Porque é que Putin e porque é que o Kremlin e porque é que a Rússia e porque é que outros não dizem simplesmente "Prigozhin morreu"? "Porque ADN"

25 ago 2023, 22:21

E sim, "vão surgir várias especulações"

Da queda do avião que tinha os nomes de Yevgeny Prigozhin e de outros membros do Grupo Wagner na lista de passageiros sobraram apenas corpos carbonizados e destroços espalhados por vários quilómetros. A dificuldade em identificar os corpos é a explicação mais plausível para que o Kremlin continue a não anunciar de forma taxativa a morte do líder dos mercenários, que desde a rebelião que iniciou se tornou um alvo claro do presidente russo.

Putin já se referiu a Prigozhin com verbos no passado, "era um homem de negócios talentoso que cometeu erros graves", era já não é, mas Putin não disse "está morto, morreu, não vive", disse sim que os indícios apontam "que membros do Wagner iam a bordo", Putin deu condolências "às famílias das vítimas", vítimas plural e não "à família de Prighozin", vítimas plural de vítimas por identificar e vítimas plural de nenhuma vítima assumida oficialmente.

Para o major-general Agostinho Costa a questão da verificação da identidade dos corpos é a verdadeira razão que atrasa uma oficialização concreta dos nomes das vítimas mortais. O militar diz à CNN Portugal que "naturalmente que têm de se fazer testes de ADN para confirmar a identidade dos corpos".

Com efeito, o Comité de Investigação da Rússia anunciou esta sexta-feira que tinha recuperado os corpos dos 10 ocupantes que seguiam no avião – sete passageiros e três tripulantes -, sendo que os investigadores confirmaram que vão ser realizados testes de ADN.

"Vimos imagens do avião a arder e o que sobraram foram corpos carbonizados. Não é boa política confirmar as mortes antes dos testes", recorda Agostinho Costa, que já viu nas palavras de Vladimir Putin um "elogio fúnebre" que é uma "confirmação tácita" de que Prigozhin estava mesmo naquele jato. Mas lá está: tácita.

O major-general Isidro de Morais Pereira concorda, lembrando à CNN Portugal que as declarações de Putin sobre Prigozhin, em que recorda o "amigo dos anos 1990" que "cometeu vários erros" foram feitas com os verbos no "passado". "Putin não confirmou explicitamente a morte mas implicitamente deu Prigozhin como morto." Mas lá está: implicitamente.

Prigozhin é difícil de matar mesmo quando já parece estar tácita e implicitamente morto.

"Vão surgir várias especulações"

isidro Morais Pereira militar assinala que os serviços secretos da Rússia deviam saber ao minuto o paradeiro de Prigozhin desde o momento da rebelião, pelo que seria muito fácil de confirmarem quase instantaneamente que ele ia mesmo a bordo do aparelho. "A lista de passageiros soube-se logo a seguir à queda do avião", acrescenta Agostinho Costa, ressalvando que "todas as dúvidas são legítimas e à volta de Prigozhin vão surgir várias especulações".

E essas especulações tornam-se mais intensas quando falamos do "homem dos mil disfarces", recorda Isidro de Morais Pereira, falando de um homem que até tem várias fotografias com identidades diferentes, algumas delas caricatas.

Apesar de a encenação da morte de Prigozhin beneficiar o líder do Grupo Wagner, que assim passaria a estar fora do radar do Kremlin, Isidro Morais Pereira não acredita que o presidente russo tirasse os mesmos benefícios, mesmo que publicamente aquela morte significasse o fim de um dos seus inimigos. Para já, Isidro de Morais Pereira cita o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e diz que "uma coisa é certa: muito pouco se passa na Rússia sem o conhecimento de Putin".  "Se Prigozhin está mesmo morto, há 100% de certezas? Não há, mas é altamente provável que sim", conclui o major-general.

De resto, as informações partilhadas pelos Estados Unidos e pelo Reino Unido vão no mesmo sentido de que pode estar morto - lá está, pode estar em vez de está mesmo.

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