Zelensky nos EUA. O que fica de um dia histórico num momento de viragem

22 dez 2022, 06:10

Entre a Casa Branca e o Congresso, Zelensky conseguiu ovações de pé e garantias de mais dinheiro e mais armas. Foi aplaudido por democratas e por republicanos num momento de viragem. Putin respondeu mandando um enviado a Pequim

No dia 301 da invasão à Ucrânia que Vladimir Putin achou que estaria resolvida em três dias, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky foi recebido na Casa Branca, discursou numa sessão conjunta das duas câmaras do Congresso norte-americano e foi aplaudido de pé por congressistas dos dois partidos, conforme constatou que a Ucrânia “não caiu, está viva e forte”, e prometeu que o seu país “nunca se irá render”.

Putin nem conquistou Kiev, nem esmagou a Ucrânia, nem derrubou Zelensky, nem assegurou o controlo do Donbass, nem cortou o apoio dos aliados ocidentais aos ucranianos. Pelo contrário, no dia em que Zelensky era ovacionado nos Estados Unidos invocando com comparações com Churchill, Putin reconheceu as dificuldades no terreno e anunciou mais um reforço de tropas para compensar as muitas perdas humanas, e novos recursos financeiros para compensar o imenso material perdido na linha da frente. 

Em contraste com a pose neo-czarista de Putin em Moscovo, Zelensky mostrou-se em Washington como uma estrela-pop-no-avesso-de-Putin: simples, acessível, sorridente, sempre de roupa verde-tropa, direto nas palavras, nos gestos e nos pedidos: precisamos de mais Patriots, precisamos de mais armamento, não precisamos dos vossos soldados desde que nos dêem material e nos ensinem a usá-lo, o vosso dinheiro não é caridade, é investimento. 

“Este é um momento histórico”, disse Marie Yovanovitch, antiga embaixadora dos EUA na Ucrânia. “Vamos olhar para este dia como olhámos para os discursos de Franklin Roosevelt e de outros que foram invocados esta noite. O Presidente Zelensky veio diretamente de Bakhmut, percorreu milhares de quilómetros para agradecer aos americanos, ao Congresso e ao Presidente dos EUA, e para dizer que pode vencer a guerra, mas que precisa de mais ajuda, e que isso não é caridade, mas um investimento na ordem global e na segurança dos EUA. Foi brilhante.”

Nancy Pelosi, que foi a anfitriã de Zelensky na sessão conjunta do Congresso, enquanto presidente da Câmara dos Representantes, fez um paralelo entre a II Guerra Mundial e a invasão da Ucrânia pela Rússia, e comparou a visita de Zelensky com o discurso que o primeiro-ministro Winston Churchill fez ao Congresso americano no Natal de 1941, poucos dias após o ataque japonês a Pearl Harbor e a entrada dos americanos na guerra. Ambos pediram o apoio dos EUA na luta “contra a tirania”, lembrou Pelosi. “Oitenta e um anos depois, é particularmente comovente para mim estar presente quando outro líder histórico se dirige ao Congresso em tempo de guerra e com a própria democracia em jogo“.

Foi um dia histórico, concluído com um discurso histórico, a que poucos em Kiev terão assistido em direto - por ser de madrugada na Ucrânia, mas sobretudo porque o fornecimento de eletricidade, na capital e no resto do país, tem estado fortemente condicionado pelos ataques russos a infraestruturas básicas, que deixaram o país ao frio e às escuras. Há zonas de Kiev onde só há eletricidade uma ou duas horas por dia; na maior parte da cidade, o fornecimento dura até dez horas - nestas circunstâncias, a prioridade dos ucranianos não será ouvir Zelensky a contar ao mundo aquilo que os ucranianos conhecem bem: o sofrimento a que têm sido submetidos e a fé na sua capacidade de resistir ao terror dos invasores.

Eis os principais pontos que ficam de um dia histórico:

  1. O momento 

A viagem de Zelensky a Washington acontece num momento decisivo, quando a guerra parece estar a cair num impasse no campo de batalha, e na política americana os republicanos estão à beira de passar a controlar uma das câmaras do Congresso. Uma parte dos congressistas republicanos tem posto em causa a continuação do apoio à Ucrânia (ver ponto seguinte), e a opinião pública dos EUA, embora continue maioritariamente a favor desse apoio financeiro e militar, já não mostra com esta causa o mesmo entusiasmo que mostrava há alguns meses.

