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Colunista e comentador

“Aldrabão?” Há alguma rima que faça rir Conceição?

22 abr 2022, 16:23
Pepe

Este futebol português é um caso de estudo e parece um barco encalhado numa rocha.

Está ali há anos encalhado, depois de sucessivos saques e pilhagens, e ninguém o tira de lá.

É mirado com indiferença ou comiseração e até há quem o veja como um monumento que deve ser restaurado.

Ainda não sabemos qual é a intenção do novo secretário de Estado do Desporto, JOÃO PAULO CORREIA; se vem para contemplar o monumento, se está disposto a fazer o que é necessário para o desencalhar da rocha.

Este FC Porto-Sporting, que teve um desfecho justo, assinale-se, serviu para perceber algumas das contradições do futebol nacional.

Tirem a clubite disto e raciocinem comigo.

Já com o caso PALHINHA percebemos como tudo foge, com uma facilidade medonha, ao senso-comum. 

O sistema permite entre recursos no quadro da justiça desportiva e apelos à intervenção dos tribunais administrativos que os clubes joguem com todas as escapatórias possíveis.

Não há outro país na Europa e provavelmente no Mundo, apesar de se perceber que as deformações sistémicas não estejam apenas em Portugal, a utilizar todas as manobras dilatórias para que não se faça justiça no tempo certo.

A indiferença perante isto é um escândalo, apadrinhado por todos.

O tempo certo, no futebol, é uma coisa muita séria, porque o futebol é um jogo de milhões e uma má justiça ou uma justiça encalhada ou capturada, que não aja de acordo com a especificidade desta indústria, não serve para nada a não ser para ajudar a desvirtuar a verdade desportiva.

Tal como PALHINHA já fizera, também ‘in extremis’ PEPE apareceu no Dragão com uma carta na mão, um ofício chancelado pelo Tribunal Central Administrativo do Sul (TCAS) e entregou-a ao árbitro NUNO ALMEIDA que não podia fazer mais nada senão dizer-lhe: ‘muito bem, senhor capitão, pode ocupar o seu lugar’.

Isto não faz bem ao futebol e, com o hábito que se criou em Portugal de não se aceitar castigo algum, andamos há anos a brincar à justiça desportiva, cujos titulares são tratados como autênticos bombos da festa e nalguns casos até se sentem consolados por protagonizar essas figuras.

Ando há anos a dizer que não podem ser os clubes a aprovar os regulamentos, porque ser juiz em causa própria é uma das maiores incompatibilidades sistémicas que podemos achar neste ordenamento jurídico.

Por isso, pergunto ao sr. secretário de Estado do Desporto, JOÃO PAULO CORREIA, se tem noção do que se passa no futebol e desta pouca-vergonha que parece não ter fim?

Este último clássico no Dragão tinha sobre ele a recente memória do jogo realizado há dois meses e, nesse aspecto, as coisas nem correram mal, mas ainda assim SÉRGIO CONCEIÇÃO e RÚBEN AMORIM protagonizaram dois momentos que merecem reflexão.

O primeiro, antes do jogo, quando - a propósito do castigo a PEPE e ainda sem se saber do despacho do TCAS — SÉRGIO CONCEIÇÃO afirmou: Não vale tudo para ganhar”.

Há duas coisas que aprecio em SÉRGIO CONCEIÇÃO: a determinação com que defende muitas vezes o indefensável, escudando-se na forma como sente o futebol e o seu sentido de humor, muito mais refinado quando está a ganhar.

Alguém dizia, filosoficamente, que “a realidade é uma ilusão”.

Talvez tenha sido isso que levou RÚBEN AMORIM a ripostar, também antes do jogo: Há coisas que me dão vontade de rir, como certas pessoas dizerem que não vale tudo para ganhar”.

Em Portugal e no futebol, a arte da representação é uma coisa sanguínea.

A bola foi rolando no relvado do Dragão e quando PORRO foi (bem) expulso, RÚBEN AMORIM disse a PEPE “és um aldrabão”, muito provavelmente a referir-se ao depoimento do capitão azul-e-branco, que negou junto das instancias desportivas ter pontapeado HUGO VIANA, como lhe fora imputado designadamente pelo árbitro JOÃO PINHEIRO, no jogo de há dois meses e pico.

PEPE convidou RÚBEN AMORIM a ir para dentro de campo e jogar e, depois, quando foi substituído, recebeu uma forte ovação e um caloroso abraço do seu treinador.

Vitória no jogo, vitória na eliminatória, vitória processual. Aldrabão, o PEPE? Não há, de facto, nenhuma rima que por ora possa fazer sorrir CONCEIÇÃO. A não ser a de campeão.

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