerava que existia uma "ameaça clara" à Bielorrússia por parte de Kiev, apoiada pelo Ocidente.

"Os ataques no território da Bielorrússia não estão apenas a ser discutidos na Ucrânia hoje, estão também a ser planeados", afirmou Lukashenko numa reunião sobre segurança, sem apresentar provas para a afirmação. "Estão a ser pressionados pelos seus patrões para desencadearem uma guerra contra a Bielorrússia com o objetivo de nos envolver e lidarem com a Rússia e a Bielorrússia em simultâneo. Estamos a preparar-nos para isto há décadas. Se for necessário, vamos responder." 

Rodeado pelos responsáveis pela segurança do país, Lukashenko revelou ainda: o acordo com Putin para um grupo militar regional estava acertado e já tinham começado a juntar forças há dois dias, logo após o ataque à ponte de Kerch. 

"Ponte da Crimeia 2"

O que o ministro da Defesa da Bielorrússia diz ser estratégia "puramente defensiva", nas palavras de Lukashenko soam a ameaça, até porque o presidente garante ter recebido um aviso através de canais não oficiais de que a Ucrânia está a planear um ataque "Ponte da Crimeia 2".

"Ontem, através de canais não oficiais, preveniram-nos de um ataque em preparação à Bielorrússia e a partir de território ucraniano. A minha resposta é simples: 'Digam ao presidente da Ucrânia e aos outros lunáticos: se tocarem num metro do nosso território, então a Ponte da Crimeia vai parecer um passeio no parque." 

E foi mais longe, acusando também a Polónia e a Lituânia de, juntamente com a Ucrânia, prepararem ataques “terroristas” e uma “sublevação militar” na Bielorrússia, e disse ainda que a União Europeia e os Estados Unidos pretendem “agravar a situação”.

“O treino de combatentes na Polónia, na Lituânia e na Ucrânia inclui radicais bielorrussos, para efetuarem sabotagens, atos terroristas, e um levantamento militar no país tornou-se numa ameaça direta. Os Estados Unidos e a União Europeia afirmam que pretendem legitimar os nossos fugitivos como uma força política, preveem reforçar seriamente o seu apoio a elementos destrutivos e agravar a situação na fronteira ocidental [bielorrussa] para abrir uma segunda frente.”

Até porque, segundo Lukashenko, a Rússia não pode lidar com outro conflito neste momento e, por isso, Minsk está preparado para ajudar com o reforço militar. 

"A última coisa que eles precisam é de outro conflito. Sei que eles já têm problemas suficientes. Por isso, não devemos contar com um grande número de forças armadas da Federação Russa [para o agrupamento militar]. Mas serão mais de mil pessoas", revelou o presidente bielorrusso.

Militares nas fronteiras

O exército bielorrusso é composto por cerca de 60 mil militares. Destes, desconhece-se quantos irão fazer parte do Agrupamento Regional de Forças que está a ser agora criado e do qual farão parte cerca de mil militares russos. 

Segundo o que deu a entender Lukashenko na reunião de segurança, citado pela agência BelTA, os militares irão concentrar-se em território bielorrusso. 

"Por favor, estejam preparados para receber e acomodar estas pessoas em breve e onde for necessário, de acordo com o nosso plano. Sem exagerar, mantendo as coisas calmas", disse o presidente ao ministro da Defesa.

No início do ano, a Bielorrússia enviou seis batalhões táticos, num total de mil militares, para as fronteiras do país. Este domingo, o chefe dos guardas de fronteira acusou a Ucrânia de provocações na divisão dos dois países, o que se se tornar numa agressão real pode espoletar um novo conflito. E o ministro da Defesa Viktor Khrenin já garantiu que o país está preparado para responder caso seja atacado, nem que seja um metro. "No caso de sermos atacados, se apenas um metro de terra bielorrussa for submetido a agressão, como o comandante supremo disse, a resposta será instantânea e dura." 

"Vemos que os nossos vizinhos ucranianos estão preocupados com possíveis ações agressivas por parte das Forças Armadas da República da Bielorrússia. Fugas sobre alegados preparativos para um ataque na Bielorrússia continuam. Temos apenas uma resposta para isso: não nos provoquem, não pretendemos guerra convosco. Não queremos uma guerra com lituanos, polacos ou ucranianos. Se não quiserem e se não derem passos errados, não haverá guerra. No caso de sermos atacados, se apenas um metro de terra bielorrussa for submetido a agressão, como o comandante supremo disse, a resposta será instantânea e dura", garantiu em declarações à BelTA.

No entanto, apesar de a situação "realmente tensa" no país, o secretário de Estado para o Conselho de Segurança da Bielorrússia garante que "não há necessidade de pânico" porque a segurança nacional está sob controlo.

"A situação em torno do nosso país continua realmente tensa hoje e pode escalar. [Mas] A situação está sob controlo. O presidente acompanha a situação, realiza reuniões, dá instruções. Portanto, não há necessidade de pânico", garantiu Aleksandr Volfovich à BelTA.

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