Na Casa Branca, Biden prometeu a Zelensky que os ucranianos “nunca ficarão sozinhos”, e anunciou um novo pacote de ajuda desenhado para enfrentar uma guerra que se vai prolongar e, na perspetiva de Washington, vai entrar numa “nova fase”. A Rússia a preparar mais tropas para a linha da frente, e a aproveitar o inverno para atingir as infraestruturas básicas da Ucrânia, para expor os ucranianos à falta de água, eletricidade e aquecimento em pleno inverno; e o Ocidente começa a mostrar cansaço com as consequências do conflito - inflação alta e incerteza energética. Ou seja, o momento certo para dar palco a Zelensky para que explique o que está em causa, aquilo por que o seu povo está a passar, e as consequências de uma eventual vitória russa. 

É "importante para o povo americano, e para o mundo, ouvir diretamente de si, senhor Presidente, sobre a luta da Ucrânia, e a necessidade de continuarmos juntos durante 2023", disse Biden. O ano que vem vai ser “um ponto de viragem”, prometeu Zelensky, desde que o apoio ao seu país não falhe.

  1. A ovação do Congresso

Quando Volodymyr Zelensky entrou na sessão conjunta do Congresso, a sala levantou-se em peso para uma ovação ao presidente ucraniano. Senadores e membros da Câmara dos Representantes, democratas e republicanos, quase sem exceção, receberam o convidado com um longo aplauso em pé, e ao longo do discurso a imagem repetiu-se por várias vezes. 

Todos os congressistas de pé, democratas e republicanos. “Queridos americanos”, começou por dizer Zelensky. Entre os jornalistas norte-americanos que cobriam o evento, havia quem fizesse comparações com um discurso do Estado da União. Ou até com a primeira sessão conjunta das duas câmaras após os ataques do 11 de Setembro. 

A poucos dias de o controlo da Câmara dos Representantes passar para o Partido Republicano, há dúvidas sobre qual será a atitude dos republicanos - entre os setores mais radicais do partido, têm-se acentuado as críticas ao apoio da Administração Biden a Kiev. Membros do Freedom Caucus, conotado com a ala mais à direita dos republicanos, já propuseram um inquérito à forma como tem sido gasto esse dinheiro, falando - sem provas - de corrupção e desvio de fundos. O provável futuro líder da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, tem dado sinais de apoio a esse inquérito, pois precisa dos votos da ala mais radical para conseguir ser eleito para a liderança da câmara. E já avisou que não permitirá mais “cheques em branco” para a Ucrânia.

Por isso Zelensky referiu várias vezes a importância de um apoio “das duas câmaras” e “bipartidário” à causa ucraniana.

Após o seu discurso, ficou clara a clivagem entre a ala moderada e a ala radical do Partido Republicano. "Isto é tão importante", disse Mitch McConnell, o líder da minoria republicana no Senado, falando aos repórteres sobre o discurso de Zelensky. "A coisa mais importante que se passa no mundo é vencer os russos na Ucrânia. Felizmente, eles têm um líder que todos podem admirar e admirar. E também é bom ter algo aqui no final do ano em que todos estamos efetivamente de acordo". Chuck Schumer, o líder democrata que é líder do Senado, frisou esse quase acordo bipartidário, falando para as franjas republicanas que contestam a ajuda a Kiev: "Espero que aqueles que duvidavam que devíamos ajudar a Ucrânia tenham ouvido o discurso alto e bom som". 

Schumer foi mais longe, contando que perguntou ontem a Zelensky, em privado, o que significaria se o Congresso não aprovasse o novo grande pacote de ajuda que está agora em discussão entre os legisladores. "Ele disse que isso significaria que perderíamos a guerra", relatou.

Apesar da ovação bipartidária, houve diversos representantes republicanos que não se levantaram para o saudar, nem sequer o aplaudiram. Andrew Clyde da Geórgia tem as suas mãos nos bolsos. Lauren Boebert, uma das congressistas mais radicais do Partido Republicano, foi um desses casos, mas não foi a única. E diversos senadores e representantes eleitos pelo Partido Republicano recusaram-se a assistir à sessão - uma delas, a ultra-conservadora e ultra-trumpista Marjorie Taylor Greene. 

Enquanto isso, na Fox News, o influente pivô Tucker Carlson tem alimentado a narrativa anti-ucraniana, insinuando que há desvio de dinheiro e corrupção, repetindo os argumentos do Kremlin e assumindo até que está "a torcer" por Moscovo.

  1. A garantia

“A Ucrânia não caiu. A Ucrânia está viva e forte”, lembrou Zelensky, prometendo que o seu país “está a manter as suas posições e nunca se irá render”. Se havia quem apostasse que Biden iria aproveitar esta visita para pressionar o seu homólogo a aceitar um entendimento com Moscovo, perdeu a aposta. Na conferência de imprensa conjunta, Biden disse que cabe a Zelensky e aos ucranianos "decidir como querem que a guerra termine", não dando qualquer sinal de pressão no sentido de cedências que garantam um acordo de paz apressado.

Responsáveis norte-americanos citados pela CNN Internacional acreditam que poderá tornar-se cada vez mais difícil para a Ucrânia retomar território da Rússia à medida que Putin reforça as suas posições durante a pausa de inverno, o que leva à perspectiva de um impasse sangrento. Mas um assessor de topo da Administração Biden foi firme a recusar a ideia de que a Casa Branca pudesse aproveitar o encontro de ontem para "empurrar, ou instigar Zelensky de forma alguma" para pôr fim ao conflito de qualquer forma.

  1. O plano de paz

“Precisamos de paz, sim”, disse Zelensky no Congresso. E adiantou que “a Ucrânia já apresentou propostas” de paz, que Zelensky disse ter discutido com Biden. Chamou-lhe “a nossa fórmula de paz em dez pontos” - o mesmo plano que apresentou em novembro na cimeira do G20, na qual participou como convidado, por videochamada.

Um plano que exige a retirada total da Rússia, ao que tudo indica, não apenas dos territórios que invadiu agora, mas também da Crimeia, invadida em 2014. 

Moscovo já disse que considera inaceitável este “plano de paz”. Zelensky, por seu lado, repetiu ontem que considera inaceitável qualquer acordo que implique a cedência de território ilegalmente ocupado - “Para mim, como presidente, ‘apenas paz’ significa não fazer cedências”. O presidente ucraniano disse que era difícil ver um fim fácil para o conflito e que "não pode haver qualquer ideia de ‘apenas paz’ numa guerra que nos foi imposta".

“Cada um de vocês pode ajudar à implementação [do plano de paz]”, disse Zelensky aos congressistas, dizendo que com isso também seria assegurado “que a liderança americana continua sólida, bicamarária e bipartidária.”

  1. O armamento

“Temos artilharia, sim. Obrigado. Mas chega? Na verdade, não.” A frase de Zelensky fez sorrir muitos congressistas, e quase todos se levantaram a aplaudi-lo quando voltou a insistir na necessidade de receber mais armamento dos EUA para poder fazer frente ao poderio russo, agora ajudado pelos drones iranianos. “Para as tropas russas saírem completamente precisamos de mais armas”, disse Zelensky, que agradeceu a Biden o envio de uma bateria de mísseis Patriot, mas disse de imediato que a Ucrânia precisa de mais. 

“Gostávamos de receber mais Patriots,” disse a rir a Biden, que se riu também. Lamento, mas estamos em guerra”, acrescentou.

Anthony Blinken, anunciou (e Biden confirmou) que os EUA vão fornecer um novo pacote de assistência militar à Ucrânia no valor de 1,85 mil milhões de dólares (cerca de 1,75 mil milhões de euros), e Zelensky foi ao Congresso dizer que “se os vossos Patriots travarem o terror russo contra as nossas cidades, e isso permitirá aos nossos patriotas fazerem tudo para defender a nossa liberdade”.

Entretanto, os congressistas estarão prestes a aprovar uma ajuda militar e económica adicional à Ucrânia, no valor de 45 mil milhões de dólares, que faz parte de uma lei de despesas globais de 1,7 triliões de dólares. Com mais este pacote financeiro, a assistência total dos EUA à Ucrânia vai para mais de 100 mil milhões de dólares.

Segundo a CNN Internacional, quando esta visita começou a ser falada, Zelensky disse aos seus conselheiros que não queria viajar para Washington se não houvesse um desenvolvimento significativo na relação bilateral com os Estados Unidos. Esse desenvolvimento, na opinião de Zelensky, foi a decisão dos EUA de enviar um sistema de defesa antimíssil Patriot para a Ucrânia - vista em Kiev como uma mudança importante na relação entre os dois países, que fortalecem o estatuto de aliados, apesar de a Ucrânia não integrar a NATO.

O homem que no início da guerra disse aos americanos “preciso de munições, e não de uma boleia” (quando era incentivado a abandonar Kiev), conseguiu as munições e a boleia até Washington para as agradecer. Mas quer mais: “Nunca pedimos aos soldados americanos para lutarem no nosso território. Tenho certeza de que os soldados ucranianos serão capazes de operar tanques e aviões americanos por si mesmos”, notou - uma indireta ao facto de a Ucrânia não ter recebido nem tanques pesados nem aviões de combate.

  1. O dinheiro americano

“Obrigado. Muito obrigado. Obrigado pela ajuda financeira…”, repetiu Zelensky, que agradeceu inúmeras vezes aquilo que Biden, o Congresso e os americanos têm feito pela Ucrânia. E deixou uma resposta aos que, no Partido Republicano, contestam este apoio: “O vosso dinheiro não é caridade, é um investimento na segurança global, que nós gerimos da forma mais responsável”.

Foi, mais uma vez, ovacionado de pé, mas não por Lauren Boebert e outros republicanos da direita radical, filmados pela CNN Internacional sentados, sem aplaudir. Com o Congresso a braços com a discussão do pacote de despesas que contém quase 50 mil milhões de dólares para a Ucrânia, o apoio bipartidário a esta nova ajuda não está em questão - mas há dúvidas sobre por quanto tempo a discussão poderá arrastar-se, se alguns republicanos entrarem em manobras dilatórias. 

Na Casa Branca e entre as fileiras democráticas havia alguma esperança de que o discurso de Zelensky pudesse ajudar a acelerar um acordo no Senado. Mas alguns dos detratores deste apoio já vieram dizer que Zelensky não disse nada de novo que os leve a mudar de posição.

  1. A imagem

Quando saiu de Bakhmut na terça-feira trazendo uma bandeira ucraniana da cidade mártir para oferecer ao Congresso dos EUA, talvez fosse esta a imagem com que Zelensky sonhou: a vice-presidente dos EUA, e a líder do Congresso, a segurar a bandeira com as cores da Ucrânia em frente à bandeira dos Estados Unidos.

  1. O encontro em Pequim

No mesmo dia em que Volodomyr Zelensky foi a Washington encontrar-se com o líder da super-potência dominante, Vladimir Putin mandou um enviado a Pequim para se encontrar com o líder da super-potência emergente. Dmitry Medvedev, ex-presidente da Rússia e atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, fez uma viagem-surpresa à China e reuniu-se com Xi Jinping, numa conversa que abordou, claro, a guerra na Ucrânia. durante as quais disse que discutiram o conflito na Ucrânia.

Segundo Medvedev: "Discutimos a cooperação entre os dois partidos governantes da China e da Rússia (…), cooperação bilateral no âmbito da nossa parceria estratégica, incluindo sobre a economia e a produção industrial. Também discutimos questões internacionais - incluindo, naturalmente, o conflito na Ucrânia". "As conversações foram úteis", acrescentou.

Pelo seu lado, o presidente chinês que gostaria de ver conversações de paz para resolver o conflito. "A China espera que as partes relevantes possam permanecer racionais e comedidas, conduzir conversações abrangentes, e resolver preocupações mútuas sobre segurança através de métodos políticos", disse Xi, citado pela emissora estatal China Central Television. Segundo Xi, a sua administração tem "promovido ativamente a paz e as conversações" - embora não haja registo de qualquer ação concreta de Pequim nesse sentido, para além de apelos vagos a negociações de paz.

A China nunca criticou a Rússia por causa da invasão da Ucrânia, culpando muitas vezes a NATO pelas ações do Kremlin. Mas Xi já por várias vezes se demarcou das ameaças de uso de armas nucleares que têm sido feitas por Moscovo, nomeadamente por Medvedev. E nunca ultrapassou a linha vermelha definida pelos EUA e seus aliados: que se saiba, até hoje Pequim nunca forneceu material de guerra à Rússia.

Apesar disso, Xi tem reiterado a parceria estratégica com Putin, e ainda esta semana estão a decorrer exercícios navais conjuntos com forças dos dois países. E está anunciada para os próximos dias uma conversa entre Xi e Putin.

  1. A reação chinesa

À hora a que é escrito este texto, não há qualquer reação oficial chinesa ao discurso de Volodomyr Zelensky no Congresso, ou à sua deslocação aos Estados Unidos. Mas o jornal Global Times, do Partido Comunista Chinês (PCC), deixa clara qual é a posição de Pequim, sempre tendendo para o lado russo. Num texto publicado nas últimas horas, o jornal em inglês do PCC defende que a promessa americana de fornecer mais armas à Ucrânia é uma forma de Washington “atiçar as chamas” e impedir um acordo de paz que ponha fim à guerra. No fundo, o mesmo argumento que o Kremlin costuma usar.

“Os analistas acreditam que a primeira visita conhecida de Zelensky ao estrangeiro desde que o conflito Rússia-Ucrânia começou, em fevereiro, visa reunir mais apoio militar dos EUA, e que à medida que a batalha em certas zonas se torna mais intensa, a perspetiva de acabar com o confronto e alcançar um acordo pacífico torna-se mais estreita”, escreve o jornal. 

“O conflito Rússia-Ucrânia continuará por muito tempo, e os confrontos em alguns campos de batalha poderão tornar-se mais intensos à medida que forem utilizadas armas mais pesadas”, defende um desses analistas, considerando que, perante o reiterado apoio de Washington, “as perspectivas para o conflito Rússia-Ucrânia não são promissoras”. “Não são só as pessoas na Ucrânia e na Rússia que irão sofrer, os europeus irão também engolir uma pílula amarga se o conflito continuar com uma crise energética mais grave”, vaticinar os “observadores” citados pelo jornal oficial, “apelando para que os EUA deixem de atiçar as chamas e para que mais países promovam negociações de paz”.

  1. A referência de Zelensky à China 

No seu discurso no Congresso, Zelensky fez uma brevíssima referência à China, colocando-a, curiosamente, a par com os EUA: “Dos Estados Unidos à China, da Europa à América Latina, de África à Austrália, o mundo está demasiado interligado e interdependente para permitir que alguém se ponha de lado e se sinta seguro enquanto esta guerra se desenrola”. Uma forma de sinalizar os riscos que este conflito acarreta para todo o mundo, e que já são visíveis na travagem da economia que atinge, também, a China.

  1. O eixo do mal 

Zelensky não usou esta expressão, mas invocou esse conceito, cunhado por George W. Bush e tão ao gosto dos republicanos, ao enfatizar a aliança que se estabeleceu, já durante este conflito, entre a Rússia e o Irão. Uma forma, talvez, de piscar o olho às bancadas mais conservadoras dos Republicanos. “Drones mortíferos iranianos foram enviados às centenas para Rússia, e são uma ameaça à nossa infraestrutura crítica. É assim que os terroristas se encontram uns com os outros. É só uma questão de tempo até atacarem outros aliados nossos, se não os travarmos agora”, alertou Zelensky.

  1. Um conto de Natal

“Tal como os bravos soldados do exército americano resistiram [na Batalha do Bulge] e lutaram contra as forças de Hitler no Natal de 1944, bravos soldados ucranianos estão a fazer o mesmo contra as forças de Putin neste Natal”, disse Zelensky, num dos seus habituais apelos à memória coletiva dos países seus aliados. Com estas referências, o líder ucraniano não apenas traçou um paralelo entre Ucrânia e EUA - dois países lutando contra a tirania pela sua democracia e independência - como colocou a Rússia no lado dos nazis, devolvendo a Putin o epíteto que este costuma colar aos ucranianos.

“Daqui a 2 dias vamos celebrar o natal. Talvez com velas, não porque é mais romântico mas porque não haverá eletricidade. Milhões não terão aquecimento nem água corrente. (...) Mas não nos queixamos, não julgamos quem tem uma vida mais fácil. O vosso bem-estar é o produto da vossa segurança nacional, o resultado da vossa luta pela independência e das vossas muitas vitórias. Nós ucraniannos também vamos fazer a nossa guerra por independência e liberdade com dignidade e sucesso. Vamos celebrar o Natal, e mesmo sem eletricidade a luz da nossa fé em nós mesmos não será apagada.”

Ainda houve tempo para citar Roosevelt, o homem que dirigiu os EUA na guerra contra o nazismo. O paralelo entre Zelensky e Churchill, esse, já havia sido feito por Nancy Pelosi. 

À beira da festa mais importante para o mundo cristão, Zelensky despediu-se com: “Feliz Natal e feliz vitorioso ano novo!”

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